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Home Integrity Reflexões O caldeirão do escriba

TEATRO DE 100 DIAS DA GOVERNAÇÃO DOS NHONGUISTAS

Descobrimos o problema, mas fingimos que o problema é novo. Descobrimos o roubo, mas protegemos os ladrões. É assim o país que temos. E é assim que se governa no Moçambique das narrativas bem faladas, mas das acções nulas.

29 de Abril, 2025
em O caldeirão do escriba
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A Última Páscoa: Pós-Deus, Pós-Pátria, Pós-Povo – Resposta ao Texto “A Última Páscoa dos Moçambicanos”, de Severino Ngoenha
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Ontem, dia 28 de abril, ao apresentar o seu plano de 100 dias, Daniel Chapo gaguejou. Sim, até a minha sobrinha de cinco anos notou e perguntou:
— Tio, por que o Presidente está a gaguejar?
Será que ele não sabia o que dizer ou estava apenas a fingir que tudo está bem?

Por: John Kanumbo

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Confesso que não tive como responder. Fiquei mudo. Não pela ceptismo da criança, mas porque ao meu lado estava um mais-velho daqueles que carrega no peito a gota sagrada da Frelimo e, por educação ou autopreservação — e preferi calar. Porque às vezes, o silêncio é a forma mais digna de respeitar a vergonha pública de um país inteiro. Mas no fundo eu sabia. E a cena ficou gravada: o Presidente de um país a gaguejar isto é, mentiu em directo não porque foi o teleponto que falhou — foi o peso do segredo, dos mortos, das dívidas, das perseguições e da máfia política, das promessas podres, da máfia institucionalizada que carrega às costas é pesado demais até para quem se acostumou a fingir, dia e noite.

E afinal, o que significa “governar” cem dias, hoje?

Será levantar meios-termos e métricas de Excel, projectadas nas telas do poder, enquanto o povo continua nu de promessas e faminto de dignidade? Será apresentar relatórios bem diagramados em PowerPoint, enquanto as valas continuam abertas, as escolas sem carteiras e os hospitais sem medicamentos? E ainda, enquanto as ruas continuam nuas de promessas e frias de esperança? Ou seria, de facto, transformar esses indicadores em pulsação social, em vida respirável, em dignidade recuperada para quem geme há décadas sob a lona da miséria? Ou será, talvez, a mais cruel das farsas: fingir que indicadores são vida, que planos copiados são soluções, e que nomear primos, cunhados e amigos dos camaradas é o verdadeiro sentido de “cumprir metas”?

Estamos no Moçambique das metas santificadas, onde se cumpre o número, mas não a dor. Onde o indicador é baptizado com festa, mas o povo continua a enterrar os seus mortos com as próprias mãos, sem justiça, sem paz e sem pão. Esta é a tragédia que se revelou nos primeiros 100 dias do novo governo ascensão fraudulento: um país que se mascara de gestão pública enquanto encena, todos os dias, o teatro da mediocridade.

Em Moçambique, governar cem dias é levantar bandeiras em cima de cadáveres, é fazer selfies inaugurais em frente a centros de saúde sem médicos, é anunciar estradas onde só há lama e fazer discursos sobre inclusão enquanto se nomeiam primos, amigos e compadres. Cem dias aqui são a arte de parecer sem ser, de falar sem dizer, de prometer sem cumprir.

Governo. Uma palavra que ressoa como um tambor de guerra nas cidades, nas aldeias, nos corações dos moçambicanos. Uma palavra carregada de promessas que são como ventos, muitas vezes invisíveis e inconstantes. O governo de Daniel Chapo, após seus primeiros 100 dias de gestão, se apresenta como a realização de 92 indicadores de sucesso. Uma estatística que reflecte, aparentemente, uma boa execução. Mas será que esses números têm a substância necessária para transformar a vida de quem realmente importa: o povo? Ou, mais uma vez, estamos diante de uma simulação, uma mera encenação de governança, sem transformação real? Ou temos que fazer perguntas preciso: a quem servem essas metas? A que realidade retornam esses números quando se transformam em punhos vazios de mudança?

