É importante saber quem são as populações, como o grupo que vem matando pessoas desde o dia cinco de Outubro de 2017 entrou na província e as causas que levaram o governo local, o Estado a não ficarem preocupados com a situação mesmo com denúncias populares e Mídias. Conforme contam populares que fizeram denúncias, reportaram esta situação muito antes de 2017. Até mesmo alguns órgãos de comunicação social local também o fizeram.
Perceba a origem do drama de Cabo Delgado contada por quem lida com o assunto. Entramos em contacto com o Professor Doutor João Machatine, Coordenador da Unidade de Gestão de Programas de Comunicação e Assuntos Transversais da ADIN.
Numa conversa muito longa e produtiva, trazemos alguns dados a não serem discriminados.
De acordo com o Prof. Dr. João Machatine, em África temos problemas de ler os nossos países com base em manifestações aparentes mediáticas.
“E no nosso país hoje, por exemplo, ninguém fala mais sobre os problemas de Gorongosa, Chicago, Manica, só quando alguém aí é mordido com crocodilo é quando falam”, disse Machatine.
Por quê? Será que todos os guerrilheiros da Renamo já foram todos desmobilizados na região Centro?
Ainda não. Mas como os ataques pararam, há um processo de paz em curso, já não se fala dele. Machatine rematou ainda que, Cabo Delgado, todo ano de 2020, 2021 ocupava todas as salas de conferência quer no país, quer internacionalmente.
Muitos fizeram seus doutoramentos sobre o Islamismo e conflitos em Cabo Delgado. Muitos fizeram suas teses sobre exclusão em Cabo Delgado, violação de direitos humanos em Cabo Delgado, entre outros.
Mas num espaço de 2017 a 2021 houve violação grosseira de direitos humanos. Isto é facto devido à situação em que a província se encontrava nesse período.
Por que esse tipo de discurso?
É o grande problema de comunicação de consumo. E o grande problema é esse. Parece nada, mas o problema de consumo de informação é de facto preocupante.
Deste modo, qual é a imagem que Cabo Delgado tem, hoje?
Cabo Delgado, para quem diz Cabo Delgado hoje, não há outra imagem que aparece se não:
Cabo Delgado destruição,
Cabo Delgado desnutrição,
Cabo Delgado casamentos prematuros.
Machatine disse ainda que, ninguém se lembra de dizer Cabo Delgado a melhor produção de castanha em Nangade, ninguém fala disso. “Koroshp em Montepuez ninguém fala disso”, rematou.
Por quê?
Pois isso não vende num jornal. Isso não vende a nenhum projecto. A realidade é que muitos estão fazendo dinheiro, correlação a situação de Cabo Delgado.
Não vende em nada esse tipo de matéria, quer no nosso país, quer no Ocidente. O grande problema se eu lhe fazer o retrato da província de Cabo Delgado, se eu lhe dizer que Cabo Delgado é o berço da independência Nacional vão dizer haaaaaaaaa isso é agenda política.
Mas a verdade é que Cabo Delgado é o local onde nasceu as primeiras raízes da independência nacional. É Cabo Delgado, é Niassa, é onde começam a ter sinais de primeiras raízes de indecência nacional.
Cabo Delgado e Niassa foram as primeiras províncias no tempo colonial a apresentar primeiros sinais de zonas libertadas. Ninguém quer falar disso, acrescentou Machatine.
Por que acha que sobre isso não se fala?
Porque isso favorece a um determinado partido. Eu não estou aqui a falar da Frelimo ou outro partido, estou falando da província de Cabo Delgado, o epicentro da independência.
Esse é o grande problema. O ponto de partida para as pessoas falarem de Cabo Delgado, primeiro temos que caracterizar o que é Cabo Delgado, as suas gentes, as suas aspirações, as suas potencialidades, o comportamento das suas gentes.
Cabo Delgado é o local da terceira maior baía do mundo. Mas essas coisas não contam.
Machatine acrescentou ainda que notícias sobre Cabo Delgado são geralmente desde 2017 orquestradas, porque as pessoas estão com fome, só querem publicar as coisas que não são tão abonatórias a Cabo Delgado.
Esse é o meu ponto de partida. Vamos lá compreender o que é Cabo Delgado. E é positivo para quem quer contribuir para o desenvolvimento positivo de Cabo Delgado e da região Norte no geral precisa de compreender o que é Cabo Delgado e suas gentes.
