Desde a morte do Papa Francisco, a Roma nunca dorme. As pedras antigas da Piazza San Pietro sussurram nomes, promessas e traições a cada mudança de vento. E agora, enquanto já feito o funeral de Francisco, o cheiro de incenso e conspiração volta a pairar pelos corredores da Cúria Romana. Diz-se, nos jantares discretos dos cardeais, que o próximo conclave pode quebrar um tabu histórico e eleger, pela primeira vez, um Papa africano. Ou então, se não for da África, talvez um filipino. Sim — há murmúrios. E onde há fumaça no Vaticano, quase sempre há fogo.
Por John Kanumbo
Dizem nos corredores do Vaticano — onde o mármore e jazigos antigos rebombam mais as conspirações do que os salmos — que um novo tempo se aproxima. Tempo de fumaça branca e decisões seladas em silêncio. A morte de Francisco, o Papa dos gestos simples e das reformas inacabadas, reacendeu as brasas frias de antigas disputas que jamais morreram: o dia 7 de Maio inicia o Conclave, quem será o próximo sucessor de Pedro? És a nobre questão.
E entre rumores, cochichos de núncios, e sorrisos discretos de cardeais bem informados, três palavras voltaram a circular com peso de segredo nuclear: Máfia de São Galo.
Mas como dizem para entender o presente, é preciso antes de tudo exumar os cadáveres políticos de um passado não tão distante. Antes de falarmos dos possíveis nomes — incluindo um africano e um filipino, cujos nomes soam como esperança para uns e ameaça para outros — é preciso voltar. Recuar.
O termo “conclave” vem do latim cum clave, que significa “com chave”— nasceu não por inspiração divina, mas por revolta popular e manipulação política. Antes do século XIII, os papas eram escolhidos em reuniões abertas de clérigos, nobres e até do povo romano. O caos, os assassinatos e as barganhas eram comuns. Em 964, o papa Benedito V foi eleito pelo povo de Roma contra a vontade do imperador Otão I, que o depôs violentamente. Em 1032, o Papa Benedito IX, um adolescente de 12 anos, foi eleito pela influência da família Tusculani, uma máfia de nobres romanos. A tragédia dessa corrupção levou a medidas desesperadas.
Depois da morte do papa Clemente IV, o papado ficou dois anos e nove meses sem papa. Os cardeais não se entendiam.
O povo e o magistrado da cidade fecharam os cardeais num convento, trancaram as portas e reduziram a comida para forçar a eleição.
E surgiu assim o nome Conclave, com chave, tracado, no século XIII como resposta à interminável disputa pelo poder papal após a morte do Papa Clemente IV, em 1268. O trono de Pedro ficou vago por quase 3 anos (1268-1271), até que os cidadãos de Viterbo, furiosos com a demora, trancaram os cardeais no palácio episcopal, selaram as portas e ameaçaram cortar o fornecimento de comida e água. Só assim, na pressão, elegeram Gregório X. Imagine, nem os ratos de Roma aceitaram tal palhaçada: a fome, não o Espírito Santo, fez o papa. E o resultado, elegeram Gregório X, que então oficializou o sistema de Conclave por decreto em 1274, no Concílio de Lyon II. Cardeais reunidos a portas fechadas. Sem contacto externo. Com votações diárias até a eleição de um papa. Como diz Voltaire, Carta a Diderot, 1770, “Quem fecha os cardeais com cadeado, abre as portas do inferno para os interesses.”
Durante a Idade Média e o Renascimento, os conclaves eram menos um acto espiritual e mais um leilão entre famílias nobres, reinos e facções clericais. Voltemos um pouco. No conclave de 1378, que elegeu Urbano VI, os cardeais franceses foram pressionados pelo povo romano com ameaças de morte para escolher um papa italiano. Assim o fizeram. Depois, fugiram para Avinhão e elegeram outro papa, Clemente VII, originando o Cisma do Ocidente (1378-1417) — período em que três papas simultâneos se excomungavam uns aos outros. Quando três homens dizem ao mesmo tempo que são a única voz de Deus na Terra, o próprio céu deve gargalhar.