O presidente Chapo, na cerimónia de balanço, destacou que 92 dos 96 indicadores foram cumpridos, e desses, 24 superaram as metas inicialmente estabelecidas. Dizia ele, com a confiança que muitos políticos costumam ter quando falam de suas próprias realizações: “Foram transformadas ideias em realidades, com impacto imediato na vida dos moçambicanos”. E aqui nos deparamos com a pergunta filosófica central: o que significa “transformar ideias em realidades” num país onde a maior parte da população ainda luta para colocar comida na mesa e para garantir que o filho consiga estudar sob uma lâmpada de óleo?

Antonio Gramsci nos advertia sobre o “pessimismo da razão e o optimismo da vontade”: podemos celebrar indicadores, mas sem a vontade política de enfrentar estruturas, tudo não passa de novela estatística. Gramsci diria que o poder fabrica consenso com números, enquanto retira ao povo o direito de intervir na construção do próprio destino. É a tecnocracia em traje de gala, vendendo resultados que não atravessam o asfalto rachado das periferias.

Insistir que “transformou ideias em realidades”. É perigosissimo, pois a filosofia política nos ensina que nenhuma ideia se realiza sem luta social. Paulo Freire, em “Pedagogia do Oprimido”, ensinou que a conscientização visa à ação transformadora. Logo, os reais indicadores de sucesso de um governo são a mobilização popular, a organização comunitária e a disposição dos cidadãos de reivindicar direitos. Se esses vetores não avançaram, tudo continua suspenso num limbo de vontades inconclusas.

Michael Walzer, em “Esferas da Justiça”, nos lembra que as ideias só se tornam reais quando distribuem liberdade e recursos com equidade. Chapo proclama “não estamos a fazer favor, estamos a cumprir nossa missão”, mas a missão de um governo democrático não se esgota em metas lineares: envolve distribuição justa do poder, participação efetiva e respeito aos dissensos. Um Estado que não reconhece a voz discordante — dos movimentos sociais, dos sindicatos, da juventude — traça um projeto de governança mutilado.

Governar, não é mais um simples jogo de números e promessas. Governar, hoje, significa gerir um país no limiar da decadência estrutural e moral. Não é mais sobre metas batidas em planilhas, nem sobre discursos agradáveis feitos a partir de palanques em Tete, Cabo Delgado, Niassa, Inhambane, Maputo. Governar é, antes de tudo, lidar com o sofrimento real e diário do povo. É enfrentar a impunidade que permeia a corrupção nas instituições públicas, é combater a evasão fiscal que empobrece ainda mais a classe trabalhadora, e é construir políticas que, de fato, melhorem a vida dos moçambicanos.

Como dizia o filósofo francês Jean-Paul Sartre, “a liberdade não é a capacidade de fazer o que se quer, mas a capacidade de se rebelar contra o que não se quer”. E é isso que deve ser a verdadeira medição de um governo: sua capacidade de enfrentar a realidade, e não de se prender a convenções de números vazios.

Um governo que se orgulha de 92 indicadores cumpridos em 100 dias precisa perguntar: quem são os verdadeiros beneficiários desses indicadores? Será que são as grandes infraestruturas e os investimentos milionários que não chegam à base da pirâmide social, ou são as vidas simples dos moçambicanos que lutam por algo mais que números no papel?

Chapo, ao se orgulhar dos 92 indicadores cumpridos, esqueceu-se de uma lição básica da política: os números podem ser manipulados, mas a realidade não. A vida de um cidadão que espera uma consulta médica na madrugada fria de um posto de saúde que falta medicamentos não será transformada por metas superadas, mas sim por uma intervenção concreta, por uma acção que tenha impacto directo na sua qualidade de vida. Não há nada mais vazio do que a ideia de que as metas e indicadores são reflexos do bem-estar colectivo, enquanto o sofrimento permanece invisível nos bairros periféricos, nos campos de cultivo.