Vamos lá falar de Cabo Delgado desde 2000, quais são as transformações profundas que ocorreram na população de Cabo Delgado. Olha, Cabo Delgado dos anos 90 não é igual a Cabo Delgado de 2000 nem é igual ao de 2010. A população mudou, muita coisa aconteceu e a maneira de fazer renda também mudou. Temos que pegar essas coisas antes de simplesmente pegar uma província: Cabo Delgado conflito, Cabo Delgado não sei o que, relatou a fonte.
João Machatine disse ainda que, acaba sendo estigmatização de uma província e agente de Cabo Delgado, ao serem poucos, mas muito poucos que olham isso como solidariedade. Muitos já dizem: vocês estão a nos ver como uns coitados. Cabo Delgado não aceita coitados, segundo Machatine.
Mesmo com a situação que a província se encontra, Cabo Delgado continua a produzir e comercializar a castanha de uma forma normal?
Sim. Koroshp está em toda área. O negócio da castanha está correndo. Olha uma coisa sempre curiosa, quando vou a Macomia, se eu levar a via mais longa a ir à Quissanga, via terrestre agora que se vai, gosto sempre de parar ali no Silva Macua e comprar galinha macua frita, saborosa, compro aquilo, manoco, feijão joco, Medjumbe, está ali…
Cabo Delgado tem população que come, que produz, que batalha, embora não naqueles padrões que gostaria que ocorressem, mas está decorrendo, a pesca está a decorrer. Ainda continuamos a comer lagosta em Pemba que vem da Ilha do Ibo. Agora que resolvemos a situação de Quissanga já estamos comendo o peixe que vem de Tandanhaque, ali mesmo perto via Mahate.
Sim, é verdade que o nível de produção daquelas fábricas caiu, caiu e caiu. Este é o ponto um.
Por que é que caiu?
Porque as pessoas que produziam naquelas zonas imigraram, se deslocaram para os distritos a Sul: Ancuabe, Montepuez, Namuno, Balama, Chiúre, que infelizmente ultimamente também têm sido alvos de ataques. Estão ali. Consequentemente a produção diminuiu, as pequenas fábricas que começavam também diminuíram. Isto não significa que a vida parou. A vida está a decorrer. Em Balama está se produzir, agricultura e as pequenas fábricas de Chiúre estão decorrendo.
Quais são os distritos onde a vida parou?
Os distritos onde a vida parou um bocado são: Mocímboa da Praia, Palma, Quissanga, Macomia e Muidumbe. E no Norte do distrito de Nangade, em direcção a Pundanhar. A vida lá parou um bocadinho devido à deslocação da população. Mas a vida continua. Quando digo Koroshp, por exemplo. É coisa séria mesmo, Koroshp.
Pode nos fazer perceber o que realmente está acontecendo em Cabo Delgado e Niassa?
O que poderemos considerar? Terrorismo? Insurgência? Guerra armada?
Guerrilha? Não se esqueça que essas duas províncias foram as primeiras raízes da independência. E tendo em conta a existência da ADIN na região Norte?
Aí tens mesmo toda razão. Estás a trazer uma coisa que mesmo em vários debates só oiço terrorismo, insurgência, oiço muita falácia. As pessoas ainda não conseguiram definir e dar o nome do fenómeno, com o epicentro em Cabo Delgado.
Às vezes dizem extremismo violento, toda gente está peneirando para tentar dar um nome. Na verdade, o que está acontecendo em Cabo Delgado não é conflito, porque conflito tem duas partes.
Se você conseguir identificar a parte A e a parte B você pode conseguir encontrar as linhas em incompatibilidade, isso é que se chama conflito.
Incompatibilidade de interesses fica conflito, incompatibilidade de pontos de vista fica conflito. Mas se vocês já sabem as áreas de incompatibilidades, já se cria um espaço para dialogar, para alinhar nas incompatibilidades.
Agora o que está acontecendo em Cabo Delgado diria, uma secção da população ou dos residentes de Cabo Delgado tem um comportamento problemático, socialmente problemático. Esse comportamento socialmente problemático resvalou para uma contestação violenta.
Deixa te dar um exemplo muito claro sobre isso. Tipicamente, quando você está no restaurante, dois grupos de jovens, uns vieram de Cariaco e outros de Maringanha encontraram-se em Natite num sítio de convívio, haaaaaaaaa e começam aí porque somos isto ou aquilo. Há um grupo aí que está defendendo a sua identidade.
Esse tipo de comportamento quando não controlado nos limites aceitáveis na sociedade passa a ser um comportamento socialmente problemático.
Enquanto se passa dos limites aceitáveis, o grupo de Maringanha se diz somos e nós somos, então, para eles marcarem os seus passos eles começam a tomar medidas que ameaçam a vida dos outros grupos, esse comportamento aí não é aceitável.
