Escrito por: René Moutinho, M.Sc.* [email protected]
Como uma novela ou uma estória de ficção, os episódios e capítulos dos próximos pleitos eleitorais estão lentamente se desenrolando na voz misteriosa de um narrador que não tem pressa, mesmo sabendo que o tempo se apressa e o leitor o pressiona. Por sua vez, os personagens – os partidos políticos, seus dirigentes, membros, o eleitorado e a sociedade em geral – também seguem o enredo, acompanhando o lento ritmo do narrador, que, indiferente a tudo e a todos, resiste à pressa e à pressão do tempo.
Mas mais impaciente que o tempo estou eu. Por isso, resolvo ignorar o narrador e salto as páginas. Vou directamente às páginas do desenlace – o clímax da estória, o ponto de confronto, ou, pelo menos, muito próximo disso. Estou em 2026-27, 28 e 29. E o que vejo são visões, previsões e profecias dignas de oráculos gregos, profetas cristãos e de entidades mágicas africanas. No entanto, nada me surpreende. A coreografia que se dança nestas páginas eu vi sendo preparada no Prefácio e na Introdução deste longo livro. Por isso o que vou partilhar aqui não é uma Revelação. Nem é uma novidade. É pura previsão.
- MDM: A Estática da Estrela outrora em ascensão e o seu Destino Incerto
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) encontra-se estacionário, confinado à Cidade da Beira. Na verdade, o Partido nunca se recuperou da perda do seu líder fundador, Daviz Simango, e na sua sucessão pelo seu irmão, Lutero Simango, o Partido passou a impressão de uma sucessão mais administrativa do que política. Porém o legado do MDM é, paradoxalmente, o de ter catapultado figuras hoje proeminentes na oposição, como Manuel de Araújo, Edil de Quelimane, e Venâncio Mondlane, o segundo candidato mais votado nas Presidenciais de 2024 e agora Presidente do recém-criado Partido, ANAMOLA.
Sem uma liderança carismática e enfraquecido após os últimos pleitos autárquicos e gerais, a profecia é clara: a arca de salvação do MDM será procurar fixar-se na Cidade da Beira, onde Carige busca milimetricamente incorporar em si a personalidade administrativa e política de Simango. Assim, o futuro do MDM será o de uma “lua do ANAMOLA”, uma espécie de “estado satélite” ou “parceiro contextual” – uma necessidade compreensível para sobreviver ao vendaval político que se aproxima. A alternativa a esta premonição seria arriscar uma curva de 180 graus, o que preservaria a sua autonomia, mas elevaria os seus riscos ao máximo. O que fará, então, o MDM? Só os próximos anos nos mostrarão com certeza.
- RENAMO: O Rugido que Precisa Renascer
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que sempre esteve nas cercanias do poder, está agora a anos-luz dele. O Partido não pode mais continuar a lamber as feridas de uma guerra interna que poderia ter sido evitada. Assim, para se reerguer, a RENAMO terá de se levantar, sacudir a poeira, transcrever as assessorias gratuitas dos principais “analistas da praça” e agir. Nos anos 2026-27, 28 e 29, o meu livro profético não mostra Ossufo Momade na dianteira do Partido. A RENAMO perceberá, pois, que trocar membros e simpatizantes por “um líder só de nome” é uma escolha infeliz. O próprio líder compreenderá que ser “líder só de nome” não mobiliza massas. Aqui, vale aquele ditado “Não é você se querer, é preciso ser querido”.
Por isso, a RENAMO procurará um líder à altura das exigências do eleitorado perdido e, diferentemente do MDM, o Partido tem chances de resgatar a sua história e parte do seu eleitorado. Vejo uma RENAMO de 2026-2029 mais organizada e ciente dos seus erros. Um Partido que, finalmente, compreendeu que o povo é soberano e é nele que reside o poder. Saberá a RENAMO que na política nada é garantido; que as bases podem fugir dos pés e deixar líderes e partidos inteiros suspensos. No entanto, os mágicos africanos sussurram-me que, motivada pela vingança e por alianças do momento, a RENAMO poderá ser seduzida a unir forças para impedir que o ANAMOLA tenha ganhos políticos. É uma estratégia compreensível e ocasional, afinal, “um inimigo que tem mais de um inimigo sofre atentados múltiplos”.