Como afirmei durante a Idade Média e Renascença, as eleições papais eram dominadas por subornos, alianças familiares e pressões políticas de reis e imperadores. O Conclave de 1492, por exemplo, que elegeu Alexandre VI (Rodrigo Bórgia), é até hoje considerado o mais corrompido da história: Rodrigo subornou cardeais com cargos e dinheiro. O cardeal Ascanio Sforza recebeu o lucrativo cargo de Vice-Chanceler da Igreja. Houve orgias secretas no Vaticano, relatadas por Johann Burchard, mestre de cerimônias papal. Esses são os homens que diziam carregar as chaves do céu, mas não passavam de mafiosos de batina. Alexandre VI transformou o Vaticano num bordel político, e até o diabo coraria perante tais escândalos.
Com o tempo, as manobras ficaram mais discretas, mas não menos violentas. O Conclave de 1903, por exemplo, viu o imperador Francisco José da Áustria vetar a candidatura do cardeal Rampolla, que teria um perfil liberal demais. Ele foi excluído a mando secular. Esse Conclave de 1903 — Conclave de Pio X: O último conclave onde o jus exclusivae (direito de veto) foi usado oficialmente. O cardeal austríaco veto o favorito Rampolla, porque era próximo da maçonaria e liberal demais para a Áustria-Hungria católica.
Depois disso, o Vaticano proibiu vetos externos. Oficialmente. Isso obrigou a Igreja a abolir oficialmente o veto secular. Mas as pressões continuam de forma velada.
De 1958 — Conclave de João XXIII:
Documentos e testemunhos como os de Malachi Martin sugerem que o favorito era Siri, cardeal conservador. Mas pressões políticas internas, rumores de chantagens e interesses pró-progressistas levaram à escolha de Angelo Roncalli (João XXIII).
Até hoje há teorias de que Siri foi papa por minutos antes de ser forçado a renunciar. O Espírito Santo talvez vote; mas quem conta os votos é César.
Já no século XX, dois blocos se confrontaram constantemente: Os conservadores (curialistas). Os progressistas (liberais moderados). Em 1978, durante o Conclave que elegeu João Paulo I (que morreu misteriosamente após 33 dias) e depois João Paulo II, relatos como o de David Yallop em In God’s Name (1984) acusam o envolvimento da máfia teve apoio directo de sectores da CIA e da Maçonaria Italiana P2, banco do Vaticano e interesses financeiros. João Paulo I, ao tentar mexer no banco, foi encontrado morto — e até hoje o Vaticano se recusa a fazer autópsia. A fumaça branca pode subir, mas o cheiro de enxofre nunca sai.
Agora o mais sujo:
Entre os anos 1995 e 2005, um grupo clandestino de cardeais e bispos se reunia em St. Gallen, Suíça, para planejar o futuro da Igreja e eleger um papa progressista que substituísse João Paulo II e freasse Joseph Ratzinger (Bento XVI).
Voltar para onde tudo começou: Suíça, década de 1990. Diocese de St. Gallen. Pois como se diz, é impossível falar de sucessão papal sem citar a Máfia de São Galo nesta nossa era, esse grupo clandestino de cardeais que, entre o fim do século XX e o início do XXI, se reuniu fora das vistas da cúria, na pacata diocese suíça de St. Gallen, para decidir o destino da Igreja.
Ali, não em Roma, não em Jerusalém, mas no silêncio alpino, nasceu o grupo mais secreto e audacioso da Igreja contemporânea. Não tinham armas, mas tinham votos. Não tinham exércitos, mas tinham influência de dos melhores patronos do mundo. Eram bispos e cardeais reformistas, insatisfeitos com o endurecimento doutrinário do pontificado de João Paulo II e, sobretudo, com a figura ascética e teologicamente rigorosa de Joseph Ratzinger, o homem que depois se tornaria Bento XVI.
Segundo o cardeal Godfried Danneels, um dos seus membros confessos, o grupo tinha como objectivo: Impedir a eleição de conservadores e instalar alguém da linha reformista e liberal ou seja, progressista. No conclave de 2005, tentaram eleger Bergoglio (Papa Francisco). Não conseguiram, e Bento XVI foi eleito. Esse grupo teria actuado decisivamente no conclave de 2005 contra Joseph Ratzinger (Bento XVI), e com mais sucesso em 2013, na eleição de Jorge Mario Bergoglio (Francisco). Imagine máfia eclesiástica que cita evangelhos mas age como um bando de cardeais mafiosos a serviço de agendas ideológicas.
