Terça-feira, Julho 15, 2025
  • Sobre Nós
  • VAGAS DE EMPREGO
Integrity Magazine
No Result
View All Result
26 °c
Maputo
  • Home
  • Analise Global
    • Contemporaneidade Africana
    • Saúde da Macroeconomia
  • Economia e Investimentos
    • Mercados
    • Importação e Exportação
    • Hotelaria e Turismo
    • Petróleo e Gás
  • Dossiers Integrity
    • Grande Entrevista
    • Investigação Integrity
    • Guerra
    • Indústria Extrativa
    • O Gatilho da história
    • Direitos Humanos
    • A Rota da Criminalidade Organizada
    • Terrorismo
  • Política e Sociedade
    • Breves
    • Saúde e Educação
    • Ciência e Tecnologia
    • Internacional
    • Cultura
Integrity Magazine
  • Home
  • Analise Global
    • Contemporaneidade Africana
    • Saúde da Macroeconomia
  • Economia e Investimentos
    • Mercados
    • Importação e Exportação
    • Hotelaria e Turismo
    • Petróleo e Gás
  • Dossiers Integrity
    • Grande Entrevista
    • Investigação Integrity
    • Guerra
    • Indústria Extrativa
    • O Gatilho da história
    • Direitos Humanos
    • A Rota da Criminalidade Organizada
    • Terrorismo
  • Política e Sociedade
    • Breves
    • Saúde e Educação
    • Ciência e Tecnologia
    • Internacional
    • Cultura
No Result
View All Result
Integrity Magazine
No Result
View All Result
Home Integrity Reflexões O caldeirão do escriba

Nos Meandros do Feitiço: Uma ressignificação da memória colectiva

A literatura moçambicana tem vindo a afirmar-se como um campo de ressignificação da memória colectiva, da oralidade ancestral e das tensões sociais que atravessam o país, desde os tempos coloniais até à contemporaneidade.

28 de Junho, 2025
em O caldeirão do escriba
Reading Time: 4 mins read
A A
0
Nos Meandros do Feitiço: Uma ressignificação da memória colectiva
CompartilharCompartilhar

No centro desta produção multifacetada, a obra Nos Meandros do Feitiço, da autoria de Geraldo Macalane, inscreve-se como um contributo singular à literatura de matriz africana, evocando, com rara densidade poética e narrativa, os elementos fundadores da cosmovisão bantu, o imaginário do feitiço e os conflitos éticos, políticos e espirituais que moldam a vida das comunidades.

Situada numa vila ficcional de Laine, mas profundamente enraizada em geografias e práticas socioculturais reconhecíveis do norte de Moçambique, a narrativa transporta-nos para um universo onde o real e o fantástico coexistem de forma orgânica. Macalane revela-se exímio na arte de conduzir o leitor pelos labirintos do invisível, onde o feitiço — entendido aqui não apenas como prática esotérica, mas como categoria social e simbólica — opera como força desestabilizadora e, simultaneamente, como catalisador de processos de regeneração.

Ao longo da obra, emergem personagens emblemáticas como o régulo Njiwa, símbolo da autoridade tradicional, Abiti Welo, figura matriarcal resiliente, e Kaundula, uma entidade mítica que rompe as fronteiras do tempo e do espaço para confrontar o mal enraizado nas práticas de feitiçaria e no silêncio cúmplice da comunidade. O episódio central da narrativa — o desaparecimento de Mwema — ultrapassa o registo do drama pessoal para se afirmar como metáfora de uma comunidade em busca de purificação, justiça e reencontro com os seus fundamentos éticos.

RelatedPosts

O País só mudou da colônia

O País cometeu o erro colossal de parar com as manifestações

14 de Julho, 2025
Os escritores precisam da AEMO?

Os escritores precisam da AEMO?

12 de Julho, 2025
Publicidade Publicidade Publicidade

Nos Meandros do Feitiço adopta, assim, uma estrutura narrativa marcada por uma circularidade e por uma forte presença do narrador tradicional — quase um griot — que, ao convocar o leitor para “contar essa história”, estabelece uma ponte entre a literatura oral e a escrita, entre o passado mítico e o presente concreto. Neste sentido, a obra dialoga com uma tradição literária moçambicana já consolidada por autores como Carlos Paradona Rufino Roque, Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane, Mia Couto, entre outros, ao mesmo tempo que inaugura uma voz própria, marcada por uma linguagem acessível, visceral e ritmada, com forte presença de expressões locais e evocação de cenários familiares ao universo cultural da região do Lago-Niassa.

No plano temático, o texto levanta questões centrais como o papel da superstição na perpetuação da violência estrutural, a impotência das lideranças tradicionais diante das forças do oculto, o lugar da mulher como sujeito sacrificial e como guardiã da memória e da moralidade e a fragilidade das comunidades face às perturbações do tecido social e espiritual. Tais questões são tratadas com profundidade e maturidade narrativa, revelando não apenas um conhecimento apurado da realidade moçambicana, mas também uma consciência crítica do papel transformador da literatura.

