Apesar do compromisso anunciado, a Dugongo já aponta para novos horizontes: a empresa pretende usar os portos de Nacala e de Dar-es-Salaam para iniciar a exportação de cimento, com o objectivo de expandir a sua presença na região dos Grandes Lagos. Essa estratégia de internacionalização, embora economicamente ambiciosa, levanta dúvidas sobre a real prioridade da empresa — atender o mercado interno ou conquistar lucros externos.
A realidade actual é dura para a maioria dos moçambicanos. Com os preços do cimento acima dos 400 meticais por saco de 50 kg, construir uma casa tornou-se um sonho cada vez mais distante. Em regiões como o Centro e Norte do país, os custos logísticos empurram o preço para os 600 meticais, aprofundando ainda mais as desigualdades regionais.
Durante a sua campanha eleitoral, o ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane fez desta problemática uma das suas bandeiras, propondo medidas concretas para aliviar a pressão sobre os bolsos dos cidadãos. Contudo, até agora, os avanços têm sido pontuais e insustentáveis.
Segundo o gestor Mateus José Jr., a Dugongo relançou recentemente uma grande operação de produção de cimento no Norte do país, destinando boa parte dessa produção para abastecer o Sul. A intenção é aliviar a pressão sobre os preços em zonas mais populosas como Maputo, onde em Janeiro de 2025 houve uma queda momentânea de preços — com sacos a serem vendidos entre 280 e 300 meticais. No entanto, essa baixa foi efémera, sufocada pelo aumento dos custos de produção, nomeadamente do carvão e do gasóleo.
Em resposta à insatisfação crescente, o governo moçambicano anunciou que vai remover a protecção à indústria do cimento. A medida visa estimular a concorrência e forçar a descida dos preços num sector ainda fortemente dominado por poucas empresas, como a própria Dugongo.
Enquanto os discursos corporativos e governamentais prometem alívio, os moçambicanos continuam a enfrentar um mercado desequilibrado, com preços que ainda não reflectem as reais condições de vida da maioria. Fica o desafio: priorizar o cidadão ou continuar a favorecer um mercado que, até agora, beneficia poucos à custa de muitos. (Nando Mabica)