E como nos lembra o sociólogo Zygmunt Bauman, em sua crítica à sociedade líquida, “o progresso social não é apenas o avanço nas taxas de crescimento, mas também a diminuição das desigualdades”. E se esses 92 indicadores cumpridos não resultaram em uma redução das desigualdades, o que estamos celebrando, afinal? É uma farsa. Uma tentativa de ocultar o verdadeiro rosto da pobreza, da falta de acesso e das falhas no sistema educacional e de saúde que persistem, apesar dos “investimentos avultados” anunciados.

Em 100 dias, se orgulhas em manter seis encontros bilaterais, cimeiras na UA e na SADC, recepções no Vaticano… Argumenta-se que, num momento de descrédito internacional, cabe ao presidente “vender” a imagem de Moçambique. No entanto, Noam Chomsky já descreveu a diplomacia moderna como aparato de propaganda em massa. De nada adianta aparar arestas com líderes estrangeiros se o cidadão não encontra serviço público básico ao dobrar a esquina. É como erguer pontes invisíveis, que não conduzem a lugar algum.

Os indicadores do Ministério da Educação — quantas escolas foram rehabilitadas? — ainda não dizem se, nos quintos anos, há leitura e escrita. Os indicadores de transportes — quantos quilómetros de estrada? — não revelam se, ao anoitecer, o camião de medicamentos chega aos postos de saúde. É preciso humanizar os números, transpor colunas de Excel para contos de vida. Só assim entenderemos que “92 de 96” pode ser apenas a estatística de um circo burocrático.

Ainda pergunto: o que significa, afinal, “cumprir indicadores” num país onde o sangue ainda escorre fresco pelas vielas das aldeias e o silêncio se tornou moeda de sobrevivência? Daniel Chapo, veio a público anunciar o cumprimento de 92 dos 96 indicadores previstos nos primeiros 100 dias de governação. Mas curiosamente, entre esses indicadores, não constam os números reais dos mortos protagonizados pela sua própria máquina repressiva, nem as lágrimas secas de quem sobreviveu para enterrar os seus entequeridos.

Quantos jovens foram assassinados pela UIR nestes cem dias? Quantos dissidentes políticos foram perseguidos, ameaçados, silenciados, ou convenientemente “desaparecidos” para garantir que a cifra da estabilidade política não seja manchada pelos nomes incómodos? Isto também é um indicador, Presidente. E não se anunciou.

A promessa de jorrar sangue — feita implicitamente no comício em Cabo Delgado, quando se jurava “defender a soberania até às últimas consequências” — foi o primeiro e mais fiel indicador cumprido. Mais rápido que qualquer estrada inaugurada, mais letal que qualquer hospital pintado de fresco, a repressão cumpriu-se sem falhas. Os Naparamas foram caçados, os jovens que ousam levantar a voz foram rotulados de desordeiros e terroristas. A democracia, essa palavra bonita que enfeita as brochuras e discursos ensaiados, foi novamente assassinada nestes cem dias.

E se a governação é a arte de colocar os homens certos nos lugares certos, o Presidente não falhou: os amigos e os amigos dos amigos foram nomeados, os compadres premiados, os clãs reforçados. Cada dia uma nomeação, cada nomeação um pagamento de dívida política. A sociedade civil? Nenhuma. A oposição? Nem sombra. E sem falar dos Jovens vigorosos. A promessa de unidade nacional acendida pela tocha é uma peça de teatro mal encenada. Porque como se constrói unidade quando se governa só para a família e os comparsas ou seja, um grupo dos bandos criminosos?

E é aqui onde se ultrapassou qualquer decoro institucional. Nestes 100 dias, o Presidente aumentou ainda mais a máquina ministerial, exagerando na criação de ministérios e secretarias de Estado do seu frelimismo. Hoje, temos secretários de Estado para cortar relva nos jardins da Presidência e nas províncias onde há as suas casas protocolares — como se o Estado existisse para cuidar da decoração privada dos chefes. Pior ainda: há ministérios e secretarias que ainda nem carimbos oficiais têm, porque as nomeações não se concluíram e as orientações não chegaram. Porque, e aqui digo eu, quando se copia um plano mal digerido, fica difícil implementar aquilo que não saiu da tua própria cabeça.

