A começar pelos factos, foi com muita pompa e circunstância que o asfalto da Estrada do bairro Marrere ligando da EN1 ao Hospital Geral localizado naquela zona foi lançada à 5 de Março de 2021 pelo então edil da cidade de Nampula, Paulo Vahanle cujo valor inicial era de 29 milhões de meticais.
Este montante, segundo explicou Paulo Vahanle era destinado para asfaltar 1200 metros, quase metade do troço, incluindo a construção de valas de drenagem e uma ponte de 10 metros num prazo de seis meses.
Com o compromisso assumido, pela edilidade e pelo empreiteiro da obra, ZAC construções Lda, uma empresa sedeada em Nampula, o prazo não foi observado e do trabalho feito não tinha qualidade desejada.
As chuvas que abateram a cidade de Nampula naquele período, desqualificaram o trabalho feito pela empreitada, e circular naquele troço voltou a ser um caos para os munícipes que sobretudo vão às suas casas, ao hospital de Marrere e também à Universidade Lúrio.
Um ano depois, foi instalado um ambiente de contradição entre a edilidade de Paulo Vahanle e a empresa ZAC Construções. O município na voz do seu Edil passou a solicitar a devolução do dinheiro, por considerar que foi enganado e até ameaçou levar ao tribunal.
Aliás, na altura, Meti Gondola, Secretário do Estado de Nampula, não ficou alheio. No dia 3 de Março de 2022, visitou aquela estrada na companhia de Paulo Vahanle e igualmente disse ser necessário levar a barra do tribunal os gestores da ZAC Construções pelo incumprimento das suas obrigações. Afinal, foram quase 30 milhões para uma obra péssima sob ponto de vista técnico.
Num encontro com o município de Nampula, nas instalações da edilidade, os representantes do empreiteiro reconheceram e admitiram ser o problema da falta de estudo do lençol freático, enquanto, o edil exigia a devolução do dinheiro. Estranhamente os principais gestores da ZAC Construções não estavam presentes, de igual modo fugiram quando o então secretário do Estado em Nampula, Meti Gondola escalou na obra.
Com essa fraqueza, o partido FRELIMO, viu uma oportunidade e colocou como prioridade no seu manifesto eleitoral e com o candidato Luís Giquira Madubula, foi mais uma vez prometida aos munícipes a asfaltagem do mesmo troço durante os primeiros 100 dias da governação.
Em Maio de 2024, Luís Giquira Madubula, numa Sexta-feira, lançou a primeira pedra que seria materializada através do Fundo de Investimento Autárquico e das próprias receitas.
Para efeito, a nova gestão municipal disponibilizou 30 milhões, quase o mesmo valor lançado à ZAC pela edilidade anterior. Conforme as previsões, depois do lançamento, Luís Giquira Madubula devia inaugurar no dia 22 de Agosto, dia da celebração dos 68 anos da cidade de Nampula e mais uma vez, a pretensão não foi materializada.
Condição actual da estrada
Em entrevista à jornalistas no dia 8 de Abril, o edil de Nampula assegurou que estava pronta esperando-se fazer as bermas, embora durante o trabalho, a nossa reportagem constatou que o mesmo trabalho em falta está longe de ser efectivado.
A estrada de Marrere está pronta e estávamos à espera da segunda faixa e tinha que se fazer as bermas das águas e depois fazermos a inauguração.
Na ocasião, Giquira disse arrancar a manutenção das estradas municipais mais críticas no seu todo.
Segundo os trabalhadores, muitos deles sem fardamentos ou com fardamento incompleto, o fim do trabalho depende do seu patrão, que eles apenas sabem executar as tarefas.
Enquanto isso, os munícipes que usam aquele troço, consideram ser demasiado que os empreiteiros levem muitos anos para concluir um pequeno troço de menos de quatro quilómetros.
Além de ser desgastante, consideram trata-se de uma manobra para saque de dinheiro do Estado ou dos munícipes ao avaliar que em pouco tempo, ou seja, em menos de cinco anos, a mesma estrada teve três empreiteiros de dois presidentes de partidos diferentes.
Ainda, os munícipes se encontram revoltados alegadamente, apesar do asfalto ser concluído, os trabalhos em curso constituírem um constrangimento durante a circulação na rodovia.
“Estrada está demorando, esta estrada não acaba, os donos é que sabem, pergunta os trabalhadores, porque nós estamos à espera desde a há muito tempo”.
“Isso veio de 2021, passam anos até hoje não sei acabar amanhã, mas até hoje a estrada está aí, não acaba, não sabemos o que se passa, embora tenha sido feita e está transitando. A nossa preocupação é acabar toda”, manifestou outro utente da via.
Na nossa deslocação percorremos todos os quilómetros até ao hospital de Marrere. Notamos ao longo do segundo troço ao cargo da empresa Construções Igor limitada, está ainda em obras. Os trabalhadores só sabem dizer que tudo depende do patrão e eles continuam a trabalhar. Há actualmente as colocações de drenos. Notamos também os trabalhadores não têm chapéus e outros com fardamento incompleto e muitos sem botas denunciando pouca seriedade. Mas ainda falta muito por fazer.
Baralho nos valores ou ocultação do custo real da obra?
Na entrada da estrada de Marrere, logo ao deixar a N1, está uma placa da obra que chama atenção. Nela não constam valores a serem aplicados como habitualmente tem sido. Além da empresa responsável pela construção, UTEKA Construções limitada, que em 120 dias devia concluir, ou seja, de 15 de Maio à 14 de Setembro de 2024. Mesmo de ilustrar os valores foi escrito que viria do fundo de apoio e envolvimento autárquico e receitas locais.
Isso revela que a ZAC Construções foi destacada e a nova edilidade decidiu entrar com nova empreitada.
Percorridos 1.2 quilómetros, foi colocada uma segunda placa de ilustração de obras em curso. Mais uma vez, o prazo está vencido. Na ilustração, de 06.06 de 2023 com a duração de 180 dias, deviam terminar no dia 10 de Janeiro de 2024.
Aqui estamos falando, de 2,4 quilómetros, cujo executivo é do fundo de investimento e apoio autárquico no valor de 122, 829, 912, 13 entregues a Icor Construções limitada. Ora, se os primeiros 1,2 quilómetros custaram quase 30 milhões, era suposto que fosse o mesmo valor para as restantes distâncias, mas se somarmos vemos uma diferença de mais 30 a mais. Em pudesse entender que o custo de material.
Contudo, apesar da busca por uma explicação por parte das empresas responsáveis pela construção da estrada, “Integrity” não conseguiu colher qualquer reacção das mesmas. (Reportagem investigativa produzida pela INTEGRITY em parceria com o Centro de Integridade Pública – CIP)