III. ANAMOLA e PODEMOS: A Promiscuidade Ideológica e (Re)aproximação
O ANAMOLA, embora hoje não o pareça, focar-se-á, na proximidade das eleições, em desacreditar o PODEMOS. Essa separação de águas é urgente, pois a não explicação clara de que “ANAMOLA não é PODEMOS” pode ser um cancro para o ANAMOLA, sobretudo porque o seu Presidente concorreu à Presidência apoiado pelo PODEMOS. A novela que leio, nos capítulos próximos ao clímax, mostrará um ANAMOLA muito preocupado em distanciar-se do PODEMOS e um PODEMOS a tentar fazer-se confundir com o ANAMOLA. Em política, tudo é estratégia e, para ganhar votos, vale tudo. Além disso, o oráculo conta-me que, nos próximos anos, alguns membros do PODEMOS, incluindo os que se sentam na Assembleia, tentarão (tal Nicodemos) (re)aproximar-se de Venâncio Mondlane e do seu núcleo duro para não perderem os seus assentos na próxima legislatura, arriscando-se, assim, a mudar de ala.
Assistiremos, destarte, a um vaivém de membros seniores entre estes dois Partidos, numa autêntica promiscuidade político-partidária, uma miscigenação ideológica, com intuitos pouco claros. Enfim, a experiência que os quadros do ANAMOLA tiveram no PODEMOS fará com que vejamos, nos próximos pleitos eleitorais, um ANAMOLA mais ousado, confiante e astuto, servindo-se do alto valor da experiência colhida para perseguir seus intentos partidários. E o “xis” da questão que os oráculos não resolveram é: poderemos ver, de forma inesperada, uma coligação PODEMOS – ANAMOLA?
- O Jogo de Sedução do ANAMOLA e um Eleitorado Confuso
No entanto, enquanto se esquiva do PODEMOS, mas procura buscar membros nesse mesmo Partido, veremos um ANAMOLA piscando, irresistivelmente, o olho ao MDM. E será difícil ao MDM não se deixar seduzir pelos assobios do ANAMOLA. As promessas serão opulentas: prometer-se-á o céu e a terra e, para alguém que pode perder o chão, o céu é um destino de luxo.
Já a sociedade moçambicana, esta estará muito confusa. Serão tantos pratos no cardápio, tantas escolhas com sabores próximos, tantas cores nesse arco-íris, que a disputa nos próximos pleitos fará com que muitos eleitores fiquem cegos, e, às escuras, tactearão e escolherão os seus pratos. Mesmo essa tal “juventude exigente, impaciente e do século XXI” também corre o risco de se atrapalhar, pois todos falarão a “linguagem dos jovens”. Por conseguinte, será normal ver, nas mesmas faixas etárias, preferências de votos divergentes.
CONCLUSÃO: A INCÓGNITA DO PRÓXIMO PASSO DA COREOGRAFIA E O ROSTO DO MAESTRO
A coreografia do próximo acto eleitoral em Moçambique será de tudo, menos do que já foi. As alianças e os embates não se resumirão aos clássicos confrontos ideológicos, mas a movimentos táticos de sobrevivência, vingança política e busca por assentos e influência. Haverá outros “players políticos” nesse salão de valsa; e um maestro finalmente apresentar-se-á ao público eleitor sem a máscara que hoje o encobre. Enfim, o MDM, sem o seu líder carismático, poderá aceitar um papel passivo na Beira, procurando, assim, manter aquela importante urbe, embora a garantia disto não seja total. Em política nada é certo. A RENAMO, por sua vez, enfrentará o desafio de uma regeneração interna dolorosa, buscando um rugido autêntico para além do dos “leões de papel”. O partido ANAMOLA, por sua vez, terá o trabalho duplo de se consolidar como uma força alternativa enquanto se descola de um aliado recente (ou a ele se une) e, simultaneamente, seduz um parceiro em queda.
O apito soou mais cedo, a música já ecoa no salão, mas o desenlace da estória ainda está por se escrever na urna. Só o poder e a soberania do povo é que ditarão o clímax desta novela futurista. A única certeza nisto tudo é a incerteza e a complexidade que moldarão as vitórias e as derrotas em 2028 e 2029.
Até lá!
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*Licenciado em Ensino de Língua Portuguesa
Mestre em Desenvolvimento Humano e Educação






