O protagonista é um certo Pregador da Eternidade de batina partidária e língua afiada que, em plena praça pública, decidiu misturar Bíblia com boletim eleitoral. O homem, de nome Henriques Naweka, o Apóstolo do Poder, declarou que o partido só sairá do trono quando Jesus Cristo ressuscitar. Eis que o primeiro milagre foi de transformar política em missa campal.
Do outro lado da procissão, entrou em cena o bombeiro oficial, Francisco Apaga-Fogos Mucanheia, membro da comissão política. Com cara de quem acabou de engolir piripiri cru, tratou de esclarecer: Calma, camaradas, aquilo não é posição oficial do partido. O que significa que, o Apóstolo falou demais, esqueçam o sermão.
Mas as palavras já estavam soltas, como confete de carnaval. E, convenhamos, quando um político promete eternidade, não sabemos se rimos, ou se choramos, ou se pedimos a senha ou chaves do céu.
No fim, a multidão ficou dividida, onde uns gargalhavam, outros rezavam, e os mais cépticos perguntavam se a nova sede do partido já incluía altar, água benta e hóstia nos comícios.
Enquanto isso, o povo continua fiel a outra religião, a de sobreviver com salário que evapora antes do fim do mês, a de esperar transporte que nunca chega, a de pedir justiça que raramente atende.
Porque, sejamos claros, não é Jesus quem precisa ressuscitar para mudar as coisas. É uma vergonha. (Milda Langa)






