Trocas de olhares, partilhas de slides, um almoço dividido entre arroz seco e conversas doces. No fim, ela deu-me o número dela e disse: “Podes mandar mensagem quando quiseres.” Mandei naquela noite. Respondeu no dia seguinte com um áudio de sete segundos: “Olá, desculpa, estava ocupada.”
Namorar no Maputo de hoje não é como antigamente. Agora o amor vem com pacotes. Literalmente. Se não tens saldo ou pacotes, não tens acesso. Amor precisa de dados móveis e de um bom cash flow.
Dois dias depois, ela perguntou: “Será que podes mandar 100, estou sem megas.” Mandei. Era amor, né? Uma semana depois, pediu 200 para “fazer unhas”. Disse que ia passar na minha casa depois. Ainda estou à espera.
No dia do meu aniversário, mandei mensagem às 6h00. “Hoje é meu dia .” Ela visualizou. Não respondeu. Às 18h00, perguntou: “Tens como mandar 250? Esqueci de te dar parabéns, desculpa.” Mandei. Não pelo parabéns, mas porque… ainda gostava dela.
Comecei a perceber que nosso amor era um sistema de transferência. Quando eu carregava, ela aparecia. Quando não, ficava offline. Decidi fazer um teste: deixei o telemóvel dois dias sem saldo. Nem “bom dia”, nem “Kkkk”.
No terceiro dia, liguei do número da minha mãe. Atendeu logo: “Amor, estavas sumido.” Desliguei. Ri. Chorei. Aprendi.
O amor moderno cobra. Cobra tempo, atenção, e às vezes, transacções via M-Pesa. Mas também ensina. Ensina a distinguir afeto de conveniência. Carinho de consumo.
Hoje, estou bem. Recarrego só a alma. E se quiseres falar comigo, vem sem pedir nada.
Porque até para amar, é preciso resistência.
*Eu posso. Fim da história. *
LINO EUSTÁQUIO






