O motorista distraído, certamente fã de conversas longas com o telefone, foi a vítima perfeita. Ali, no trânsito morno da tarde, falava, falava… e esquecia-se de que o mundo real ainda tem bandidos. E eis que surge a estrela do dia: o motoqueiro, figura saída de qualquer blockbuster barato, mas com talento digno de Óscar.
Com a graça de um mágico, estendeu a mão e… puf! O telemóvel desapareceu, levado pelo vento da impunidade. Um truque de ilusionismo que faria qualquer mágico europeu engolir a varinha. Mas este não é o Cirque du Soleil, é Machava, é KM 15, e o palco é o asfalto.
A moto? Um relâmpago negro a rasgar becos como se fosse deus menor da velocidade. O ladrão? Um espírito livre, ou talvez apenas alguém que leu demasiados quadrinhos. A vítima? Presa da própria distracção, a olhar para as mãos vazias, tentando entender se havia sido um sonho ou se a vida, mesmo aqui, decidiu dar-lhe uma lição de humildade digital.
E a ironia? Ah, a deliciosa ironia: o telemóvel roubado estava cheio de selfies, de conversas irrelevantes, de mensagens de WhatsApp que não mudariam a história do mundo. Mas ali, naquele instante, era ouro. Era a glória momentânea de um mestre da furtividade, cujo currículo inclui “esticar a mão com elegância e desaparecer no horizonte”.
Machava KM 15 nunca mais será a mesma. Haverá sempre o sussurro: “Cuidado com o Fantasma de Uma Mão Leve”. E nós, pobres mortais, que pensamos que o pior que nos poderia acontecer numa conversa ao telemóvel era um “visto por último às 16:42”, aprendemos a lição: não fale enquanto conduz, ou arrisque-se a ser protagonista de um filme que ninguém quer ver.
No fim, o motoqueiro levou o telemóvel, mas deixou-nos a todos um presente: a certeza de que, às vezes, a vida prefere os efeitos especiais aos finais felizes. (Milda Langa)






