Os dilemas da representatividade política tornaram-se mais evidentes no contexto moçambicano. Os partidos, há muito, deixaram de ser verdadeiros agentes do povo e passaram a priorizar interesses próprios e de suas elites partidárias, em detrimento da base e do eleitorado. As lideranças políticas estão mais comprometidas em garantir sua posição do que em atender às aspirações populares.
Por Nelson Charifo
A Renamo falhou ao não capitalizar as dificuldades e fragilidades do partido no poder, a Frelimo. Enquanto o populismo se tornou a principal ferramenta da oposição em diversas partes do mundo, seja à direita ou à esquerda, a Renamo optou por uma postura que transparece indiferença, excesso de confiança ou até mesmo ingenuidade política.
- Indiferença: Manifesta-se na incapacidade de interpretar sinais políticos, seja por má leitura ou arrogância. Ao ignorar alertas internos e externos, bem como os clamores sociais, a Renamo negligenciou o descontentamento da sua própria base.
- Excesso de confiança: Acreditar que seu eleitorado permaneceria fiel, independentemente dos desafios internos e contextuais, revelou-se um erro estratégico. A crença de que o voto rural estaria blindado contra mudanças e debates cruciais levou à desconexão com parte significativa da população.
- Ingenuidade política: Muitas das decisões equivocadas da Renamo podem ter sido fruto de presunções, sem embasamento em análises concretas de custos e benefícios. Ao apostar que “sempre foi assim e assim permanecerá”, o partido ignorou variáveis essenciais para sua sobrevivência política.
A Renamo, outrora uma força combativa, tornou-se um leão morto, uma sombra do que foi e do que poderia ter sido. Persistir nesse estado é um erro colossal. Leões mortos não caçam nem sobrevivem. Assim, no actual cenário, o partido precisa repensar sua estratégia, tornando-se um cão de caça, ágil e adaptável, em vez de insistir em um modelo obsoleto de liderança e actuação.
A situação atual da Renamo, do MDM e de outros partidos da oposição em Moçambique remete à conhecida metáfora do cavalo morto, amplamente utilizada para ilustrar a resistência em abandonar estratégias ineficazes. A Teoria do Cavalo Morto descreve contextos em que se insiste em manter algo que claramente já não funciona, em vez de reconhecer a realidade e adotar uma nova abordagem. Essa metáfora expõe a relutância em aceitar o óbvio e a tendência de desperdiçar tempo e energia tentando ressuscitar estruturas falidas, em vez de encarar a necessidade de mudança.
Seja na política, na administração pública ou no mundo corporativo, a realidade é que muitos preferem fingir que o problema pode ser resolvido sem mudanças profundas, recorrendo a estratégias desgastadas que apenas prolongam a agonia. Entre as táticas mais comuns para evitar admitir que o “cavalo está morto”, destacam-se:
- “Vamos comprar uma nova sela.” Apostar em ajustes superficiais, ignorando falhas estruturais profundas.
- “E se treinarmos o cavalo mais um pouco?” Gastar recursos tentando reforçar algo que já não tem capacidade de funcionar.
- “Vamos redefinir o conceito de ‘morto’.” Manipular a narrativa para evitar reconhecer a verdade e justificar a estagnação.
Para contornar situações dessas é importante aceitar a realidade, desmontar do cavalo e seguir em frente.
Tanto a Renamo quanto o MDM e os demais partidos da oposição devem decidir qual caminho seguir: manter as lideranças e padrões actuais, sacrificando o que resta de sua relevância, ou promover as mudanças e reestruturações necessárias para garantir vitalidade e possibilidade de recuperação nos próximos pleitos eleitorais. As escolhas são críticas e urgentes.
A verdade que é que uma oposição enfraquecida e capturada não contribui para a consolidação da democracia, o fortalecimento do Estado de Direito ou o desenvolvimento do país. É preciso agir com determinação e visão estratégica.
Nelson Charifo possui uma sólida formação acadêmica na área de política, governança e administração pública. Ele é Mestre em Ciência Política, Governação e Relações Internacionais e Licenciado em Administração Pública, além de ser Bacharel em Ciências Sociais com especialização em Ciência Política.