Agora, está aqui outro problema, minha cara, que temos que entender sobre Cabo Delgado. Desde 1975 o governo da Frelimo considerou aquela província impossível de ser estabilizada.
Por quê?
Porque é o Sul e o Sul da Tanzânia. Quem é que poderia imaginar que um dia viria de Ntuara? Era impensável… era impensável isso… igualmente para Tanzânia, depois daquilo que eles sabem da Frelimo, todos os que cresceram lá, estudaram lá, viveram, fizeram política e aprenderam a mesma política lá na Tanzânia.
Como a Tanzânia tinha de pensar que a partir do outro lado do Rovuma viesse alguma ameaça de segurança para a Tanzânia? Logo em Moçambique aquela zona é o santuário da Paz e Segurança.
O mesmo para Tanzânia que considerava que no Sul de Cabo Delgado fosse Santuário de paz e segurança, em harmonia decidimos que vamos concentrar os nossos esforços a fortificar a administração pública, fortalecer o desenvolvimento. Vamos nos concentrar nas faixas onde suspeitamos de haver potencialidade de distúrbio. Assim pensamos antes de nem imaginar o que aconteceria em Cabo Delgado.
Por isso você vê Arusha preocupado com Uganda porque Tanzânia é este país, com historial de conflito. Para o nosso caso em Moçambique, nós concentramos os nossos esforços na zona Centro, limites com Rodésia antigamente, o Zimbabué de hoje, porque tínhamos problemas lá, concentramos muito na zona Sul devido ao apartheid.
Agora, Mocímboa da Praia, no ciclo do Rovuma, Palma, Nangade possível isso? No caso do Niassa…Mavago, Mecula ali no Rovuma é possível isto? Para nós era impossível isso.
Mas quando íamos a concentrar as nossas forças na zona Sul e Centro, havia outros que aproveitavam aquela situação para estabelecer a sua maneira de viver lá.
Palma foi o destinatário de muitas nacionalidades muito antes da indústria do gás. Muito antes de começar os investimentos verdadeiramente.
Já era destino de muitas nacionalidades: indianos, paquistaneses, congoleses, burundienses, somalis, vietnamitas, cazaques, nigerianos, libaneses, em Palma, e em Mocímboa da Praia. Historicamente aquele sítio é o destino de muita gente da África Oriental. Muita gente dá Ásia, Médio Oriente, Sudoeste Asiático têm um historial aqui. Se você quer alguma identidade histórica vai para o Norte de Moçambique.
Você só chega lá, basta dizer salam Aleikum e prontos verás. Aquela zona recebeu muitas nacionalidades.
Deixa-me explicar o que exactamente isso significa em termos de relações sociais, económicas, políticas, antropológicas.
O que isso significa. Todas essas nacionalidades vieram dos seus países com um modelo de geração de renda. Foram para aquelas zonas porque notaram oportunidades de garantir a sua sobrevivência. Do Afeganistão encontraram oportunidades de transaccionar a sua mercadoria.
Qual é a mercadoria transaccionada lá?
Pessoas e drogas. O mesmo com paquistaneses, qual é a mercadoria que eles transaccionadas lá? Pessoas e drogas. Até poderiam transaccionar tecidos preciosos, mas não passavam pelos procedimentos do sistema normal de importação e exportação.
Chegaram cá e encontraram uma forma de viver. Mas depois um afegão chegou e casou-se com uma paquistanesa, casaram em Mocímboa da Praia, Palma ou mesmo em Cabo Delgado.
Em 2010-2012, por aí, houve notícia de que haviam dois ou três brancos que saiam a pé de Quissanga em direcção à Macomia. A população viu e ignorou, acreditando que fossem coisas normais.
Na terra deles não andam aquelas distâncias a pé. Arriscam a serem mortos. Mas chegam em Moçambique encontra essa liberdade de movimentação e depois encontram a coisa muito peculiar de gente de Cabo Delgado: Generosidade.
O povo de Cabo Delgado é muito generoso. Os ingleses dizem Welcome. São muito acolhedores. E esses estrangeiros pensam o seguinte: afinal aqui podemos movimentarmo-nos!!!
Falava com um amigo meu que dizia, Moçambique é paraíso. Em Mogadíscio qualquer pessoa que você vê sentada tem arma. Qualquer pessoa que você numa motorizada tem arma.
Aqui estamos andando um canto para outro e não estamos vendo ninguém armado se não a polícia. Isto é paraíso. Isto é o sítio que eu gostaria de estar.
