Direi que o gatilho do actual estado de coisas foi dado na noite do assassinato macabro do advogado Elvino Dias e do Paulo Guambe. Acto vil e repugnante que deixou meio-mundo estupefacto e indignado! De lá para cá, a violência virou o pão nosso de cada dia, até mesmo em locais onde era suposto o partido “vencedor” granjear simpatia. Vieram as manifestações em fases, cada uma com a sua designação e modus operandi próprio. O direito à manifestação está plasmado na Constituição da República de Moçambique (CRM).
Em acto de repúdio às maracutaias ocorridas nas eleições gerais, o candidato presidencial, Venâncio Mondlane, convocou manifestações, em prol da verdade eleitoral. No dia das cerimónias fúnebres do advogado Elvino Dias, a polícia desatou aos tiros e ao lançamento indiscriminado de gás lacrimogéneo. Aquilo ocorreu no local do assassinato, onde se foi prestar homenagem aos perecidos.
A acção da polícia, além de não ter tido alguma razão de ser, não teve nenhum alvo concreto e até os jornalistas tiveram que sair do local em debandada. Os jornalistas, o próprio Venâncio Mondlane que era entrevistado e o público. Estava dado o mote para o que seguiria! Todos sabemos que depois o candidato presidencial, Venâncio Mondlane, desapareceu e, a partir da “parte incerta” começou a mobilizar o povo, vulgo xitsungo, para a escalada de manifestações que se seguiram. Algo nunca visto no país!
A verdade é que o povo acordou, o marasmo que caracterizava o xitsungo foi deixado para trás, assumindo a cidadania e participando activamente nas manifestações. A princípio, com receio, mas depois… é o que se vê até hoje! Não se faz revolução com flores, daí o muito sangue que foi e continua a ser derramado por um povo cansado e revoltado com os opressores que dirigem o país.
Durante estas manifestações, muitas verdades que estavam escondidas vieram ao de cima, mostrando que este país é dirigido por corruptos e dirigentes que pisoteiam o xitsungo a torto e a direita. Inicialmente, as manifestações eram voltadas para a verdade eleitoral, porém foram cobrindo outros âmbitos da vida social e até desmascarando muitas “melindres ocultos” dos nossos dirigentes.
Os que sempre se acharam donos disto tudo, a princípio, pensaram que as acções de quem se manifestava fossem sol de pouco dura, força de soda, tesão de mijo… Cálculos mal feitos! Activaram a polícia de todos os ramos, parte do exército e até reforçaram o material bélico para combater gente nas ruas. Gente que saía pacificamente às ruas, diga-se de passagem…
O Conselho Constitucional (CC) proclamou Daniel Chapo e a FRELIMO como os “vencedores” das 7@s Eleições Gerais, desencadeando daí o extremar de violência por parte dos manifestantes. Num Estado de Direito democrático propriamente dito, as eleições deveriam ter sido ANULADAS, face à tremenda desorganização e fraudes nela ocorridas. Mas não; o CC, sendo uma “célula” da FRELIMO, optou por legitimar vencedores contestados pelo xitsungo. Houve a tomada de posse e tudo o mais do Governo cujo slogan é Vamos Trabalhar, mas a realidade no terreno mostra que o xitsungo está insatisfeito e não aceita ser governado à força. Justo! As manifestações continuam, o desrespeito às “autoridades” é crescente e o sentimento de desgoverno paira no ar. Para onde vamos???
Este texto não se vai cingir às questões Legais e não legais do imbróglio político que o país vive. Talvez noutro “furo” tenha a oportunidade de fazê-lo! É da polícia e das suas acções que pretendo ater-me, com as possíveis alternativas para apaziguar os contendores políticos. Polícia essa usada pelo regime para, a todo o custo, manter-se ilegitimamente no poder! Quo Vadis…
Que tal o Comandante Sive ir à Matalana e outras escolas que “fabricam” polícias? É para ir ter com os instrutores e mandar anexar uma nova Disciplina! Do tipo COMO LIDAR COM AS MANIFESTAÇÕES PÚBLICAS, uma vez que a nossa desprestigiada polícia nunca teve “jeito” para isso. Muito-Muito a UIR! Só pensa no uso da força bruta, no tiro, no lançamento de gás lacrimogéneo… O que é isso de usar balas reais para dispersar multidões?
