IMN – MOÇAMBIQUE, 01 de Julho de 2022 – O tecido social do distrito de Ancuabe, na Província de Cabo Delgado que há meses atrás teria recebido considerável número de deslocados dos ataques do grupo al Shabab em Cabo Delgado, está praticamente destruído. Os ataques “shabab ‘s” que começaram a 5 de Junho findo, além de miséria, desgraça e luto, deitaram abaixo os esforços de quem lutava para o desenvolvimento da região. Hoje Ancuabe, está desolada e desgraçada, a maior parte dos serviços públicos encerrados ou abandonados, aldeias vazias e casas fechadas outras em cinzas é o que pode descrever, actualmente, aquele distrito que possui grafite, um dos jazigos mais apreciados no mundo. Essas famílias, na cidade de Pemba, por exemplo, nem todas encontraram melhores condições, muitas delas dormem no chão, apenas sobre uma capulana, lonas e outros em camas, mas pendurados na varanda ou mesmo no quintal sob situações de frio e às vezes expostos a aguaceiros. Para avaliar a dimensão da destruição, basta reparar que além da presença pessoal do Chefe do Estado, Filipe Nhusy é o esforço do Governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, que em menos de um mês escalou Ancuabe, por três vezes, sendo que uma delas, até orientou a XI sessão do Governo Provincial. Situação no cruzamento de Sunate (Silva-Macua) Aqui fica um o cruzamento mais importante para acesso à zona centro e norte da província de Cabo Delgado e até à Tanzânia, através da EN380. Juma Matano, deslocado de Mucojo, distrito de Macomia, que chegou a ser dos poucos que ficaram, diz que “aqui meu irmão, vale pena agora, mas quando atacaram Grafex e mataram duas pessoas daqui isso tudo estava vazio, ali no mercado não havia sequer um vendedor, toda gente estava preocupada em sair e saíram, por aqui nem escola, nem professor” contou. Tal como Nanduli, a primeira aldeia de Ancuabe a ser atacada, a situação em Nanjua, onde tem o centro de deslocados de Marocane, Nacololo, Ntutupue, Impire e outras comunidades, também, registaram os maiores deslocamentos populares jamais vistos. Porque fugir antes da aldeia ser atacada? Muanarabo Abdremane, até então residente em Nangumi, diz que há vários motivos para a população abandonar as suas aldeias. Segundo explicaram os entrevistados ao Integrity, uma das primeiras a abandonar o distrito foi a administradora, Lúcia Namashulua e mais tarde os seus Directores e seguiram os funcionários e agentes do Estado, “foi por isso que nós também saímos”. Sabe-se que aquando do ataque a Nanduli, a administradora de Ancuabe, teria abandonado a residência oficial e refugiou-se no Meteoro-sede e foi ordenado pelos seus superiores a regressar. Acredita-se que voltou a fazer de novo com o aumento dos ataques, talvez seja, um dos motivos do Governador Valige Tauabo ir com frequência ao distrito de Ancuabe, como especulam algumas pessoas. Aponta-se ainda que o medo face aos relatos de famílias deslocadas, que narram histórias de muita crueldade por parte dos Alshababs e da pouca confiança que têm das forças de defesa e segurança moçambicanas. Refira-se que a sede do posto administrativo de Metoro, foi um dos locais onde parte das pessoas refugiou-se e, mais tarde, seguiu para outros locais, incluindo o regresso à Ancuabe sede. Os ataques terroristas em Cabo Delgado, começaram na madrugada de 5 de Outubro de 2017 e afectaram 11 dos 17 distritos de Cabo Delgado. De lá para cá, os ataques continuam, mesmo com a presença das forças da SADC e do Ruanda que se juntaram às tropas moçambicanas. As organizações humanitárias e de monitoria do conflito estimam que mais de 4 mil pessoas perderam a vida, mais de 800 mil estão deslocadas, além de vários desaparecidos. (Mussa Yussuf, em Pemba para IMN) |