Seu alvo, todos sabiam, era um só: Joseph Ratzinger. Um conservador inflexível, herdeiro ideológico de João Paulo II, que via na tradição a última trincheira contra a secularização ocidental. A Máfia queria impedir sua ascensão no conclave de 2005. Fracassaram. Ratzinger foi eleito como Bento XVI, mas as fissuras se aprofundaram. A Igreja, dividida entre progressistas e conservadores isto é, tradicionalistas entrou em convulsão.
Em 2005, após a morte de João Paulo II, se revelou a existência dessa chamada Máfia de São Galo — um grupo de cardeais que buscava barrar a ascensão do cardeal Ratzinger (Bento XVI) e do Opus Dei ao comando da Igreja. Entre eles, Carlo Maria Martini, Walter Kasper e Godfried Danneels, Achille Silvestrini, Cardeal Murphy-O’Connor, Cardeal Lehmann, e entrentre outros. Não era bem uma confraria. Era um pacto. Um juramento tácito: evitar a qualquer custo que a Igreja se tornasse um bunker de moralismo e nostalgia medieval. Eles queriam um novo concílio, queriam diálogo com o mundo moderno, queriam uma Igreja menos romana e mais global. Mas perderam. Bento XVI foi eleito. O conservadorismo sorriu. O Opus Dei seguiu intacto. Os progressistas falharam. O conclave daquele ano coroou Ratzinger em poucas rodadas. O progressismo perdeu sim. Mas a “Máfia” não morreu. Apenas hibernou.
O próprio Godfried Danneels confessou em entrevista à TV belga, 2015, “eles me chamavam de a Máfia de São Galo. Não era mentira.” ….“Éramos um grupo que se opunha à visão ultraconservadora do Opus Dei e seus aliados.”
Em 2013, Bento XVI renuncia. A versão oficial: idade e saúde. Mas investigações independentes, como o livro Ratzinger Was Afraid de Antonio Socci (2017), sugerem: Chantagens envolvendo o dossiê Vatileaks. Escândalos financeiros no Banco do Vaticano. Pressão do bloco de St. Gallen, que já controlava boa parte da Cúria.
E a ocasião surgiu em 2013, quando escândalos financeiros, dossiês secretos (o famigerado Vatileaks) e lobbies internos forçaram a renúncia inédita de Bento XVI. Até que veio 2013. Renúncia. Dossiês secretos sobre lobbies gays, corrupção bancária no IOR, chantagens e orgias espirituais na sombra do domo de São Pedro. O Vaticano, pela primeira vez em séculos, não suportou mais segurar sua podridão interna. Bento XVI partiu, com os olhos baixos e uma mala cheia de pecados que não eram seus. Bento XVI não renunciou. Foi renunciado. Porque De St. Gallen, os cardeais planejaram um novo golpe.
Era a vez de Jorge Mario Bergoglio, o argentino de Buenos Aires, considerado um ‘outsider’ hábil em manobras discretas, apoiado por membros sobreviventes da Máfia de São Galo que são os progressistas. E então, a Máfia de São Galo voltou e renasceu. Com tudo. Jorge Mario Bergoglio, jesuíta argentino, outsider do poder central, reformista ambíguo, foi levado ao trono. Francisco. O Papa do Fim do Mundo. O Papa Francisco foi, para muitos, a vitória póstuma daquele grupo. E agora, com sua partida iminente, o velho fantasma de St. Gallen ronda de novo o conclave que se avizinha.
No conclave que elegeu Jorge Mario Bergoglio, os remanescentes da Máfia de St. Gallen enfim conseguiram. Danneels confessou em 2015: “Participamos ativamente para garantir a eleição de Francisco. Fomos um lobby.” O Conclave foi o mais rápido da história moderna.
Muitos nomes conservadores nem sequer tiveram chance de disputar. Sempre digo, na fumaça branca da Capela Sistina, subiu o cheiro da conspiração secular.
Mas agora… é o fim do fim do mundo? Entre Conservadores e progressistas? Deve se unirem ou ainda disputar quem será novo lider…
Não o Francisco morreu. Ou está à beira entre os aliados. O que importa é que o conclave de 2025 se aproxima. E com ele, a tensão geopolítica mais importante da Igreja nos últimos cinquenta anos.
Será que finalmente o Sul global assumirá o comando? Será que África terá seu primeiro Papa negro? Ou será que o Oriente se levantará, como sinal de um novo catolicismo filipino e asiático?
Ou… voltaremos a ver a sombra da Máfia de São Galo, com suas pautas pós-modernas, tentar eleger outro progressista europeu — alguém moldado para continuar reformas e evitar um retrocesso litúrgico?