Governa-se por copy-paste, improvisa-se discurso, ensaia-se sorriso, faz-se selfie, publica-se nas redes sociais, enquanto o povo continua a enterrar os seus e a pagar a conta. Governar virou encenação. Ensaiam discursos, copiam planos — e sim, porque é um plano copiado, e quem copia não governa, apenas recita. Implementar o que não se concebeu é como pregar sermão de outrem com fé emprestada. Porque governar — verdadeiramente governar — requer pensamento próprio, coragem de ruptura e espinha vertical. Mas aqui temos apenas um eco repetido da máquina partidária, agora com um novo rosto, mas o mesmo sangue nas mãos.

A pose, essa sim, foi outro indicador batido com louvor. Selfies presidenciais, cimeiras e encontros bilaterais, reuniões que mais parecem sessões de Instagram diplomático. Mas a vida concreta — a estrada esburacada de EN1, a criança sem escola em Quissanga, a mulher sem parto assistido em Muidumbe — continua como sempre esteve: suspensa, abandonada, invisível.

O Presidente disse que não está a fazer favor, está a cumprir a missão. Mas a missão de quem? Porque não é a do povo que morre sem saber o nome dos seus carrascos, que enterra filhos e irmãos sem câmara, sem selfie, sem post. É a missão de perpetuar uma elite que governa não para o bem comum, mas para a manutenção do seu próprio privilégio.

E há um outro dado que Chapo esqueceu de apresentar nos seus discursos: o indicador do medo. Porque 100 dias depois, continua perigoso dizer o que se pensa neste país. Porque 100 dias depois, o jovem que questiona o governo é perseguido. Porque 100 dias depois, a esperança de mudança virou piada amarga de bar.

Michel Foucault dizia que “onde há poder, há resistência”. E Moçambique, apesar da anestesia social, ainda tem resistência. Os que ainda escrevem, os que ainda murmuram nas esquinas, os que ainda enterram os seus e juram vingança política nas urnas ou nas ruas. Esses não cabem nos indicadores de Chapo, mas são a única estatística que o futuro vai recordar. 100 dias, Presidente. 100 dias de números sem humanidade. 100 dias de selfie e de sangue. 100 dias que não serão esquecidos.

Cem dias atrás, o forno presidencial acendeu uma tocha de metas e selos de compromisso. Hoje, precisamos soprar essa tocha, retirá-la do pedestal e levar sua chama às mãos calejadas do povo. Porque governar cem dias não é exibir certificados de desempenho, mas assumir, como Hannah Arendt desejava, a “responsabilidade pelo mundo comum”, reconhecer a pluralidade de vozes e devolver ao cidadão o protagonismo de sua própria história. E, então, sim: que se cumpram indicadores. Mas sobretudo que se cumpra a dignidade humana.

A vida dos moçambicanos não pode ser medida apenas por investimentos em infraestruturas e por um crescimento estatístico, mas pela real mudança nas condições de vida. Quando o governo anuncia que a saúde e a educação são prioridades, o povo não deve ser enganado com discursos que não se traduzem em acções concretas. O que o povo quer é ser atendido, e não ser entretido com discursos de transparência que servem apenas para esconder a corrupção sistêmica.

Eduardo Mondlane, pai da nação, defendia a “revolução cultural” antes da revolução política: só se constrói um país quando se valoriza o saber popular. Cem dias de governo poderiam ter sido cem diálogos em cada província, cem conferências de imprensa descentralizadas, com cidadãos relatando dores e expectativas. Em vez disso, o discurso oficial ecoa em salões fechados, enquanto Mocimboa da Praia, Pangane, Xitaxi, Chiúre e Mbau, Quiteraju, Mucojo, Lusheti, Litamanda, Chitunda, Macomia continuam contando mortos à luz de velas pelo terroristas.

