Análises laboratoriais diversas concluem que, em alguns casos, a água está contaminada por bactérias maléficas ou químicos prejudiciais à saúde humana. Os bairros do Alto Maé, Minkadjuine, Munhuana, Bagamoyo; no Município de Maputo, e Tchumene, Malhampsene, Zona Verde; no Município da Matola, por exemplo, estão entre alguns locais que registam casos de águas turvas. Além de turva, há vezes em que a água jorra com odor, contrariando dessa forma os parâmetros (biológicos, físicos e químicos) do índice de qualidade para o consumo humano.
A situação está a deixar os consumidores receosos sobre a qualidade do líquido para o consumo, pelo que muitos têm optado por não beber, passando a comprar água purificada. Os casos têm sido frequentes nos períodos chuvosos, segundo revelaram várias fontes ao Observatório Cidadão para a Saúde (OCS), durante a colecta de dados para pesquisa sobre determinantes sociais de saúde.
Os casos denunciados evidenciam a violação do decreto ministerial n° 180/2004 de 15 de Setembro que regula sobre a qualidade da água para o consumo humano. Perante o cenário crítico de abastecimento de água, os consumidores tornam-se vulneráveis a contrair doenças devido ao consumo de água imprópria, sobretudo para famílias que não têm condições de recorrer à compra de água potável/tratada vendida em galões. Consta que água não potável pode servir de vetor de transmissão de diversas doenças, colocando em risco a saúde de milhares de consumidores. Aliás, há várias pessoas a se queixarem de doenças (vômitos, diarreias e dores estomacais) supostamente causadas por consumo de água imprópria.
As suspeitas em causa surgem pelo facto de o mal-estar acontecer logo após consumirem água. Por exemplo, uma menor de 9 anos de idade, residente no bairro Luís Cabral, na cidade de Maputo, ficou doente em Março de 2025 logo após consumir água da rede pública, que na altura jorrava com algum nível de turvação, após sequência de chuvas torrenciais. A criança sofreu com dores estomacais e diarreia e só começou a registar melhorias após atendimento médico, segundo revelou a mãe da criança, que preferiu falar na condição de anonimato.
“Geralmente, nós usamos água tratada que compramos em garrafões, mas acredito que a criança se distraiu e consumiu água da torneira. Isso aconteceu numa semana em que a água jorrava turva no meu bairro”, referiu a mãe da menor vítima da doença, supostamente causada pelo consumo de água turva da rede pública. Por outro lado, no bairro de Tchumene 2, no Município da Matola, Virgínia Rúben contou ao Observatório Cidadão para a Saúde (OCS) que na zona onde vive tem sido recorrente jorrar água turva, sobretudo na época chuvosa.
Apesar dos riscos, Virgínia diz que sua família continua a consumir água da rede pública por falta de condições de comprar água mineral. Aliás, a fonte conta que a preocupação com a saúde sempre existe, pelo que são obrigados a ferver a água antes de utilizar, como forma de eliminar quaisquer possíveis vetores de transmissão de doenças.
A situação de abastecimento de água imprópria na rede pública para o consumo é um problema de dimensão nacional. De várias províncias do país, surgem relatos preocupantes de fornecimento e consumo de água imprópria para humanos. Por exemplo, moradores de vários bairros da cidade de Tete e Moatize têm denunciado que suas torneiras jorram água turva. Aliás, segundo alguns estudos, trata-se de água contaminada com metais (Manganés e Ferro) devido à exploração de minérios por diversas empresas naquela província.
Esta denúncia sobre abastecimento de água não potável para o consumo humano, por exemplo, consta também de um estudo realizado recentemente em Tete pelo académico Paulo Marcos Sebastião, licenciado em Engenharia Química, Mestrado em Saúde e Doutorado em Energia e Meio Ambiente. O estudo em causa produzido em 2022 refere também que parte dos poços onde a água da rede pública é captada está localizada em zonas contaminadas por bactérias fecais, bem como em áreas onde a prática da agricultura com recurso a adubos químicos e deposição de resíduos sólidos é recorrente. Para o académico, estas situações colocam em causa a qualidade da água sobretudo tendo em conta que a forma de tratamento/purificação é deficiente.
“O país precisa de técnicos qualificados e ter técnicas mais actualizadas para o tratamento da água, mas infelizmente ainda estamos atrasados. Precisamos também de ter uma forte componente de fiscalização do sector das águas, porque a água é vida. E a ausência disso tudo é notável através do que está a acontecer, fornecimento de água sem qualidade” disse o académico Paulo Marcos Sebastião em entrevista ao Observatório Cidadão para a Saúde.
Análises Laboratoriais Confirmam Impotabilidade de Água Consumida
Há casos em que a olho nú é possível perceber que a água que jorra é um risco à saúde pública. É neste contexto que várias entidades e pessoas singulares têm se deslocado ao Laboratório Nacional de Higiene de Alimentos e Águas, localizado no recinto do Hospital Geral de Mavalane, na cidade de Maputo, para submeter amostras de água para a devida análise. No local, o Observatório Cidadão para a Saúde (OCS) constatou que há cada vez mais pessoas interessadas em perceber o nível de qualidade da água que consomem. Uma estudante do ensino superior que preferiu falar na condição de anonimato, por exemplo, submeteu cinco (05) análises ao laboratório em causa, cujas amostras da água foram extraídas em mercados localizados em vários bairros da cidade de Maputo.
