O Forquilhoso: Crónicas de um quase líder

Eh pá, Moçambique é mesmo um palco de teatro que nunca fecha cortinas. Cada semana nos oferece uma nova peça, com personagens saídos directamente da cartola de um mágico sem truques. Desta vez, o espectáculo tem nome pomposo: “O Ressuscitado político que quer governar sem ir às urnas”. Fiquem aí com os olhos abertos como farol de chapa, porque esta novela ainda vai ter muitos capítulos.

Dizem que temos um novo líder da oposição. O quêêêê?! Líder?! Nhamussorrô! Que tipo de líder é esse que nunca levou chapada eleitoral, que nunca engoliu poeira de campanha, que nunca ouviu gritos de “fora!” nem levou um único balde de água fria numa assembleia? Líder assim só mesmo nos sonhos de quem mastiga nuvens e arrota arco-íris.

Por Bendito Nascimento

O homem apareceu de mansinho, como quem vai pedir um lugar na sombra, e agora já quer se sentar na cadeira do leão. Até o rabo continua molhado da chuva do anonimato, e já se estende como se o povo lhe devesse palmas de ouro. Aí tchiii, se governar Moçambique fosse como brincar com bonecas de pano, já teríamos 30 presidentes por semana.

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Epa, e o mais doce disso tudo é que o senhor nem sequer se candidatou nas eleições. Nem participou no xadrez da democracia, mas já diz que é o rei da oposição. Isso é como querer ser campeão de futebol sem sequer ter jogado um treino. É como querer herdar machamba sem nunca ter sujado os pés no matope. Não tem como, chef!

Mas calma. Vamos recuar um bocado no tempo.

Quando o país ainda nem sabia pronunciar “PODEMOS” sem confundir com o partido lá do estrangeiro, houve uma “televisão”, sim, aquela ali do povo, onde o suor se mistura com o microfone, que lhes deu palco. Deu espaço. Deu tempo de antena. Deu microfone, chá e bolacha. Foram tratados como gente grande. Aí, sim, começaram a brilhar.

Foi nessa casa, que fingem muitos hoje não conhecer, onde começaram a dizer “o povo está connosco”, “vamos mudar Moçambique”, “nós somos a alternativa”. Deram entrevistas. Foram celebrados. Chamaram-se de salvação nacional. Eh pá, parecia mesmo que o país ia mudar, tipo céu depois da chuva.

Mas bastou uma pequena virada de vento, uma maré política que já se previa, e zás! Começaram a cuspir no prato onde comeram pão com manteiga e reputação. Esqueceram-se da casa que os puxou do poço da irrelevância. Eh, tchapamo! Ingratidão, minha irmã, é como piolho: só se vê quando já está coçando.

Agora, o chefe e o filho estão dizendo que vão governar o país. Ah, isso é que é ter fé, minha gente! Se governar fosse questão de proclamação, os pastores já teriam assumido a presidência há anos. O rapaz, que continua na idade do “quem me dera”, já está fazendo apostas sobre quantos anos o partido vai durar. É tipo criança que ganha berlinde novo e já se acha dono do bairro.

Dizem que o partido é do povo. Mas qual povo, minha mana? O povo que espera chapa desde as 5h da manhã? Ou o povo que nem sabe onde fica a sede do partido? Esses discursos são bons para encher auditórios de plástico, não para convencer o moçambicano que sabe que promessas não enchem panela.

E mais: juram que o partido não vai desaparecer. Garantem com peito cheio como balão de criança no aniversário. Só que em política moçambicana, desaparecer é fácil. Basta perder uma eleição e os membros voltam todos para o partido de origem, como filhos pródigos de t-shirt virada ao avesso.

Fiquem atentos, dizem eles. Pois nós já estamos atentos desde o tempo em que “Mudança” era uma música e não uma ilusão. Estamos atentos desde que nos venderam esperanças em sacos de arroz, e depois nos deram dívidas ocultas embrulhadas em silêncio.

Se calhar, o partido devia mesmo chamar-se QUASE, porque tudo o que prometerem será uma versão inacabada de alguma coisa. Quase participarão nas eleições, quase são oposições, quase vão governar, quase sabem o que fazem.

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