Governar 100 dias hoje é, portanto, mais do que cumprir metas e fazer investimentos visíveis. É, antes de tudo, garantir que o cidadão, o trabalhador, a dona de casa, o estudante, o agricultor, tenham a dignidade mínima que lhes é devida. Governar 100 dias é saber que a política não pode ser reduzida a números, mas deve ser, sobretudo, um compromisso moral com o bem-estar do povo.

Nos diz se indicadores deu recodes, e se a saúde recebeu investimentos vultosos. Mas Pierre Bourdieu alertava que o capital econômico, sem o capital cultural e simbólico, só aprofunda desigualdades. Erguem-se hospitais, mas ignoram-se enfermeiros sem formação e pacientes sem transporte. Quantos desses indicadores traduzem-se em profissionais habilitados, em campanhas de prevenção nas zonas rurais, em medicamentos nas farmácias do mato? Sem isso, a máquina estatal gira para dentro e deixa o cidadão à sua própria sorte.

Se 92 indicadores alcançados são o grande feito de Chapo, o que dizer da dor do povo que, em cada esquina, ainda sente o peso do abandono e da negligência? E não vir um velho já morto vivo e por sinal sobrevivente de quininos a dizer: durante os 100 dias de governação de  Chapo conseguiu-se realizar projectos de 2 anos em 3 meses. Mais este velho esta bem mesmo?…e aqui recordemos o perigo de um idoso consumir ao excesso álcool, isso é abuso de mau gosto e lesa pátria.

Governo celebra o cumprimento de 92 de 96 indicadores em 100 dias. A retórica oficial anuncia “transformar ideias em realidades”. Mas, como nos advertiu Hannah Arendt em Entre o Passado e o Futuro (1961), o verdadeiro poder não se reduz a cumprir metas tecnocráticas: “O poder surge quando as pessoas agem em conjunto, não quando se limitam a executar planos” — e estas centenas de indicadores, de que forma repercutem na vida colectiva?

Cem dias, para Aristóteles, eram tempo suficiente para iniciar uma revolução política; para Frantz Fanon, em Os Condenados da Terra (1961), esse intervalo serviria para derrubar o cárcere colonial; já em Maputo, serviu sobretudo para listar números. Desses 92 indicadores realizados, 24 superaram metas — 25% de “excelência estatística”. Entretanto, o povo continua a enfrentar hospitais sem remédios, escolas sem carteiras e estradas que imploram por um só quilômetro de asfalto digno.

A democracia participativa à Amílcar Cabral, que concebia a libertação como processo conjunto do campo e da cidade, não se faz em gabinetes repletos de diplomatas e encontros bilaterais. Ainda que o Presidente Chapo tenha recebido seis chefes de Estado, encontrado-se com António Guterres e visitado o Vaticano, o critério de sucesso de Cabral era outro: “Quem não se revolta contra o seu próprio domínio não se revolta contra o colonialismo”. O domínio interno, feito de burocracia inchada e protocolos de vaidade, segue intacto.

Se é verdade que “governar é criar futuros possíveis” — na lição de Cornelius Castoriadis —, o futuro desenhado nestes primeiros cem dias permanece uma miragem. O “diálogo” orçamentado em 91 milhões de meticais não se materializa em mesas redondas com o país real; 42 milhões para canis ministeriais não impediram que soldados enfrentem miséria. Os 39 milhões em residências oficiais contrastam com enfermeiros que assistem partos à luz de lanternas.

A retórica do Chapo foi — “Não estamos a fazer favor nenhum, estamos a cumprir a missão” — lembro a crítica de Michel Foucault em Vigiar e Punir (1975) sobre a “governamentalidade”: a prática de poder que confunde eficácia administrativa com emancipação social. Indicadores e relatórios escondem a biopolítica de um Estado que vigia, disciplina e reprime, mas não ampara o direito à saúde, à educação e à liberdade de protestar.

