A sua detenção ocorreu após o bloqueio de uma manifestação pacífica que pretendia exigir respostas urgentes do Governo Provincial face à grave crise de escassez de combustível que paralisa a vida na província.
A mobilização popular, cujo objectivo era pressionar as autoridades a resolverem o caos nos postos de abastecimento onde cidadãos enfrentam filas intermináveis, motoristas vivem em desespero e os transportes públicos estão praticamente paralisados foi desmontada pela PRM nas primeiras horas da manhã, apesar de todos os procedimentos legais terem sido seguidos pelos organizadores.
Joaquim Pachoneia, também activista social e membro da organização da marcha, afirmou em entrevista à Rádio e Televisão Encontro que foram apresentados comunicados e pedidos formais à polícia e a outras instituições competentes. Ainda assim, a resposta foi repressiva: a marcha foi impedida sem justificativa legal plausível.
O mais grave, no entanto, ocorreu depois da tentativa frustrada de manifestação. Mesmo após a decisão de recuar pacificamente para evitar confrontos, Gamito dos Santos foi seguido, interpelado e detido arbitrariamente quando já se encontrava a regressar à sua residência. Foi levado à força para a 4.ª Esquadra da PRM, onde permanece sob custódia sem qualquer acusação formal.
Este caso levanta sérias preocupações sobre o crescente autoritarismo das forças de segurança em Moçambique. A PRM, em vez de garantir a ordem e proteger os direitos dos cidadãos, parece estar a actuar como instrumento de intimidação e repressão, sufocando o direito à manifestação e à liberdade de expressão.
Cidadãos nas redes sociais têm expressado profunda indignação. “Estão massacrando quem levanta a voz pelo povo. Gamito não é o inimigo. O inimigo é a pobreza, a escassez, a corrupção e o silêncio forçado”, escreveu um internauta. Há relatos de tensão crescente em bairros da cidade, com apelos à resistência e à justiça popular.
A detenção de Gamito dos Santos não é um caso isolado. É o reflexo de um sistema que se distancia cada vez mais do povo, desprezando as suas necessidades e pisoteando os seus direitos fundamentais. A repressão não resolverá a crise de combustível, nem silenciará uma população cansada de promessas vazias e sofrimento diário.
A pergunta que paira no ar é: até quando a polícia moçambicana continuará a servir os interesses do poder e não do povo? (Nando Mabica)