Da mesma maneira, você já imaginou alguém que escapou do massacre de Benim no Congo, escapou do massacre de Kanhabayonga no Congo. Escapa e vai a Macomia. Logo que chega tem uma banca que fecha às 21h, ninguém lhe incomoda…
Acha que essa pessoa vai pensar de outra maneira?
Não! Então, os hábitos de ganhar pão das pessoas que converteram para Cabo Delgado, foram encontrar um terreno fértil da bondade, da generosidade das gentes locais. Essa gente local não é da etnia Muâni, Macua, Maconde, mas sim gente de Cabo Delgado, que são generosos. Receberam-lhes com duas mãos.
E depois o que aconteceu?
Os Congoleses habituados a fazer Garimpo ensinaram aos moçambicanos e disseram: vocês têm pedras preciosas e são muito ricos. Vocês sãos brutos. Estão a dormir. Tem muito dinheiro nessas vossas terras.
Não sabem que podem fazer muito dinheiro aqui? Está pedra tem dinheiro, isto tem dinheiro, etc., etc., etc. Assim começou o garimpo em massa. Sendo assim, os congoleses vieram com experiência de como vender um mineiro extraídos.
Os paquistaneses vieram com experiência de como transaccionar as coisas, longe da vista do governo e da polícia. Os Iemenitas vieram com experiência do mercado do ouro e de rubis lá no médio Oriente.
Os Somalis vieram com experiência de esperteza (olha, se há aquele grupo ali e acolá, vamos nos preparar porque aquele gangue que está em Montepuez um dia virá a Balama vos roubar vossa coisa. Temos experiência disso. Já vimos duas, três ou quatro pessoas que têm esse comportamento misturado ali e acolá, etc.). Diante disto, o povo de Cabo Delgado na sua inocência questionava. O que podemos fazer? E eles respondiam. Devemos nos organizar em grupos de protecção mútua.
Vamos ter quatro ou cinco jovens cuja missão deles é vigiar quando a polícia está aproximando, quando aqueles grupos estarem a aproximar e nos alertar para escondemos os nossos produtos. Assim começa a síndrome de BANHAMULENGUES. Os Banhamulengues eram milicianos de barões da mineração na República Democrática de Congo.
Como isto começa?
Começa com a partilha desta experiência toda. Então criam pequenos sindicatos. Há um sindicato baseado em Mesa, ali em Nanjua, onde extraiam o ouro. Há outro grupo baseado em Namanhumbir onde extraiam Rubis.
Há um grupo baseado em Mbau. Dizem que vão para o alto mar pescar, mas na realidade estes eram carregadores de drogas.
Ganhavam a vida por carregar drogas e ir esconder até o dono ir lá buscar. Outro sindicato estava baseado em Quissanga sede, tendo como ponto ali em Tandanhaque.
Qual era a função?
Receber o peixe que vem da Ilha do Ibo que juntavam outras coisas. Essas outras coisas são as drogas. Estes faziam de tudo para escapar das vistas do governo, estado. Está rotina aconteceu por vários anos sem intervenção dos polícias porque não estávamos preocupados com Cabo Delgado se não zona Centro é Sul como expliquei a Prior.
✔ Daí que ficou: Cabo Delgado o corredor da heroína.
✔ É o corredor da maconha, é o corredor dessas coisas todas.
✔ E a maior apreensão de drogas que já aconteceu em Moçambique foi em Cabo Delgado em Quionga. Não foi em Quelimane, foi em Quionga.
Como eles conseguiram juntar 12 toneladas? Como eles conseguiram juntar tudo aquilo? Será era corrupção naquela altura?
Não foi através da corrupção. Há essa partilha de experiência entre diferentes grupos. E tornam-se mais espertos no mundo do tráfico e outros actos ilícitos. Existem bosses nesses grupos que são os chefes mais espertos destes grupos.
E quem é o homem que é o BOSS?
O termo boss em Cabo Delgado tem um significado. É aquele que fica com a balança lá atrás da barraca. Fica com a balança e com o dinheiro.
O boss olha as pessoas aí naqueles plásticos onde fecham naquelas barracas, que quando aparece alguém com mercadoria encontra primeiro o seu subordinado que finge ligar para chamar o boss devido à mercadoria enquanto os estão no mesmo local, este somente procura certeza de tratar-se de negócio seguro. O boss sai e fecha o negócio. O boss é o chefe do sindicato.
Após a partilha de experiência. Os estrangeiros arranjaram um modo de viver com os locais, os locais mesmo. Os locais que com estudo muito baixo a única coisa que lhes sustenta é viver de Deus.