Nas palavras de Simone de Beauvoir em A Mulher Desiludida (1949), “toda autoridade que não escuta torna-se tirania”. Em Maputo, são dias de discursos inflamados sobre unidade e reconciliação; no interior, são semanas de silêncio broken by lanternas improvisadas nos hospitais de campanha. Que governança é essa que celebra metas contando sentadas de peritos em torno de estatísticas, enquanto comunidades inteiras permanecem à margem da vida digna?

100 dias, portanto, não bastam para apagar a herança de um Estado-cádaver sustentado por empréstimos. Mais do que indicadores, precisamos de um pacto social onde a voz do trabalhador, do camponês e do professor seja parâmetro de êxito — não o número de estradas rebatizadas, a quantidade de contratos assinados ou selfies com líderes internacionais.

Presidente Chapo e aos seus assessores: não confundam a velocidade do carimbo com o progresso do país. Que retomem o debate público, que incorporem a crítica radical de Fanon e o espírito comunitário de Cabral. E que entendam, de uma vez por todas, que os verdadeiros indicadores de 100 dias são o litro de leite que chega à mesa, a carteira escolar onde a criança aprende a ler, o sorriso de um enfermo que recebeu medicamentos.

E sobre LAM, o povo ouviu o discurso, sim. Uns aplaudiram, outros perceberam que o avião não vai levantar voo. A LAM tornou-se a linha aérea de comissões privadas e missões fantasmas pagas com o suor do povo. Foram 15 dias na Europa a inspecionar aviões? Ou foi lua-de-mel patrocinada com dinheiro dos novos accionistas? E a Procuradoria-Geral da República, onde está?

Chapo disse no discurso que “a solução encontrada é a mais adequada ao momento“. Adequada para quem? Para o povo que nem passagem de autocarro tem? Ou para o grupo de famílias e camaradas que circulam de executiva enquanto o país naufraga na dívida, fome e má gestão?

O drama da LAM não começou ontem. Veio de anos de saque institucionalizado. Vieram comprar aviões obsoletos, contratos inflacionados, frotas fantasmas e dívidas assumidas sem acta pública. Agora aparece a tal Fly Modern Ark como “salvadora”. Mas quem são os donos dessa empresa? Porque é que nenhum jornalista de coragem já publicou a lista dos beneficiários efectivos desse negócio? Ou será porque a comunicação social pública está a serviço do silêncio institucional?

O mais grave é que a Procuradoria continua muda, a Assembleia aplaude, e o povo só assiste. E a cultura do medo faz com que ninguém questione. Mas é nosso dever dizer: Não se resgata uma companhia aérea afundada por corrupção com mais corrupção.

Se fosse um país sério, já teríamos visto prisões preventivas, bloqueio de contas bancárias, e responsabilização de ex-gestores e ministros do sector. Aqui, a única coisa que se prende são os salários dos trabalhadores.

Moçambique já não é país, é comédia de má qualidade. Quando um presidente sobe ao púlpito, começa a prometer compra de aviões para a LAM, e depois tropeça nas palavras, é porque a corda do bolso dos camaradas está apertada. É porque o fio do medo começa a enrolar no pescoço.

Durante anos, a nossa transportadora de bandeira voou sem destino, alugando aviões como quem aluga motorizadas na feira. E por cada aluguer, comissões voavam para bolsos privados, enquanto o povo ficava a ver poeira. Esta semana, finalmente, disseram ter descoberto o óbvio: que dentro da empresa há interesses. Sério? Só agora? O país inteiro já sabia.

Mas o que mais dói não é a revelação. É o cinismo de fazer disso novidade. E pior: mandam supostos técnicos para a Europa com dinheiro público para “inspecionar aviões” e voltam a dizer que não inspecionaram nada. Que brincadeira mais triste. Se fosse um zungueiro a vender sem licença, já estava no comando da PRM. Mas esses, nada. Continuam.

