A operação, que destruiu centros-chave como Fordow, Natanz e Estefan, não é apenas uma demonstração de força militar, mas uma declaração inequívoca sobre os limites da tolerância americana à proliferação nuclear.
Durante mais de uma década, as potências ocidentais investiram em negociações com o Irão, com foco no Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA). A ação militar americana sinaliza o abandono definitivo da via diplomática, pelo menos sob a liderança de Donald Trump. Ao afirmar que busca uma “vitória total” e não um cessar-fogo, Trump estabelece uma nova doutrina: a contenção através da destruição preventiva.
A central de Fordow era considerada a mais segura e simbólica do programa nuclear iraniano — localizada em profundidade, protegida por camadas de betão e construída para resistir a ataques convencionais. A sua destruição, mediante bombas bunker buster e mísseis de longo alcance, revela o grau de sofisticação militar norte-americano, mas também expõe a vulnerabilidade do Irão, mesmo em seus activos mais protegidos.
Apesar da ausência explícita de Israel na ofensiva, o impacto da operação beneficia directamente a política israelita de contenção ao Irão. Tel Aviv há muito denúncia as ambições nucleares iranianas como uma ameaça existencial. O silêncio oficial israelita pode reflectir uma coordenação tácita com Washington, evitando envolvimento directo para conter reacções regionais mais amplas.
Os países do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, devem ver a operação com ambivalência. Por um lado, a eliminação das capacidades nucleares iranianas reduz riscos directos; por outro, aumenta a possibilidade de retaliações assimétricas — por exemplo, através de milícias aliadas do Irão no Iémen, Iraque ou Líbano.
Já a Europa enfrenta um dilema diplomático: pressionada a manter diálogo com o Irão, vê-se agora diante de uma ação militar que pode comprometer qualquer tentativa futura de reactivar o JCPOA.
O regime iraniano encontra-se numa encruzilhada: responder militarmente, arriscando uma guerra aberta com os EUA, ou aceitar negociações em termos mais desfavoráveis. Ambos os caminhos envolvem perda de prestígio e riscos internos, num contexto de crise económica agravada pelas sanções.
O ataque também estabelece um precedente perigoso: o uso de força unilateral para impedir o avanço de programas nucleares. Isso pode inspirar acções semelhantes contra países como a Coreia do Norte ou, inversamente, acelerar projectos nucleares em outras nações que se sintam ameaçadas por intervenções externas.
Por seu turno, o comentador moçambicano Ali Jamal afirma que o Irão “pode já ter perdido a guerra”, uma vez que a Rússia, seu principal aliado estratégico, não demonstra intenção firme de apoiá-lo. Segundo o comentador, o Irão encontra-se fragilizado e, neste momento, tem de escolher entre enfrentar Israel ou os Estados Unidos, numa posição claramente desvantajosa.
A destruição das instalações nucleares do Irão não é apenas um acontecimento militar; é uma redefinição das linhas vermelhas da política internacional. Os Estados Unidos demonstram que, diante da estagnação diplomática, estão dispostos a agir directamente. O Médio Oriente, por sua vez, entra numa nova fase de incerteza, em que a paz dependerá menos de tratados e mais da dissuasão pela força.
Esta manhã, o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos prometem ataques ainda maiores caso o Irão não opte pela paz. (Nando Mabica)