Motoristas de “transportes públicos de passageiros” recusam transportar jovem cadeirante em Maputo

Um caso de discriminação contra uma pessoa com deficiência foi denunciado publicamente nas redes sociais por um cidadão identificado como Simões António José, que relatou ter testemunhado um episódio revoltante na tarde de quinta-feira, 10 de Outubro de 2025, na Avenida 24 de Julho, em Maputo.

INTEGRITY,  MAPUTO,  11 DE OUTUBRO DE 2025 – Segundo o relato publicado por Simões António José no Facebook, por volta das 13h, ao passar em frente ao Ministério do Trabalho, avistou um jovem cadeirante a tentar pôr em movimento a sua carrinha em más condições. Sensibilizado com a situação, o denunciante decidiu ajudar o jovem, empurrando o veículo até à conhecida paragem da Guerra Popular (Entreposto), onde o mesmo pretendia apanhar transporte para o distrito de Boane.

Contudo, ao chegarem à paragem, o gesto solidário de Simões António deu lugar a uma profunda indignação. Dois autocarros de transporte semi-colectivo, ambos com destino a Boane, recusaram transportar o jovem cadeirante, alegando que a sua carrinha ocuparia demasiado espaço.

“No primeiro autocarro, com chapa de matrícula AIH 998 MC, o motorista e o cobrador recusaram-se a levar o jovem devido à sua condição física. Fiquei chocado”, escreveu o denunciante, acrescentando ter registado o momento em fotografias.

O segundo autocarro, identificado pela matrícula AIH 970 MC, repetiu o mesmo comportamento. Simões António tentou dialogar com os transportadores, mas foi surpreendido pela atitude hostil do motorista.

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“A ignorância, prepotência e burrice do motorista foram de assustar ao Satanás. Disse ele que não temeria alguma coisa porque o autocarro pertence a ‘gente grande’, daí que um vídeozito não lhe tiraria o sono”, denunciou.

O cidadão relatou ainda que tentou contactar um amigo vereador no Conselho Municipal de Boane, sem sucesso. Ele apela às autoridades competentes e à sociedade em geral para não deixarem o caso impune, sublinhando que todos os cidadãos, independentemente da sua condição física, têm direitos garantidos pela Constituição da República de Moçambique.

“É absurdo! Todo cidadão tem os seus direitos plasmados na Constituição. Ninguém deve violar direitos de outrem e ficar impune”, escreveu o denunciante, apelando à partilha da publicação para “chegar a quem de direito”.

Este caso expõe, mais uma vez, a dura realidade que as pessoas com deficiência enfrentam diariamente em Moçambique: a falta de acessibilidade e sensibilidade nos transportes públicos. Enquanto se multiplicam discursos sobre inclusão e igualdade, na prática, o país continua a falhar no respeito pelos direitos fundamentais destes cidadãos. Não é apenas uma questão de transporte, é uma questão de dignidade humana e cada recusa, cada gesto de desprezo, é um lembrete doloroso de que ainda estamos longe de ser uma sociedade verdadeiramente inclusiva. – ONÉLIO DUARTE 

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