Hoje e amanhã, o Procurador-Geral da República estará no Parlamento a ler o seu rosário de desgraças travestido de informe anual. Vai, como sempre, desfilar números de processos, arquivamentos e condenações de ladrões de galinhas, enquanto as raposas vestidas de facto e gravata continuam a comer no galinheiro. Vai prestar contas sem apresentar prisões. Vai fazer de conta que a justiça anda, quando na verdade é empurrada a cachaço por uma política cega, surda e de joelhos.

Seria histórico — seria glorioso — se o PGR chegasse lá de toga preta com nomes nas mãos, algemas nos bolsos e mandados de captura para os senhores da LAM. Seria mais glorioso ainda — e até mais humano — se, antes desse discurso de engodo, já tivessem sido presas as raposas e os gatos que dormem na sala de reuniões da LAM, com bocas cheias de comissões e mãos sujas de contratos. Mas não. Vai falar de leis enquanto os ladrões bebem champanhe à sombra da impunidade. Noutros países, isso seria o mínimo. Aqui, é utopia. Em países sérios, os Procuradores não discursam enquanto o sangue da corrupção ainda escorre nas ruas. Prendem primeiro, falam depois.

Aqui não. Aqui primeiro se encena. Primeiro se combina o roteiro: quem será citado, quem será poupado, quem terá imunidade moral garantida pela cartilha e pelos telefonemas que começam com “Camarada…”. Certamente não seria difícil ligar ao PR e pedir os nomes. Não seria difícil mandar parar o circo e dizer: “Chega! Basta de aviões fantasmas, basta de viajantes milionários pagos pelo povo faminto.”

Que tal, papa Chapitô, nestes teus 100+2 dias, começar por suspender toda a direcção da LAM? Porque no curral dos porcos ninguém se lava sozinho. E onde há podridão, o cheiro não vem dos peixes pequenos. As raposas, os gatos gordos, os crocodilos de paletó e os abutres de escritório têm cargos com nomes bonitos e acessos directos aos cofres.

A questão é velha: querem mesmo combater a corrupção ou só querem discursar sobre ela?

Cinco décadas depois da bandeira subir no mastro da independência, o país continua a brincar de Estado. Um território governado por fantasmas de combatentes, herdeiros de cargos, e filhos de uma pátria órfã. Um lugar onde juízes com medo são promovidos e ladrões com cartão são protegidos.

Corrupção não se combate com metáforas, pleonasmos ou ironias de gabinete. Combate-se com algemas, com confisco, com exoneração, com prisão. Mas aqui, preferem enviar relatórios, criar comissões e discursar sobre a ética perdida.

Há um território para salvar. Um Estado para ser fundado. E isso não se faz em auditórios com ar-condicionado e croissants. Faz-se nas ruas, nos tribunais, nos ministérios, nos aviões que ainda voam — e principalmente — no carácter de quem governa.

O povo, já sem expectativa, assiste. Mas não se iludam. Porque até a paciência da fome tem limite. O tempo de brincar de país deve acabar comeram já basta, acho.

O problema de Moçambique não é falta de planos. É excesso de ladrões com cartões de militante. E não adianta vir dizer que vão “reestruturar” a LAM, sem limpar a quadrilha. Presidente que só fala e não age vira estatística. Já vimos muitos.

LAM não caiu do céu. Foi derrubada por dentro, sabotada por ratos com cargo de chefia e diploma de militante. Cada leasing duvidoso foi um prego no caixão da companhia. E ainda têm a ousadia de mandar técnicos para a Europa sem inspecionar nada. É como mandar padres ao Vaticano e voltarem dizendo que não encontraram a basílica.

Não, Excelência. Corrupção não se combate com sorrisos. Nem com metáforas poéticas. Combate-se com acções: suspensões, prisões, confisco de bens e exposição pública. A direção da LAM não pode continuar no cargo como se nada fosse. Alguém autorizou esses voos fantasmas. E não foram secretárias. Foram chefes com assinatura.

