IMN – MOÇAMBIQUE, 04 de Julho de 2022 – As armas em mãos alheias, segundo apurou “Integrity” contribuíram de forma significativa, para o banditismo que se vive nos últimos dias, no distrito de Ancuabe, em Cabo Delgado.
Um ex-garimpeiro em Ancuabe, hoje, a exercer comércio na cidade de Pemba, lembra que, a descoberta de minérios como Ouro e Rubi na zona de Maremano e Nacaca, localidade de Nanjua, Posto Administrativo de Meza, ataiu bastante a ocorrência de crimes hediondos naquele distrito.
Antes dos ataques terroristas, no distrito de Ancuabe, várias acções criminais tiveram bom terreno em diferentes comunidades, com destaque onde há maior circulação de dinheiro e ocorrência de mineração ilegal, como resultado das acções económicas da população, garimpeiros e outros actores.
As “gangs” que actuam no distrito de Ancuabe andam entre cinco a dez homens, alguns com catanas. Confirme contaram residentes daquele distrito. Por exemplo, ao longo deste ano, um agente económico que explora uma indústria de farinação de milho na aldeia Nanjua, foi vítima de uma acção de desconhecidos, assaltando na sua residência e os homens armados apoderaram-se de 300 mil meticais.
Num passado não distante, na mesma localidade, alguns estrangeiros que exploram uma loja local, foram assaltados e os malfeitores levaram 600 mil meticais. Estes até já não pernoitam em Nanjua, por motivos de segurança abandonam a região no final do dia de sua actividade comercial.
No dia 22 de Abril, mais de dez homens, assaltaram, na calada da noite, com tiroteio, a aldeia Ngura, ainda em Ancuabe, furtando bens em barracas informais locais e em casa de um comerciante local, roubaram, também, um cofre com avultadas somas de dinheiro e dez mil meticais na casa de um combatente da luta de libertação nacional.
Ainda na semana passada, na voz de Manuel Adolfo, Porta-voz da PRM, as autoridades em Cabo Delgado, anunciaram a detenção de dois indivíduos, acusados de simular ataques terroristas no distrito de Ancuabe, e no meio disso, supostamente, aproveitavam roubar bens da população. Na ocasião a polícia fez acreditar que havia outros, mas foragidos.
De onde vêm as armas usadas para crime no distrito de Ancuabe?
O trabalho investigavo do Integrity, apurou que as armas usadas no mundo de crime, no distrito de Ancuabe, são emprestadas por alguns militares do centro de instrução básica militar de Macarara, ligados ao mundo do crime, em troca de dinheiro ou divisão de bens.
Outras armas, são de agentes da Polícia da República de Moçambique, também, associados a esquemas de gatunagem. No dia 26 de Junho, só para lembrar, o porta-voz da PRM em Cabo Delgado, Mário Adolfo, admitiu em público o envolvimento directo de um agente em acções criminais, no distrito de Balama, cuja arma na sua posse era usada para assaltos a estabelecimentos comerciais naquele distrito e no vizinho de Namuno.
Sabe-se, também, que há pelas matas, muitas armas e munições abandonadas por militares que depois de ataques terroristas, despiram a farda e com a população puseram-se em fuga. Essas armas ninguém voltou para recuperar.
Os ataques terroristas em Cabo Delgado, começaram na madrugada de 5 de Outubro de 2017 e afectaram 11 dos 17 distritos de Cabo Delgado. De lá para cá, os ataques continuam, mesmo com a presença das forças da SADC e do Ruanda que se juntaram às tropas moçambicanas.
As organizações humanitárias e de monitoria do conflito estimam que mais de 4 mil pessoas entre civis e militares, perderam a vida, mais de 800 mil estão deslocadas, além de vários desaparecidos. (Mussa Yussuf, em Pemba para IMN).