A Ucrânia chegou a acordo com os Estados Unidos para a exploração de minerais e terras raras no seu território, negociada em troca da protecção norte-americana, avançou o Financial Times na tarde desta terça-feira, 25 de Fevereiro. O acordo foi também noticiado pela Reuters que, citando duas fontes próximas das negociações, refere que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, planeia deslocar-se na sexta-feira a Washington para se encontrar com Donald Trump.
De acordo com o diário britânico, que cita fontes oficiais ucranianas, Kiev terá concordado com a exploração dos seus recursos, incluindo o petróleo e o gás, depois de Washington ter deixado cair a exigência relativa ao direito a 500 mil milhões de dólares (cerca de 475 mil milhões de euros) em futuras receitas provenientes dessa exploração — uma condição que o Governo ucraniano considerou inaceitável.
Na perspectiva de Donald Trump, essa seria uma forma de a Ucrânia compensar os Estados Unidos pela ajuda militar e financeira prestada desde Fevereiro de 2022. Ainda que o Presidente norte-americano insista na falsa alegação de que o seu país apoiou a Ucrânia num valor equivalente a 333 mil milhões de euros durante este período, o valor real estará entre os 165 mil milhões e os 173 mil milhões de euros.
As mesmas fontes ouvidas pelo Financial Times (FT) adiantam que foram negociadas condições mais favoráveis para a Ucrânia e consideraram o acordo uma forma de aprofundar a relação com os Estados Unidos (EUA), na esperança de um avanço do diálogo para um cessar-fogo em território ucraniano, três anos após a invasão das tropas russas.
“O acordo sobre minerais é apenas uma parte. Ouvimos várias vezes a administração norte-americana dizer que é parte de um quadro mais vasto”, disse ao Financial Times esta terça-feira Olga Stefanishyna, ministra da Justiça e vice-primeira-ministra para a Integração Europeia e Euro-Atlântica da Ucrânia, que tem liderado as negociações.
A mais recente versão do acordo, que data de 24 de Fevereiro e a que o FT teve acesso, prevê que os Estados Unidos apoiem o desenvolvimento da economia ucraniana no pós-guerra, mas não faz referência às garantias de segurança que Kiev tinha exigido como contrapartida. Também não esclarece os termos dos acordos de “propriedade conjunta” com os EUA, que deverão ser negociados mais tarde.
Segundo a Reuters, Volodymyr Zelensky planeia viajar para Washington na próxima sexta-feira, onde se encontrará com Donald Trump. Uma das fontes ouvidas pela agência noticiosa, que aceitou falar sob anonimato, indicou que foi a Casa Branca a propor a visita.
Putin também ofereceu terras raras aos EUA
A Casa Branca ainda não reagiu às notícias, mas o Presidente Donald Trump já tinha assegurado, nesta segunda-feira, que os Estados Unidos estavam “muito próximos” de chegar a acordo com a Ucrânia.
“Vou reunir-me com o Presidente Zelensky. É possível que ele venha [a Washington] durante esta semana ou na próxima para assinar o acordo, o que seria óptimo”, adiantou Donald Trump, que respondia a perguntas dos jornalistas na Sala Oval, ao lado de Emmanuel Macron.
Os anúncios da visita de Volodymyr Zelensky à Casa Branca e dos avanços para um acordo com os EUA parecem vir atenuar uma escalada da tensão entre Kiev e Washington, depois de o chefe de Estado norte-americano ter acusado o Presidente ucraniano de ser um “ditador” e de o ter responsabilizado pela guerra na Ucrânia.
Também nesta segunda-feira, Vladimir Putin entrou na discussão e deixou um recado a Trump. “Estamos prontos para atrair parceiros estrangeiros para os nossos novos territórios históricos que foram devolvidos à Rússia. Há aqui certas reservas. Estamos prontos para trabalhar com os nossos parceiros, incluindo os americanos, nas novas regiões”, afirmou, assumindo a anexação dos territórios agora ocupados.
As regiões de Kherson, Zaporijjia, Donetsk e Lugansk foram ilegalmente anexadas por Moscovo em 2022, na sequência de pretensos referendos, não reconhecidos pela Ucrânia, pela União Europeia ou pelos EUA. (Público)