Há uma década, uma pesquisa do Conselho de Investidores da África revelou que grandes empresas enfrentavam dificuldades para recrutar talentos qualificados nessas áreas, enquanto a Fundação Africana para o Desenvolvimento de Capacidades (African Capacity Building Foundation) relatou que apenas cerca de 20% dos estudantes do ensino superior na África Subsaariana estavam matriculados em disciplinas científicas e tecnológicas.
Diante dessa realidade, uma revolução silenciosa, porém transformadora, começou com a criação dos Centros de Excelência em Educação Superior (ACEs) da África em 2014.
Um investimento estratégico para um impacto duradouro
Com mais de 657 milhões de dólares do Banco Mundial e um cofinanciamento de cerca de 72 milhões de dólares da Agência Francesa de Desenvolvimento, o programa melhorou a qualidade da educação científica e tecnológica através da criação de mais de 80 Centros de Excelência em 50 universidades de 20 países africanos.. Ela não apenas transformou o ensino superior, mas também fortaleceu a pesquisa aplicada e a inovação — principais impulsionadores da competitividade da África.
Até o momento, o programa ACE:
- Treinou mais de 90.000 alunos, incluindo 7.650 em doutorado e 30.200 em mestrado.
- Produziu mais de 10.350 publicações de pesquisa revisadas por pares internacionalmente.
- Forneceu quase 18.000 estágios, conectando estudantes com empresas e facilitando a aplicação prática de pesquisas.
- Aumentou a presença de mulheres na ciência, com uma taxa de matrícula feminina de quase 32%.
- Estabeleceu 600 programas credenciados nacionalmente e mais de 130 programas credenciados internacionalmente.
- Forneceu mais de US$ 183 milhões em financiamento externo gerado para garantir a sustentabilidade do programa.
Por meio de investimentos em instalações de última geração e laboratórios de ponta, a iniciativa ACE atingiu um objetivo ousado: posicionar a África como um ator global em pesquisa e inovação.Já se foram os dias em que os melhores alunos tinham que viajar para fora do continente para obter uma educação de qualidade. Hoje, eles podem ser treinados na África e permanecem para contribuir em áreas cruciais como saúde, agricultura, engenharia, meio ambiente, energia, transporte e tecnologias digitais.
Além dos números: um impacto na vida real
Além das estatísticas, esses avanços melhoraram diretamente a vida das pessoas.
Na Nigéria, pesquisadores da Redeemer’s University têm estado na vanguarda da pesquisa genômica transnacional de alta qualidade, com o desenvolvimento de novas soluções para enfrentar desafios de saúde pública de amplo alcance. Eles desempenharam um papel fundamental no sequenciamento dos genomas do ebola e da COVID-19, contribuindo para os esforços globais de combate a essas pandemias.
Os avanços em biotecnologia agrícola realizados por ACEs em Gana, Quênia e Nigéria resultaram no desenvolvimento de variedades de culturas melhoradas com maior resiliência a doenças, pragas e desafios ambientais. Somente em Gana, aproximadamente 280 variedades de culturas melhoradas foram introduzidas, permitindo que mais de um milhão de agricultores em 10 países aumentassem significativamente sua produtividade.
A integração da inteligência artificial (IA) e da “Internet das Coisas” nos currículos acadêmicos em Ruanda, Nigéria e Senegal está preparando uma nova geração de profissionais para os empregos do futuro.
Mais importante ainda, muitos graduados da ACE estão ajudando a adotar e adaptar tecnologias novas e existentes para aumentar a produtividade e o crescimento econômico.
Mantendo o rumo: moldando trajetórias futuras
Ao celebrarmos uma década de impacto, o trabalho ainda está incompleto. A prioridade agora é consolidar essas conquistas e ampliar a transformação da África. Recentemente, governos, universidades, Centros de Excelência e seus parceiros se reuniram em Acra, Gana, para avaliar o programa e delinear a direção estratégica para o futuro. Este importante encontro ofereceu a oportunidade de fortalecer os compromissos de governos e parceiros para garantir a sustentabilidade do programa e expandir as oportunidades de parceria entre universidades e indústrias para impulsionar a criação de empregos e a empregabilidade de graduados.
É crucial alavancar as tecnologias digitais, especialmente os rápidos avanços em IA, para aprimorar o acesso e a qualidade dos programas, ao mesmo tempo em que expande o conjunto de especialistas em habilidades digitais avançadas em todo o continente. Aprimorar as colaborações regionais para maximizar o impacto da pesquisa e desenvolvimento e a transposição da pesquisa para o mercado em todo o continente também são essenciais para fomentar um ecossistema de inovação mais integrado e dinâmico.
O desenvolvimento de uma força de trabalho altamente qualificada é um imperativo económico para África
O futuro da África depende de uma força de trabalho altamente qualificada. A iniciativa ACE provou que investir no ensino superior não é apenas uma busca acadêmica — é uma necessidade econômica. Esses Centros de Excelência lançaram as bases para uma economia impulsionada pelo conhecimento, impulsionada por talentos, pesquisas e soluções africanas.
Agora, mais do que nunca, o investimento contínuo no ensino superior é crucial para garantir a competitividade e a inovação da África no cenário global. A oportunidade de moldar o próximo capítulo dessa transformação está em nossas mãos. Vamos capacitar as mentes mais brilhantes da África para aprender, liderar e impulsionar a transformação do continente a partir de dentro.
Este artigo foi publicado originalmente na AllAfrica.