ADVERTISEMENT

Além disso, a obra é rica em simbologias: o rio Lunho surge como eixo narrativo e simbólico — espaço de passagem, de vida e de morte; o bambu giratório que anuncia a chegada de Kaundula evoca os sinais proféticos e os limites da razão; as noites de abstinência sexual imposta revelam o poder dos interditos e a tensão entre o desejo individual e o bem colectivo. Esta dimensão simbólica insere a obra no campo do realismo mágico africano, onde os elementos sobrenaturais não rompem a lógica interna do mundo narrado, mas antes a ampliam.

Importa destacar, ainda, a escrita de Macalane como um gesto de resistência cultural. Ao recuperar, recriar e valorizar práticas linguísticas, expressões culturais e formas de convivência comunitária moçambicanas, o autor contribui para a valorização da literatura nacional enquanto espaço de afirmação identitária, de crítica social e de invenção poética. Ao mesmo tempo, o texto convoca o leitor para uma reflexão sobre a actualidade dos dilemas abordados — a justiça social, os direitos das mulheres, a impunidade, os silêncios cúmplices e o medo —, conferindo à narrativa um carácter universal.

A leitura de Nos Meandros do Feitiço não se presta a um consumo passivo. Ao contrário, exige do leitor envolvimento emocional, escuta sensível e disponibilidade para percorrer territórios onde o lógico e o ilógico se cruzam. Mais do que uma obra de ficção, este texto constitui um ritual literário: convida à escuta dos mortos, à confissão dos vivos e à reconstrução de sentidos em tempos de crise.

Por tudo isso, esta obra deve ser acolhida como um importante marco da nova produção literária moçambicana, que, sem se fechar aos legados do passado, projecta-se para o futuro com audácia estética, consciência crítica e profundidade simbólica. Ao autor, Geraldo Luís Macalane, cabe o mérito de ter concebido uma narrativa que, simultaneamente, encanta, interroga e transforma.

Oxalá esta obra encontre muitos leitores — sobretudo moçambicanos — que nela reconheçam os ecos das suas inquietações, os contornos das suas memórias e a força do seu imaginário colectivo. Afinal, há histórias que não mais se podem calar. E esta, sem dúvida, é uma delas.

 

Gerson Pagarache

Linguista e Revisor

 

Tags: ColectivaFeiticariaGeraldo MacalaneRessignificar
ShareTweetShareSendShareSend

Related Posts

O País só mudou da colônia
O caldeirão do escriba

O País cometeu o erro colossal de parar com as manifestações

14 de Julho, 2025
Os escritores precisam da AEMO?
O caldeirão do escriba

Os escritores precisam da AEMO?

12 de Julho, 2025
Os badalados primeiros cem (100) dias de governação
O caldeirão do escriba

VOCÊ FOI FERIDO NA GUERRA?

12 de Julho, 2025
Entre o dedo acusador e o telhado de vidro: a incoerência de Aurélio Furdela
O caldeirão do escriba

Entre o dedo acusador e o telhado de vidro: a incoerência de Aurélio Furdela

11 de Julho, 2025

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

No Result
View All Result
INTEGRITY – MOÇAMBIQUE, 14 de Julho de 2025.

74ª Edição: Assine já e tenha acesso, semanal e mensalmente, a um serviço de informação criterioso, atemporal, feito com rigor, qualidade e integridade.

Como ser Assinante?
Contacte-nos já através de: [email protected] / (+258) 84 7990765/ 82 272 5657, ou adquira a sua cópia em PDF na versão electrónica, através do M-Pesa ‪(+258) 84 7990765‬ e Emola ‪(+258) 874968744‬, Por apenas 60 Meticais e receba no seu E-mail ou no WhatsApp mediante a confirmação de transferência.
  • Sobre Nós
  • Ficha Técnica
  • VAGAS DE EMPREGO

© 2022 Integrity Magazine - Todos direitos reservados | Desenvolvido pela Videncial.

Welcome Back!

Login to your account below

Forgotten Password?

Retrieve your password

Please enter your username or email address to reset your password.

Log In
No Result
View All Result
  • Home
  • Analise Global
    • Contemporaneidade Africana
    • Saúde da Macroeconomia
  • Economia e Investimentos
    • Mercados
    • Importação e Exportação
    • Hotelaria e Turismo
    • Petróleo e Gás
  • Dossiers Integrity
    • Grande Entrevista
    • Investigação Integrity
    • Guerra
    • Indústria Extrativa
    • O Gatilho da história
    • Direitos Humanos
    • A Rota da Criminalidade Organizada
    • Terrorismo
  • Política e Sociedade
    • Breves
    • Saúde e Educação
    • Ciência e Tecnologia
    • Internacional
    • Cultura

© 2022 Integrity Magazine - Todos direitos reservados | Desenvolvido pela Videncial.

Go to mobile version