Países como a China, Rússia, Índia, Turquia e Arábia Saudita vêm acumulando grandes quantidades do metal precioso como forma de fortalecer sua resiliência financeira, diversificar as reservas internacionais e preparar-se para um novo ciclo de transição na arquitetura do sistema financeiro internacional. A pergunta que devemos fazer em Moçambique é simples, mas urgente: por que ainda não seguimos este exemplo, sendo nós um país produtor de ouro?
Por Caice Merana Duarte Salé – Economista
Vivemos num momento crítico, marcado por insegurança económica global, inflação persistente, e desvalorização cambial. Na história, sempre que o mundo enfrentou crises profundas, seguiu-se uma reconfiguração sistémica da ordem monetária global. Em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, líderes mundiais reuniram-se em Bretton Woods para criar um novo sistema monetário internacional, ancorado no dólar norte-americano, que por sua vez era garantido em ouro (Eichengreen, 2008). Esse sistema vigorou até 1971, quando, em plena guerra do Vietname, o presidente norte-americano Richard Nixon rompeu com a conversibilidade do dólar em ouro, marcando o início da era do dinheiro fiduciário — um sistema baseado apenas na confiança e no poder político, sem respaldo real (Krugman & Obstfeld, 2018).
As consequências dessa mudança foram claras: os EUA passaram a imprimir dólares sem limites materiais, enquanto países como os nossos passaram a depender de moedas fortes sobre as quais não exercem qualquer controlo. Hoje, esse sistema encontra-se em xeque. Os BRICS, por exemplo, avançam na criação de uma nova moeda lastreada em ativos reais, como ouro e commodities, para reduzir a dependência do dólar. Por sua vez, há rumores persistentes de que os EUA, sob influência de setores estratégicos que ganharam força na era Trump, estão a considerar um “reset financeiro global”, que incluiria maior digitalização das moedas, controlo algorítmico do fluxo monetário, e talvez um regresso parcial a reservas físicas de valor.
Neste contexto geopolítico, Moçambique precisa urgentemente de reavaliar o seu posicionamento estratégico. Ao contrário dos países do G7, não temos a capacidade de imprimir moeda com valor global. Mas temos ouro em solo moçambicano, e esta é uma vantagem que precisa ser transformada em instrumento de soberania económica.
O ouro, como reserva, não é apenas um símbolo de prestígio. É um ativo universalmente aceite, de alta liquidez e com desempenho sólido em contextos de inflação e crises financeiras (Baur & McDermott, 2010). Além disso, diversifica o risco cambial ao reduzir a dependência exclusiva do dólar e do euro. Em períodos de escassez de divisas, um stock nacional de ouro pode ser rapidamente convertido em qualquer moeda forte, dando ao Banco Central poder real de actuação.
A abordagem atual do Banco de Moçambique, sob a liderança de Rogério Zandamela, parece excessivamente alinhada às diretrizes do FMI, sem suficiente consideração pelo contexto interno e pela necessidade de fortalecimento da segurança económica nacional. Concordo com o economista Eduardo Sengo, que defende que o Banco Central deve servir o povo moçambicano e o seu mercado interno, e não ser apenas um executor técnico de políticas impostas de fora.
Neste sentido, acredito que devemos revisitar e recuperar lideranças nacionalistas e estratégicas, como a de Ernesto Gove e Waldemar de Sousa, que durante os seus mandatos procuraram alinhar a política monetária às reais necessidades da economia nacional. Lideranças que compreendiam que não há estabilidade económica sem soberania monetária.
É hora de transformar o ouro moçambicano de simples produto de exportação para instrumento de garantia e segurança monetária. O Banco de Moçambique poderia criar reservas estratégicas em ouro físico, armazenado em território nacional e em cofres internacionais de confiança, com relatórios públicos e auditorias independentes. Paralelamente, pode-se criar um fundo soberano de estabilização, cuja base seja composta por receitas do ouro, criando margem de manobra para o Estado em tempos de crise.
Num mundo em transição, onde o valor do dinheiro está novamente em debate, Moçambique não pode ficar para trás. Como nos ensina o Alcorão: “Allah não muda a condição de um povo até que eles mudem o que está em si mesmos” (Surat Ar-Ra’d, 13:11). E como adverte a Bíblia: “Na casa do sábio há tesouros preciosos e azeite armazenado, mas o tolo devora tudo o que tem” (Provérbios 21:20).
Investir em ouro não é retroceder no tempo — é avançar com inteligência e prudência. É proteger o futuro com os recursos que a natureza já nos concedeu. É, enfim, um ato de soberania e visão estratégica.
Referências:
Baur, D. G., & McDermott, T. K. (2010). Is gold a safe haven? International evidence. Journal of Banking & Finance, 34(8), 1886-1898. https://doi.org/10.1016/j.jbankfin.2009.12.008
Eichengreen, B. (2008). Globalizing Capital: A History of the International Monetary System (2nd ed.). Princeton University Press.
Krugman, P., & Obstfeld, M. (2018). International Economics: Theory and Policy (11th ed.). Pearson Education.
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