Aos poucos, num ritmo característico, possuída dum espírito acolhedor, abraças vientes e gente nativa instalados em cada um dos teus 19 dedos que prosperam e erguem-te em muros gigantescos de grande dimensão e valor.
Sua educação sobrevive. Eras, em todos os dedos, desde o N’tondooco à Ngame, Lilonga, Nassato e, com tempo, abraçou Matambué, deslizando no cimento, e percorreu o corredor desde Chanica, Mbau, Joho, Mepapa Mbalale até Muita, e nas suas curvas roçou Entre Rios, Namapiri, Chicuenda, Nassato e Matemba; sua extensão nos lembra, com nostalgia, Nyerere, que em meio ao caos, foi sempre destemido, e hoje cresce desordenado num silêncio cúmplice de parte da tua gente.
Ainda nem falei de Mironga e de todas as suas tramas e ciladas, lá onde o dia se confunde com a noite. Onde os menores sentem‐ se adultos. Naquele pedaço cabe toda tua estória e ainda sobra toda futilidade.
E quem já percorreu‐te a dedos sabe que hoje cresces também em altura, tens ganhado identidade própria e vislumbra-se um sinal de vigor no teu rosto, e ousas apontar os céus; nascem-te cuidados diferentes e, a esse ritmo, não bastarão escadas para escalar‐te.
Ainda assim, nem toda tua história cabe nos teus 39 anos. Tua idade supera varizes de gente já idosa, memórias ou lembranças pálidas dos tempos da escassez da luz; tempos que hoje habitam no esquecimento, que resistiram a mitos de anões produtores nos campos, às fábulas de gente nua banhando sobre Ngame ou as intimidações da tua malta na cachoeira de Naucheche.
Quantos te abandonaram neste trajecto? Quando percorrias horas infinitas naquele martírio, nos buracos, debaixo de chuvas à busca de sustento na Vila Cabral ou quando te acusavam de adúltera com o Amaramba; até aos encantos dos teus irmãos Catur e Belém foste associada, Mandimba; nem mesmo quando recentemente o bailado e toda orquestra das balas de Nyerere soavam mais que os batuques de Amalilo, a tua grandeza continuou intacta e prazerosa.
Mas hoje, de lés a lés, essa gente grita e se orgulha dos êxitos sem conhecer o suor. As esquinas outrora assombradas, hoje acolhem outras paisagens que iludem os nossos olhos, que se enchem de lágrimas e inundam Ngame.
Na busca pelo reconhecimento do mundo pariram‐ se lutas, abortaram‐ se sonhos. No leito do parto e da sepultura, à luz, ainda que escassa e oscilante, encandeia parte dos teus dedos. Mana, na tua graça há esperança do divórcio com os poços para ver jorrar saúde na água!
Óh! Mandimba, minha cara jovem! Admira‐me que apesar da conjuntura permaneças de pé, limpa e saudável. Cuidando dos teus, dando de comer e beber tanta gente! Toda molhada de suor dos tendeiros, mesmo assim não reclamas; com tantas marcas de rasga-mantas sobre ti, continuas serena; a tua paciência habita o infinito, mesmo quando veículos de toda cilindrada alugam o teu corpo e ignoram os sinais de proibição, continuas pura.
Ainda que de pé descalço, com calcanhares todos enrugados, decorados de toda carência, tuas virtudes emergem por entre cinzas, tua entrega reafirma tuas lutas e revigoras‐te a cada dia.
Mãe, irmã, mana e protectora, temos orgulho de ti, das tuas conquistas e do teu futuro. Assuma o teu destino, miúda! Não te enganes pela idade, pelos assobios e hossanas de forasteiros. Não adormeças nas decorações e elogios típicos das festividades de hoje, esses enfeites disfarçam tuas lutas e te distraem do foco.
Feliz Aniversário Vila Municipal de Mandimba!
Pré Destinada
Ntumbuluka Mucavele
Geraldina Paia Gueze