Sua Excelência, Senhor Presidente da República,
Daniel Francisco Chapo
Espero que esta mensagem o encontre em pleno gozo de boa saúde e discernimento, num momento em que inicia uma missão de elevada responsabilidade para com o povo moçambicano.
Permita-me ir directo ao ponto. O motivo desta carta é, acima de tudo, um apelo sincero e patriótico para que a sua conhecida frase “Vamos Trabalhar” não se resuma a um slogan de campanha ou uma expressão de efeito nos discursos protocolares (o povo já não é o mesmo). Que essa frase se transforme num compromisso real, firme e visível com as prioridades nacionais e as aspirações mais profundas da população moçambicana.
Senhor Presidente, a paz continua a ser um bem precioso e ainda frágil em algumas regiões do país. Desde a madrugada de 5 de Outubro de 2017, Cabo Delgado tem sido palco de violência armada, destruição e deslocamento de milhares de moçambicanos inocentes. Neste momento que lê esta mensagem, há centenas de moçambicanos a deixarem tudo para trás, por conta da situação.
Neste novo ciclo de governação, espera-se que “vamos trabalhar” signifique também trabalhar por uma solução definitiva para o terrorismo. Que seja feito um reforço das capacidades do Estado, da inteligência nacional, da cooperação internacional e da reintegração das populações afectadas, devolvendo dignidade, segurança e esperança às famílias deslocadas.
Mas a paz só será completa se vier acompanhada de desenvolvimento social e económico inclusivo. Por isso, é urgente que o seu mandato priorize:
• A agricultura familiar e sustentável, com investimentos sérios na cadeia de produção, acesso a insumos, mercados, formação e crédito agrícola;
• A saúde pública, com hospitais funcionais, medicamentos disponíveis, condições de trabalho dignas para os profissionais e atenção especial à saúde materno-infantil;
• A educação de qualidade, valorizando os professores, melhorando as infraestruturas escolares, garantindo materiais didácticos e protegendo os estudantes do assédio, abuso e abandono escolar;
• A juventude, com oportunidades reais de emprego, formação técnica e empreendedorismo, para evitar que milhares continuem condenados à marginalização ou à emigração forçada;
• O combate firme e transparente à corrupção, que corrói o tecido social e económico do país, desvia recursos públicos e destrói a confiança nas instituições;
• A cultura, o turismo e as indústrias criativas, como fontes sustentáveis de emprego e promoção da identidade nacional;
• O meio ambiente, incluindo o ordenamento urbano, a gestão de resíduos, a protecção das florestas e o acesso à água potável;
• A reforma da Justiça, para que o acesso à justiça não seja um privilégio de poucos, mas um direito de todos;
• E, claro, a melhoria da qualidade das infraestruturas estradas, transportes públicos, telecomunicações que continuam a dificultar o desenvolvimento regional e a mobilidade dos cidadãos.
Reconheço com apreço as medidas iniciais tomadas nos primeiros dias da sua governação, como a redução das taxas de portagem, a revisão dos preços dos combustíveis, e o tom mais próximo das comunidades nos seus discursos e visitas. São sinais que devem ser consolidados e ampliados.
Contudo, é preciso mais. O povo moçambicano quer resultados, não apenas intenções. Quer trabalho concreto, não só promessas. Quer ver, no dia-a-dia, a materialização do “vamos trabalhar” em estradas transitáveis, escolas com carteiras, hospitais com pessoal e medicamentos, jovens com oportunidades, mulheres com dignidade e crianças com futuro.
Senhor Presidente, faça do seu mandato um tempo de viragem. Que não fique na história como mais uma liderança que prometeu, mas como uma que cumpriu. O povo está atento. A história também.
Com respeito patriótico,
ONÉLIO DUARTE, Jornalista e cidadão moçambicano atento