Actualmente, o Vaticano controla rigorosamente a cobertura mediática e os bastidores de conclaves.
Mas rumores persistem: Cardeais se reúnem em segredo antes do conclave para formar alianças. A geopolítica pesa mais que a teologia. O lobby LGBT e progressista está ativo na Cúria. O conclave segue fechado com chave. Não por piedade, mas por vergonha.
Há vozes no Vaticano — algumas discretas, outras audaciosas — que sussurram os nomes de dois candidatos que poderiam fazer história: Um africano: o cardeal Peter Turkson, de Gana, experiente nos corredores diplomáticos e já figurando como papabile desde o último conclave de 2013 aliado do Francisco. E um filipino: o cardeal Luis Antonio Tagle, cardeal jovinho, carismático e com forte apoio da ala progressista e da Ásia, onde o catolicismo ainda cresce. Matteo Zuppi (Itália), e até mesmo um certo Raymond Burke, símbolo da revanche conservadora, que se ergue como ameaça a tudo o que Francisco tentou construir.
Nos bastidores, os dossiês se multiplicam. Velhos pecados ressurgem em pastas anônimas. Cúrias se armam como quartéis silenciosos. O próximo conclave não será apenas uma escolha espiritual — será uma guerra eclesiástica.
Hoje, os conclaves são controlados por jogos de influência global: Vaticano versus Opus Dei. Vaticano versus lobby LGBT clerical. Vaticano versus os oligarcas italianos. E as pressões de potências como EUA e China.
O conclave de 2013 por exemplo foi vigiado pela NSA e pela inteligência italiana, conforme revelou o jornalista Gianluigi Nuzzi. E o próprio Papa Francisco reconheceu que “não é mais Deus quem escolhe, mas os interesses da Cúria e do mundo” (entrevista ao La Repubblica, 2017).
A história dos conclaves é a história de tudo que Cristo jamais pregou. Tráfico de influência, chantagens, morte por envenenamento (caso de João Paulo I, segundo David Yallop), alianças secretas, pactos de sangue e subornos em nome de Deus. Em todas as religiões, a política é a prostituição da fé. E o Vaticano é o bordel mais antigo e lucrativo do Ocidente.
Se a tradição for quebrada, será sob o olhar atento de quem viu a Máfia de São Galo operar — porque os lobbies vaticanos não morrem, apenas mudam de rosto e de sotaque.
O funeral de um Papa sempre foi mais do que luto. É ocasião de diplomacia secreta, acordos de poder e bênçãos prometidas. Não estranhe se líderes como Trump e Zelensky se encontrarem às portas da Basílica, como num teatro de máscaras. Nem se Macron e Starmer fecharem acordos no silêncio das sacristias vaticanas.
A história está se repetindo. A fumaça branca que subir em 2025 carregará séculos de intrigas, conspirações e fantasmas. E quem sabe, pela primeira vez, o nome pronunciado no balcão de São Pedro venha do continente africano ou das ilhas asiáticas.
E há quem diga que o verdadeiro Papa já foi escolhido. Num encontro secreto. Num jantar onde vinho e profecia se misturam. Mas isso… eu te conto depois.
E, no fim de cada conclave, a multidão ansiosa volta os olhos para a chaminé da Capela Sistina. Fumaça branca, fumaça negra… que grande farsa!
Porque, convenhamos — a fumaça nunca foi negra de verdade. Ela é só uma pausa dramática para manter o espetáculo, para dar a ilusão de disputa, como se ali dentro não estivesse tudo já cozinhado nas cozinhas da Máfia de São Galo, dos lóbis financeiros e das ordens secretas de batina.
Quem será o novo Papa? Ora, vocês são adultos, Pha! A resposta não está nos céus, nem na fumaça que sobe. Está nas planilhas suíças, nos acordos sob a mesa e nos dossiês secretos dos cardeais que controlam Roma.
A fumaça sempre foi branca…
branca como o pano sujo que cobre os cadáveres políticos e morais da Cúria. E se por acaso sai negra, é porque algum cardeal esqueceu de assinar o cheque certo.
Riem, brindam com vinho tinto, e voltam a votar. A plateia aplaude o teatro. A igreja cai aos pedaços — mas o ritual do fumo segue intocável.
O Vaticano, meu caro, até os mortos conspiram.