O que é isso de chegar nalgum lugar onde haja um aglomerado pacífico e desatar aos tiros sem mais nem aquela? O que é isso de seguir selectivamente jovens e adultos, sequestrá-los e executá-los só porque são apoiantes da causa do Venâncio Mondlane? Por que é que a UIR não vai usar essa musculatura e brutalidade gratuita em Cabo Delgado e demonstrar de lá os “teimosos” insurgentes? Posso txunar o Boisse Sive de uns três (3) filmes para depois ele assistir com as demais altas patentes da PRM e aprenderem sobre como lidar com as multidões. Filmes americanos! Assim, não vão mais agir como se estivéssemos no crepúsculo da Terceira Guerra Mundial. Carambas, vamos lá reciclar a nossa polícia!!!
As mortes de polícias e de alguns dirigentes que o povo tem protagonizado, longe de serem actos para aplaudir, configuram uma espécie de retaliação. Regra geral, o xitsungo pautava pelo pacifismo e lá aparecia a polícia, de material bélico em punho, para dar em cima! Violência… Não podendo ficar indiferentes à dor (mortos, feridos e detidos), a reacção popular tem sido a violência de todo o tipo verificado no terreno. Até jactos de executivos já foram perseguidos, só para se ter uma ideia do volátil ambiente político que se vive!
Todos os santos dias, desaparece alguém da sua comunidade e, posteriormente, é encontrado morto ou gravemente ferido. Coincidentemente, quase todos eram ou são membros activos da causa do Venâncio Mondlane! Perseguição política? Intimidação? Fragilização do político Venâncio Mondlane? A verdade é que a espiral de violência está no ar! Já não há “lives” convocando o martirizado xitsungo para marchas ou manifestações.
O próprio xitsungo autoconvoca-se e parte para cima dos “dirigentes”, da polícia e das benfeitorias a eles ligadas! Pena é que os dirigentes do mais alto patamar governativo ainda não foram welados, sobretudo porque andam com uma escolta preparada para uma situação, caso contrário “outros galos estariam a cantar”. A lei de balas é que está imperando, mas a pergunta que me faço é: para onde vamos???
Moçambique nunca teve paz efectiva, desde a proclamação da independência, somente breves intervalos de paz! Tornou-se um país onde o eclodir da violência sempre esteve na iminência. Pior agora, com o despertar colectivo! É verdade que os supostos donos disto tudo não retrocedem numa decisão, agarrando-se a todo o custo à suculenta cadeira do poder.
Contudo, os reinados não duram para sempre! Há o período do início/ chegada, depois o apogeu e, por fim, o declínio. É e sempre foi assim, doa a quem doer! Infelizmente, alguns camaradas não entendem isso e usam de artifícios, artefactos e SUBTERFÚGIOS para se perpetuarem no poder. (…) Sem espanto, mas com tristeza, vejo muitos jovens dispostos a pegarem em armas e sacrificar as suas vidas para, como dizem, expulsar o novo colono. Sim, porque a FRELIMO mostra uma tal intransigência que, a bem ver, só com o uso de reacção bélica pode capitular! Não é isso o que se quer, porque este país já viveu tantos conflitos. Basta de intolerância política!
A alternância no poder é um dos dinamizadores da democracia e já é hora de os políticos perceberem isso. Às duas por três, não admira se o país estiver mergulhado numa nova e indesejada guerra civil! Tudo porque uns não quiseram sentar-se à MESA DO DIÁLOGO para buscar saídas vantajosas para todos, e os outros se recusaram a vergar perante um governo imposto. Diálogo precisa-se! Entre o ilegítimo PR, Chapo, e o ex-candidato presidencial, Venâncio Mondlane. Nem mais! Os Forquilha, Ossufo, Simango, Yacub e outros não passam de “peões”, no actual cenário político que vivemos.
O povo clama por mudanças! Os políticos têm de deixar de lado a intolerância e os egos inflamados, partindo para a busca de consensos em prol do bem-comum! Sentem, falem e se acertem; o xitsungo estará na plateia, expectante…
E mais não quis dizer!
Por: Tércio Nhassengo