Segundo o administrador distrital de Macomia, Tomás Badai, o retorno das populações foi possível graças à actuação conjunta das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), da Força Local e do contingente militar do Ruanda, cuja presença tem sido decisiva na expulsão dos grupos insurgentes que desde 2017 devastam a região.
“O ambiente é estável, a população está circulando livremente, a produzir, e a segurança está controlada”, garantiu Badai, sublinhando que as comunidades retomam actividades agrícolas e de subsistência.
Apesar do tom optimista das autoridades, persistem incertezas quanto à sustentabilidade do regresso. Muitas áreas permanecem sem infraestruturas básicas, e há denúncias de ausência de serviços públicos essenciais, como saúde, educação e apoio psicológico para os sobreviventes da violência. Organizações da sociedade civil insistem que o simples retorno físico não significa reintegração plena nem segurança duradoura.
Além disso, analistas questionam a dependência prolongada da ajuda militar estrangeira, sobretudo do Ruanda, numa altura em que o país ainda não apresentou um plano claro de segurança e desenvolvimento a longo prazo para a região.
O conflito em Cabo Delgado começou em Outubro de 2017, quando grupos armados atacaram Mocímboa da Praia. A insurgência, protagonizada pelo grupo localmente conhecido como Al-Shabab (sem ligação ao homónimo da Somália), foi mais tarde reivindicada pelo Estado Islâmico (ISIS-Moçambique). O pano de fundo inclui factores como pobreza extrema, exclusão social, desigualdades no acesso aos recursos naturais e a fragilidade do Estado nas zonas rurais.
Desde então, o conflito já causou milhares de mortes e forçou mais de um milhão de deslocados internos. Em 2021, a situação humanitária e de segurança agravou-se a tal ponto que o governo moçambicano solicitou apoio militar regional e internacional, dando início à presença das tropas da SADC e do Ruanda.
Enquanto o governo destaca os avanços obtidos, a paz definitiva em Cabo Delgado dependerá menos das armas e mais da resposta às causas profundas da revolta. Sem emprego, educação e oportunidades reais, o risco de novos surtos de violência continua a assombrar o futuro da província. (Nando Mabica)