Na verdade, a guerra contra o lambebotismo é mais que oportuna, principalmente se considerarmos a existência de vários outros “-ismos”, com destaque para o tribalismo, o partidarismo, o amiguismo, o clientelismo, o divisionismo, o curandeirismo, o mulherenguismo, etc.
Escrito por: René Moutinho, M.Sc. [email protected]
A Ciência reconhece a existência do termo “lambebotismo”, embora “aportuguesadamente” o designe de “puxa-saquismo”, servindo-se das palavras “adulação”, “subserviência” e “bajulação” para o definir (Cialdine, 1984; Orwell, 1949; Weber, 1992). Assim, entende-se por “lambebotismo”, na sua versão de culto da personalidade, o comportamento ou estratégia de busca de aprovação e favores de figuras de autoridade por parte de colaboradores que, normalmente, estão nos níveis abaixo, na respectiva hierarquia de poder (Orwell, 1949).
Com base nos conceitos retro mencionados, pode-se descurar que o objectivo do lambebota é a obtenção de favores junto do líder. É aqui onde se enquadram os apelos do Presidente da República, pois quem pode controlar e combater melhor o lambebotismo é o líder/dirigente e não o próprio lambebota. Isso sucede porque o lambebotismo é firmado numa espécie de “Contrato Profissional Invisível”, através do qual as partes acordam, timidamente, a prestação de “serviços”, favores, direitos e deveres. Assim, basta que uma das partes não cumpra os “Termos do Contrato”, para que o lambebotismo enfraqueça e, como uma planta não regada, acabe por morrer.
Nessa linha de abordagem, basta que o dirigente não favoreça indevidamente o lambebota (promovendo-o) para que o lambebotismo esmoreça. Basta que o líder não atice a fértil imaginação e a língua doce do lambebota, incentivando-o apenas a falar bem de si e mal de outros, para que o lambebotismo se enfraqueça. Basta que o dirigente use o seu tempo para o trabalho e não o gaste em conversas mesquinhas com bajuladores, no Gabinete, para que o lambebota se veja sem plateia, sem ouvinte e, assim, desista de dar o seu espetáculo privado, barato e irreal.
E há que ter muita atenção sobre os que bajulam e adulam o líder para não os tomar, erroneamente, por “amigo” ou “parceiro”. Não se enganem! Os lambebotas não são amigos nem parceiros de ninguém. São pessoas focadas, interesseiras e muito calculistas. Por trás daquela aparente humildade, daquela postura de subserviência e daquele comportamento de quem não quer nada, existe um ser egoísta, capaz de fazer tudo para, por meio de rápidos atalhos e fórmulas fáceis, atingir os seus objectivos, mesmo que para isso seja necessário servir-se da desgraça do próprio dirigente a quem anda(va) a “escovar”.
Portanto, tem toda a razão o Presidente Chapo em repetir os apelos de combate ao lambebotismo, porque se trata de um mal que corrói a nossa Função Pública e não só. Com o lambebotismo a reinar, torna-se difícil combater o tribalismo, o amiguismo, o clientelismo, o divisionismo, o curandeirismo, o mulherenguismo, e, sobretudo, a corrupção, pois ao lambebota interessa todos estes “-ismos”, excepto um: o profissionalismo.