IMN – MOÇAMBIQUE, 04 de Junho de 2022 – O distrito de Nangade, o maior produtor de castanha de cajú, na província de Cabo Delgado, é, nos últimos dias, o novo corredor de morte, praticamente controlado pelos terroristas, que a seu bel-prazer circulam até à cerca de cinco quilómetros da sede distrital.
Apenas no mês de Junho, os terroristas mataram por tiros e decapitação pessoas civis (elementos da população local), além de outras que terão sido raptadas nas suas incursões, nas aldeias de Rovuma, Mualela, Ngangolo, contra apenas sete terroristas abatidos pela chamada força local, no dia 19 de Junho.
Certificado de incompetência atribuído às forças da SADC
A população, segundo contou Rafael Santos (nome fictício), produtor de castanha de caju, ao “Integrity” em “Pemba” afirma que as forças pró-governo destacadas ao distrito de Nangade têm certificado de incompetência aos olhos da população.
“As tropas sobretudo, da SADC, nomeadamente tanzanianos e Lesotho, e essas nossas não estão a fazer nada” reclamou ele, para questionar “como é possível não agir após o ataque a uma aldeia, cinco quilómetros, no mesmo dia que o Chefe do Estado teve encontro com eles?”
Rafael Santos, que está em Pemba, para actualizar os seus documentos (bilhete de identidade), diz que a cada dia há novas mortes, de populares que tentaram buscar comida nas suas aldeias e sem querer acabam cruzando com os terroristas.
Apesar de muitas vezes, informadas, pela população e força locais, da ocorrência de um ataque, as forças da SADC, que no plano internacional, também, são consideradas menos activas que as de Ruanda, segundo um estudo recente e que foi lançado em Kigali, poucas vezes mostraram prontidão, ou então “vão até certo ponto dispararam, e voltam e ninguém acredita, porque dia seguinte, você houve que decapitaram ou capturaram mulheres em um certo ponto” acrescentou a fonte.
Outras fontes, incluindo funcionários públicos, também, consideram que Nangade é corredor de morte nos últimos dias. “Quase que não acaba o mês sem ouvir que atacaram uma viatura à caminho de Mueda, e é lá onde a gente busca o salário, uma vez que aqui o banco BCI ainda não está operacional, conta um professor da EPC de Nangade-sede”.
Contudo, a vida continua apertada e novos episódios terroristas se desdobram, deixando sem esperança a população local, que com a recente escalada do Chefe do Estado, Filipe Nyusi, esperava que a situação voltasse à normalidade, mas a realidade no terreno diz não, numa altura em que se fala de um suposto assalto neste mês a um quartel das FADM a poucos quilómetros de Nangade-sede.
Os ataques terroristas em Cabo Delgado, começaram na madrugada de 5 de Outubro de 2017 e afectaram 11 dos 17 distritos de Cabo Delgado. De lá para cá, os ataques continuam, mesmo com a presença das forças da SADC e do Ruanda que se juntaram às tropas moçambicanas.
As organizações humanitárias e de monitoria do conflito estimam que mais de 4 mil pessoas entre civis e militares, perderam a vida, mais de 800 mil estão deslocadas, além de vários desaparecidos. (Mussa Yussuf, em Pemba para IMN ).