E depois, o outro nível de aliança desses diferentes grupos, somalis, libaneses, nigerianos, quenianos, cazaques, malianos, Serra Leoa, todos estão lá.
Começam já nos casamentos. Essas crianças nãos são congolesas ou nigerianas, ou quenianos. Nasceram em Moçambique, em Cabo Delgado e são moçambicanos.
Nasceram numa família cujo modo de vida é o tráfico de drogas, em uma vida de se esconder das autoridades. Quando um jovem dessas famílias de repente fica rico duma forma rápida e sem esforço, a fama daquilo espalha-se para Nampula e Niassa que são as províncias vizinhas. Logo mais jovens procuram fazer igual para serem ricos facilmente.
Jovens que saiam de Nampula a Cabo Delgado para pescar, deixaram de pescar e ficaram carregadores de caixas de Barquinhos Iranianos, Barquinhos Paquistaneses.
A maioria destes jovens que influenciaram os nacionais nesse mundo de carregadores de drogas são filhos resultados de mãe togolesa e pai congolês. Pai Afegão é mãe somali, pai ugandês e mãe butanesa. Além disso, vários homens dessas nacionalidades casaram-se com as nossas irmãs locais.
Resultando, uma demonstração de mudança profunda do dividendo demográfico em Cabo Delgado. Tenho escutado sempre a se dizer, jovens de Cabo Delgado querem emprego.
0lha senhora jornalista, vai lá em Palma, vai em Mocímboa da Praia e depois faça uma demonstração da árvore genealógica vai descobrir o que digo.
São esses jovens que devido a hábitos diferenciados a maior destes estão colaborando nas matas com estes que estão desestabilizando Cabo Delgado e Niassa. Há maneiras que o afegão lê o Alcorão é diferente como o somali lê o Alcorão, o tanzaniano também assim como outros países islâmicos.
O livro é o mesmo, mas leem o Alcorão diferentemente dependo da região. Isto funciona como as tantas seitas cristãs existentes. As Assembleias de Deus, Velhos apóstolos, católicas entre outras igrejas.
Todas essas são várias formas de interpretação do mesmo livro.: a Bíblia. O mesmo acontece com os muçulmanos o livro chama-se Alcorão e a casa chama-se mesquita, mas com várias interpretações.
Vários jovens foram sendo influenciados a rezar de formas diferentes consoante as amizades. O que confusionou os nossos líderes religiosos naquela altura. Mas isto porque os jovens aprendiam de seus amigos somalis, tanzanianos, ugandeses, congoleses, quenianos, etc. Logo houve choque entre o valor tradicional de como fazer as missas com essa nova geração influenciada pelos estrangeiros radicados naqueles distritos.
Os filhos desses jovens, dessa miscigenação toda. E acontece coincidentemente com um fenómeno que vai mudar a situação toda: a indústria de gás e petróleo.
Quando as multinacionais chegaram em Palma e Mocímboa da Praia, os afegãos residentes naqueles distritos já viram esse filme nas suas terras, os nigerianos já viram esse filme lá no Delta Status, os somalis já viram esse filme lá na Somália, os ugandeses idem, entre outros.
Vendo esta situação da entrada das indústrias extractivas, dizem por si e aos seus amigos, aquilo que vimos nos nossos países está a nos perseguir aqui também.
Sendo assim, temos que tomar medidas antes que saímos prejudicados como já fomos nos nossos países. Estas empresas estão sempre a nos perseguir. Este é o primeiro ponto.
Ponto dois: Quem está facilitando a entrada dessas indústrias? É o governo. São esses. É administrador, Director do SDAE e todos os funcionários do Estado.
Então a cara daqueles que estão fazendo processos contrários aos deles que facilitam a entrada desses estrangeiros donos das empresas extractivas com promessas de emprego na região enquanto querem tomar o que é nosso. Não vamos permitir. Precisamos organizarmo-nos.
Só que quando as indústrias chegam, o governo central emite uma lei: conteúdo local, investimento estrangeiro, benefício local. Até aí tudo bem.
Mas de repente a Autoridade Tributária diz que é preciso estar lá por perto para controlar os loiros, estrangeiro. E colocam lá a migração.
Depois! Onde há esses pode haver maior índice de criminalidade, então as Forças de Defesa e Segurança aumentam o seu pessoal por lá.
Quando aumentam as forças, é quando se verifica que não tinham a dimensão do problema naquele ponto do país. Devido ao maior índice de desmandos, garimpeiros ilegais, as forças foram ver que aquele local parecia não ter governo, parece não ter estado. (Milda Langa)
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