Para muitas famílias vítimas, o ciclone tropical Jude aumentou as difíceis condições a que viviam, sendo que algumas já se dedicam na reconstrução usando o mesmo material e outras até já mudaram para outros bairros.
Para muitos, com um olhar de desespero, a palavra que soa é comum. “O ciclone Jude deixou-nos mais pobres aqui em Nampula”.
Na zona residencial Brito, arredores de Nampula, encontramos a família de Abdul, por sinal deslocada de Mocímboa da praia. Este revelou que embora não tenha perdido seus bens, a sua casa, o principal abrigo da família composta por três pessoas, está completamente destruída.
“Não só para mim, esta zona tem muita gente que perdeu casas, o ciclone foi tão forte que muitas famílias tiveram que mudar para outras zonas”.
“O que mais aumenta a nossa vulnerabilidade é o material, blocos de adobe e capim, lona ou chapa, a gente é pobre, é o que consegue, assim ficamos mais pobres desta vez”, acrescentou, acreditando que um dia pode recuperar a sua residência.
Na unidade residencial de Nahiene, também o Jude fez consideráveis danos, com destaque às residências que eram abrigos de centenas de famílias.
A dona Virgínia Manuel, é uma das que perdeu todas as casas e nove pessoas estão sem-abrigo e dinheiro para reposição das mesmas. Esta contou que as noites são longas, mas graças aos vizinhos que não perderam tudo está sobrevivendo.
“Outras pessoas têm me ajudado em comida para mim e as crianças, mas é difícil, porque para reconstruir é preciso terminar o período das chuvas, mas até lá temos de aguentar, o outro ciclone escapamos, mas desta vez não”.
A senhora Marta, considera que o Jude trouxe uma experiência negativa na sua vida, relatando que só recuperou roupa e material escolar das crianças “só estas coisas, roupa e material escolar, mas muitas coisas não, porque os cabos de energia estavam aqui no chão e tínhamos medo de choque da corrente por isso outras coisas perderam-se enquanto a casa ia caindo”.
De forma geral, por exemplo, em Nahiene e na zona residencial de Brito, as famílias não foram inscritas para receber quaisquer apoios e não foram criados alguns centros de acolhimento transitório, tal como outras zonas.
Contudo, algumas tiveram que sair das suas casas à escola básica de Nampaco que dista a cerca de seis e três quilómetros das suas áreas residenciais. Após passarem algumas noites, muitas delas abandonaram.
Hoje, muitas famílias estão empenhadas na reconstrução, umas fazem os mesmos blocos de adobe, mas que levam dias para secar e voltar a colocar no devido lugar, outras famílias recorrem às estacas para substituir os blocos e outras decidiram começar a construir de blocos que iam fazendo ao longo dos meses anteriores.
No bairro Murrapaniua, arredores da cidade de Nampula, descreve, Francisco Paulo, um dos secretários de Quarteirão, descreve a situação como sendo difícil. Aponta que a vida que as vítimas do ciclone Jude passam após a destruição das suas casas deixa a desejar “Até na Quarta-feira, havia mais de 100 casas destruídas e as famílias estão na escola primária local, e também de Mutimacanha. Não conseguimos contar, mas há muitas pessoas, ali no riacho todas as casas foram embora”.
Em Moçambique, o Ciclone Jude atingiu com maior intensidade as províncias de Nampula, Zambézia, Niassa, Manica e Tete. Nampula foi a mais afectada com 14 mortes, mais de cem mil afectados, 99 unidades sanitárias e mais de 1013 salas de aula afectadas.
A delegada do INGD em Nampula, Anacleta Botão, revelou que o governo havia aberto 77 centros de acomodação, sendo que 33 se encontram já encerrados.
Anacleta Botão acrescentou que o governo está apostando em a alocação de material para as vítimas recomeçarem a reconstrução das suas casas. (Mussa Yussuf, em Nampula)