Talvez ANAMALALA é feio demais para a urna

Antes de começarmos, deixa-me só perguntar: já viste um camaleão a tentar cantar hino nacional enquanto muda de cor? Pois é. É mais ou menos o que está a acontecer neste nosso Moçambique de todos os ministérios… menos das coerências.

A história de hoje começa em Xiculungo, bairro onde os postes não têm luz, mas as fofocas têm energia solar. Ali, debaixo da mangueira da tia Gurita, onde se debate tudo, desde preço do pão até o destino do país, espalhou-se a notícia como milho no chão da machamba:

— O governo mandou o Venâncio mudar de nome!

Não era nome de baptismo. Era nome de partido.

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ANAMALALA, coitado, foi considerado nome feio, perigoso, quase terrorista.

— Mas o nome é bonito, pá! Parece nome de dança tribal ou de mulher que parte corações lá em Cuamba! —reclamou o Nhateque, mecânico filósofo, enquanto mastigava copra com dentes emprestados.

Por Bendito Nascimento

Segundo o Ministério da Justiça, nomes de partidos não podem vir de línguas nacionais.

— Hein?!

— Sim, tu ouviste bem. O mesmo governo que diz que “valorizamos as línguas nacionais”, agora diz que usá-las para partidos é coisa de dividir o país.

RÁÁÁÁÁÁ!

— Mas e o AMUSI? Esse nome também é em Macua! E já está registado! Será que porque AMUSI parece mais mansinho e ANAMALALA soa tipo tambor de guerra? — perguntou a tia Lulita, com sobrancelha levantada como antena de Rádio Moçambique.

Aliás, há quem diga que o problema não está na palavra, mas na pessoa. Porque ANAMALALA nasceu com dedo do VM7, aquele que fala rápido, gesticula muito e não cabe nas gavetas políticas.

—Esse país é tipo o tio Pinduca bêbado: diz uma coisa num dia e no outro já esqueceu. Ontem ‘valorizamos a cultura’. Hoje, se usas a tua língua para nomear um partido, és ‘divisor da pátria’!— comentou o Nhambalala, que até hoje usa chapéu da campanha de 2004.

Aliás, um dia disseram que diversidade é riqueza. No outro, vem o Ministério a escrever três páginas só para dizer: “Desculpa lá, mas a tua língua não é suficientemente patriótica para concorrer às eleições.”

Tchiiii!

Foi então que o velho Paito, que vive sentado na borda da sua cadeira de três pernas, decidiu contar uma parábola:

— No tempo do meu avô, havia um galo chamado Namatchoco. O galo falava em língua Chope e cantava bonito. Mas os outros galos do galinheiro, que tinham aprendido a cantar em português da Beira, ficaram com ciúmes e disseram que o canto do Namatchoco era perigoso, que dividia o terreiro. Resultado? Cortaram o pescoço do galo. No dia seguinte, ninguém soube a que horas amanheceu.

Moral da história: quando calas a voz do povo, até o nascer do sol se atrasa.

Mas os do Ministério, talvez não tenham tempo para galos nem parábolas. Estão muito ocupados a decidir se o “nacional” pode mesmo ser… nacional. Ou se tem de passar primeiro por filtro francês, sotaque português ou WhatsApp do partidão.

E agora, como fica? O Venâncio vai mudar o nome para Aliança Nacional para a Autorização Legal de Linguagem Aprovada — ANALALA?

Ou vai meter nome tipo “Movimento Patriótico do Galo Indivisível”, só para não ofender os sensíveis do Ministério?

— Ou então mete em inglês: National Alliance for the Rebirth of Hope – NARH. Aí já não ofende ninguém, né?— disse o Bacar, que só aprendeu inglês com filmes de kung fu e pensa que “you know” é nome de peixe.

Mas a verdade é essa: querem que o povo fale a sua língua, mas só se for na feira, na música ou nos provérbios no final do telejornal. Quando chega a política – shhhhh! Cala-te, camponês. Tua língua é divisória.

Só falta dizerem que matapa é perigosa porque junta camarão seco e amendoim, e isso é mistura subversiva.

Moçambique, meu amor, és tipo aquele namorado ciumento: dizes que nos amas com todas as nossas cores, mas só nos levas ao casamento se formos de branco e calados.

No fim, só nos resta rir. Ou escrever crónicas.

Ou rir enquanto escrevemos crónicas, como esta aqui.

Porque se ANAMALALA não dál, então vamos todos inventar partidos com nomes que não digam nada:

– PARTIDO DO NHECO-NHECO

– MOVIMENTO DO DÁ-LHE GÁS

– FRENTE DO “EISH, TAMO JUNTOS”

E depois vamos ver o que o Ministério diz. Se calhar vão exigir que todos os nomes venham de Lisboa.

 

 

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