A educação é a base de desenvolvimento de qualquer sociedade, se entendermos o desenvolvimento não apenas sob a perspectiva de crescimento económico, mas também como a provisão de serviços sociais básicos, como saúde, educação, habitação, entre outros, tal como afirma Rist (2002), na sua obra, o desenvolvimento, que o mesmo tem a ver com as práticas económicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, que se correspondem com os caracteres externos.
Por: Carmelinda Alberto Miambo (Livre Pensadora)
Júnior (2023), debruçando-se sobre a importância da educação como ferramenta para enfrentar os desafios da sociedade da informação e do conhecimento, compreende a educação como um processo que aperfeiçoa as capacidades do ser humano, através do desenvolvimento de conhecimentos e habilidades.
A Constituição da República de Moçambique (2004, Art. 113), preconiza que para além da erradicação do analfabetismo, a educação visa o domínio da ciência e da técnica, assim como da formação moral e cívica dos cidadãos, porém, este princípio parece contrastar com a realidade moçambicana, onde o domínio da ciência e da técnica parece pertencer a um número irrisório dos beneficiários da tal educação. O que será que está falhando? E o que falar da participação cívica e moral dos cidadãos em Moçambique, será que o País está preparado para lidar com actores sociais interventivos? Estas são algumas reflexões que circundam algumas mentes ávidas de ver um Moçambique melhor!
A educação formal em Moçambique deixa muito a desejar, esta reflexão faz-me lembrar as vivências sociais e as conversas informais quotidianas mantidas com algumas pessoas do círculo social, que levam a ilacção de que frequentar uma escola, instituto ou universidade em Moçambique é comum a uma parte significativa da população, porém, sobre o produto que advém da mesma, não responde às expectativas da sociedade, daí que em muitas mentes permeia a questão sobre educar para-que em Moçambique? Será que estamos formando realmente profissionais aptos para um mercado competitivo? Em outras palavras, a questão pode ser traduzida em: Moçambique forma doutores “vira-latas, ou se quisermos chuta-latas” ou indivíduos e profissionais com capacidades e habilidades para a inserção no desenvolvimento social?
Freire (1996), na sua obra, pedagogia da autonomia, dá um respaldo sobre a questão da educação, evidenciando a questão da mudança no acto de ensinar, onde afirma que o mundo não é um projecto acabado, mas sim em construção, daí que o papel do sujeito no mundo é de constatar ocorrências para mudar, quer na história, cultura, política, entre outros saberes.
As análises sobre as questões acima, podem acarretar muitas nuances de natureza diversa, daí que esta análise visa levar a sociedade e a quem é de direito a analisar sobre que sociedade queremos. Que tipo de formandos e formados precisamos para desenvolver o nosso País? Será que queremos cidadãos e profissionais competentes para a construção de uma sociedade pró-activa ou queremos somar o número de doutores com certificados, mas sem competências?
Lima Edwiges et al. (2019), reconhecem que em qualquer que seja a educação, quer formal ou informal, os princípios de justiça estão sempre patentes, e conferem ao cidadão o espírito de pertencimento social e de exercício de cidadania.
Esta análise de igual modo leva a reflexão sobre o incremento do número de formados, porém, também o incremento de desempregados “pedintes de emprego”. Será que a avalanche de doutores está preparada para a competitividade no mercado laboral? Será que Moçambique forma pessoas capacitadas para gerar trabalhos e empregos, ou forma pedintes de empregos e “chuta-latas”?
Moçambique talvez precise parar para reflectir no tipo de educação capaz de reconstruir o País, com competências que permitam usar as habilidades para reconstruir um Moçambique melhor.
A questão sobre formar quadros competentes, capazes de intervir socialmente de forma eficaz e eficiente, merece um tratamento radical, sobre quem são os formadores, que condições estão disponíveis para uma formação com qualidade, a tal almejada. Que tipo de problemas esses profissionais da educação levantam? Estas e outras questões podem nortear esta análise.
A educação deve ser vista como uma estrutura de base que norteia todo o processo de desenvolvimento de uma sociedade, daí que urge a necessidade de se repensar no modelo da “infraestrutura” educacional que deve ser implementada, para o caso de Moçambique.
Num Moçambique onde as Universidades e institutos superiores multiplicam-se de uma forma vertiginosa, e o ingresso massivo de estudantes às tais instituições de ensino também é notório, se não se estiver a brincar de fazer de contas…, talvez seja o momento oportuno de se sentar para se ressignificar o papel das instituições de ensino, assim como da proliferação dos “doutores”, título este bastante usado em moz!
“ Educar para ser “dr” ou para o saber fazer”?
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA: SABERES NECESSÁRIOS A PRÁTICA EDUCATIVA. 25º Edição. São Paulo. PAZ E TERRA. 1996.
JÚNIOR, João Fernando Costa. A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO. Revista Convergências: estudos em humanidade digitais- v. 01, nr. 01, p. 127-144. 2023.
LIMA, Edwiges Inácia et All. O PAPEL DA EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL NA FORMAÇÃO POLÍTICA DE MULHERES EDUCADORAS. Revista Pegada, vol. 20, n.1. 2019.
Moçambique. Constituição da República de Moçambique. Maputo: Boletim da República, 2004.
RIST, Gilbert. El desarrolo: Historia de una creenncia Occidental. Instituto Universitario de desarrolo y cooperaction. 2002.