Deste número (05), três (03) confirmaram que a água da rede pública fornecida nos mercados é Zimpeto, Xipamanine e Xiquelene não oferece condições para o consumo humano, apesar de estar a ser consumida pelos utentes. Em entrevista ao Observatório Cidadão para a Saúde, a estudante lamentou a situação de não potabilidade da água, mas mostrou-se entusiasmada por ter resultados que poderão suscitar muito debate na pesquisa académica que está a produzir.
Sabe-se que há um histórico longo de resultados negativos sobre a análise da água consumida no país. A preocupação estende-se também sobre a água fornecida pelos operadores privados, segundo constatou o OCS. Preocupado com a situação, Hilário Manhique submeteu à análise amostras de água fornecida através de um furo privado e o resultado foi negativo. A água em causa, segundos os resultados, não está em condições de ser consumida pelos humanos, mas é fornecida no bairro das Mahotas, na cidade de Maputo. Importa referir que estes são alguns dos exemplos daquilo acontece em várias partes deste país.
Especialista em Química, Meio Ambiente e saúde alerta sobre riscos para gerações
Sobre a situação de abastecimento de água imprópria para o consumo humano, o Observatório Cidadão para a Saúde cruzou várias fontes para perceber o alcance desta problemática. O académico Paulo Marcos Sebastião, licenciado em Engenharia Química, Mestrado em Saúde e Doutorado em Energia e Meio Ambiente, considera que é inadmissível o abastecimento de água imprópria à população humana para um país que pretende desenvolver, sobretudo tendo em conta que Moçambique é signatário da norma internacional ISO 24500 que define padrões de qualidade de água. Assim, segundo a fonte, colocar em risco a saúde do povo devido ao fornecimento de água imprópria significa retroceder o alcance objectivos de desenvolvimento sustentável, por conseguinte colocar Moçambique num ciclo de subdesenvolvimento.
“Consumo de água imprópria prejudica a saúde, por conseguinte influência para a baixa produtividade. Assim, corremos o risco de ter população improdutiva e a necessitar cuidados de saúde permanentemente, o que vai pressionar o sector em busca de cuidados sanitários”, referiu Paulo Sebastião, acrescentando que o problema (abastecimento de água imprópria para consumo humano) torna-se frequente devido à fraca fiscalização por parte das autoridades que lidam com política de água. Por consequência disso, o especialista em Engenharia Química, Meio Ambiente e Saúde alerta que o país está a caminho de ter gerações de população humana com doenças crónicas, caso as autoridades continuem a ignorar a importância do controlo máximo da qualidade da água. Este tipo de alerta já foi dado, por exemplo, às autoridades na província de Tete através de um estudo produzido pelo académico, licenciado em Engenharia Química, Mestrado em Saúde e Doutorado em Energia e Meio Ambiente, Paulo Marcos Sebastião.
Regulador e Fornecedor Furtam-se de Responder sobre Reclamações de Águas Turvas
No seguimento das reclamações sobre fornecimento de água imprópria para o consumo humano, o Observatório Cidadão para a Saúde (OCS) procurou ouvir o parecer das entidades ligadas à regulação e fornecimento da água. O facto é que, mesmo depois de muita insistência junto dos gabinetes de assessoria de imprensa das instituições em causa, a Autoridade Reguladora de Águas (AURA) e a empresa Águas da Região de Maputo ainda não se dignaram a falar sobre o caso.
Conclusão
Apesar dos avanços institucionais e dos investimentos realizados ao longo das últimas décadas, Moçambique ainda enfrenta desafios significativos no acesso universal à água potável e ao saneamento seguro. Os dados oficiais indicam uma cobertura relativamente elevada nas zonas urbanas, mas a realidade no terreno demonstra que o acesso contínuo à água de qualidade ainda não é uma garantia para grande parte da população. O aumento da infraestrutura de abastecimento nem sempre se traduz na melhoria efectiva das condições de vida, pois a distribuição irregular, a falta de manutenção e a baixa qualidade da água comprometem os benefícios esperados.
As doenças hídricas, incluindo diarreias e surtos recorrentes da cólera, continuam a ter um impacto devastador na saúde pública, especialmente entre crianças, sendo uma das principais causas de mortalidade infantil. A pressão sobre as unidades sanitárias causada por essas doenças poderia ser reduzida significativamente com investimentos mais eficazes em acesso à água segura e saneamento adequado. No entanto, a governança do sector da água e saneamento ainda carece de um compromisso mais estruturado para lidar com os determinantes sociais da saúde, garantindo que os recursos destinados ao sector resultem em impactos reais e sustentáveis.
Diante desse cenário, é essencial que o sector de água e saneamento não se limite a expandir a infraestrutura, mas priorize políticas e mecanismos que assegurem qualidade, acessibilidade e equidade no acesso. A fiscalização da implementação dessas políticas e a participação activa da sociedade civil no monitoramento dos serviços são fundamentais para garantir que os compromissos assumidos pelo governo se traduzam em melhorias concretas para a população. Sem uma abordagem integrada e centrada na governança, o risco é que as desigualdades no acesso à água potável e ao saneamento continuem perpetuando ciclos de pobreza, doenças e vulnerabilidade social.
O caminho para o cumprimento das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) exige um esforço coordenado entre governo, doadores, sociedade civil e sector privado, com foco não apenas na ampliação dos serviços, mas também na melhoria da sua qualidade e sustentabilidade. Somente assim será possível transformar o acesso à água e ao saneamento em um verdadeiro motor de desenvolvimento e garantia de saúde para todos os moçambicanos.
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