Aqui, o povo já não quer discursos, quer acções. Quer ver gente a ser presa, património a ser confiscado e corruptos a fazer fila na Cadeia Central. Se não fizer isso, Sua Excelência, o povo vai acabar por pedir contas de outras formas. Porque até a paciência do pobre tem limite. Seja homem, Chapitô. Não se governa com medo dos velhos que estão há 50 anos a mamar do peito seco da pátria.

Moçambique cansou. Um presidente que fala de conflitos de interesse na LAM e depois fica a gaguejar em público é cúmplice. Quem protege ladrão é ladrão. Desde 1975, meia dúzia de famílias, mais velhos de estômago inchado, donos de cartilhas vermelhas, mamam tudo: petróleo, gás, camarão, e agora até avião alugado.

Mandaram 15 camaradas para a Europa, comer croissant e dizer que “ninguém inspecionou nada”. Com dinheiro de quem? Do povo. E ninguém é responsabilizado. Até quando? Queremos nomes! Queremos cabeças a rolar! Se o Chapitô não tem coragem, que saia. Que deixe quem tem peito. O povo já não come discurso. Quer ver corrupto preso, quer ver avião comprado com dinheiro limpo e bilhete barato para o povo.

Basta de mafiosos a chuparem a vaca Moçambique. Quem mama sem trabalhar, quem viaja para roubar e quem se esconde atrás de fardas e paletós deve cair. O presidente que não age é cúmplice. Ou limpa, ou sai.

Se o Presidente está à procura de nomes, basta atender o telefone. O povo pode ditar, com clareza e raiva, os nomes de cada comandante desse desastre. Basta abrir as escotilhas da verdade. Mas talvez não queiram. Porque há um pacto invisível de silêncio entre quem rouba e quem finge não ver. Uma cumplicidade histórica entre o Estado-piada e o partido-negócio.

Cinquenta anos depois da independência, Moçambique ainda brinca de país. O mapa existe, mas o Estado é ficção. Temos hino, temos bandeira, mas não temos vergonha.

Aqui, a justiça é um leão domesticado. O Parlamento, um teatro com figurantes cansados. E o Ministério Público, um cão velho que só ladra quando o dono permite.

Chega! Moçambique precisa de começar a nomear os saqueadores. A história um dia há-de exigir a lista completa. Porque cada avião que parou foi um hospital que não se construiu, foi uma escola sem carteira, foi um medicamento que não chegou a tempo. E agora senhor Presidente: a verdade nunca gagueja. Quando o discurso engasga, é porque a consciência pesa.

Este país não precisa mais de discursos bonitos. Precisa de exonerações reais, processos judiciais sérios, devolução do que foi roubado, e acima de tudo: nomes! Nomes daqueles que transformaram uma companhia aérea nacional num tubo de respiração mafioso.

Talvez ainda haja salvação. Mas para isso, é preciso mais do que discursos. É preciso fundar o Estado que nunca existiu. Porque este que aí está, é apenas uma loja de conveniência para ladrões de colarinho vermelho. O tempo das metáforas acabou. Ou se prende agora, ou se será cúmplice para sempre.

Se a democracia se mede pela capacidade de transformar o sofrimento em acção colectiva, estes 100 dias deixaram-nos não com uma nação empoderada, mas com um catálogo de purgatórios de purcarias — e cabe agora ao povo, na tradição da resistência moçambicana, exigir que o poder deixe de ser mera encenação e passe a ser presença efectiva na vida de cada cidadão.

Diante dos primeiros 100 dias de Daniel Chapo. Não há celebração quando o povo ainda está preso ao ciclo da miséria, da injustiça e da opressão. Não há transformação quando as “ideias” do governo não chegam à vida concreta daqueles que mais necessitam.

Neste balanço, só há uma conclusão possível: o país precisa de mais do que indicadores. O país precisa de acção, de coragem para ir além do papel, e de uma verdadeira revolução social que desafie os dogmas do sistema e resgate a dignidade do povo moçambicano.

 

Tags: GovernoNhonguistasTeatro
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