No entanto, especialistas apontam que essas acções, por si só, não são sustentáveis a longo prazo, pois o problema é estrutural e exige mudanças profundas na economia.
De acordo com o analista político João Feijó, citado pelo jornal Voz da América (VOA), a redução dos preços só seria eficaz caso Moçambique tivesse uma economia de escala mais desenvolvida e maior integração nos mercados, o que depende do aumento da produção e produtividade. Além desse factor, outro desafio crucial para alcançar uma economia estável é reduzir a dependência da ajuda externa, que deveria ser destinada apenas a projectos específicos, permitindo que o país criasse mecanismos próprios para financiar suas iniciativas, incluindo projectos privados e de ONGs.
Para que essa autonomia econômica se torne realidade, torna-se essencial combater a ganância e a fuga de capitais. Actualmente, muitos membros da elite política e empresarial transferem recursos para o exterior, desviando dinheiro que poderia impulsionar a economia nacional. Uma solução viável seria incentivar esses indivíduos a reinvestirem no país, seja por meio de negócios ou investimentos produtivos. Caso o capital hoje alocado em contas estrangeiras fosse reintegrado à economia moçambicana, haveria maior geração de empregos, estímulo ao empreendedorismo e fortalecimento de sectores estratégicos.
Além disso, a nacionalização parcial ou total de mineradoras e outros sectores-chave da economia garantiria que os lucros dos vastos recursos naturais do país beneficiassem directamente a população. Moçambique possui gás natural, rubis, ouro, grafite, areias pesadas, madeira e uma extensa zona costeira propícia à pesca e ao turismo. Entretanto, grande parte desses recursos é explorada por empresas estrangeiras, ou os contratos sao feitos com cláusulas como se fosse recursos privados e só beneficiam individualidades da elite enquanto a população recebe pouco ou nenhum benefício directo. Para mudar essa realidade, faz-se necessário renegociar acordos e assegurar que os fundos gerados por esses sectores sejam canalizados para o desenvolvimento nacional, em vez de se perderem em esquemas de corrupção e evasão fiscal.
Paralelamente, a infraestrutura desempenha um papel fundamental na dinamização da economia. Embora Moçambique disponha de vastas terras aráveis e uma produção agrícola significativa, grande parte dos produtos se perde devido à falta de escoamento adequado. Assim, investir em estradas de qualidade e redes logísticas eficientes permitiria que os produtores rurais abastecessem os grandes mercados, reduzindo desperdícios e garantindo o abastecimento interno. Complementarmente, um programa massivo de apoio às famílias rurais com insumos agrícolas, tecnologias modernas e assistência técnica impulsionaria a produtividade, garantindo segurança alimentar e gerando excedentes para exportação.
Entretanto, para que o ambiente de negócios seja actrativo e seguro, torna-se indispensável erradicar os raptos, que afastam investidores estrangeiros e fazem com que empresários moçambicanos optem por guardar seu dinheiro no exterior. O medo da insegurança tem provocado um esvaziamento de capitais no país, resultando na redução do investimento privado e na estagnação de diversos sectores econômicos. Acabar com esse cenário de terror, que já ceifou vidas e prejudicou muitas famílias, é uma necessidade urgente para recuperar a economia. É de conhecimento claro que, o crime organizado não apenas afasta investidores, mas também paralisa sectores essenciais como comércio, turismo e serviços. Enquanto esses crimes continuarem sem respostas eficazes do governo, a economia permanecerá fragilizada e a confiança dos empresários diminuirá ainda mais.
Ademais está também claro que, a insegurança não se limita aos raptos. O terrorismo em Cabo Delgado tem afectado severamente a economia moçambicana, pois, além de provocar a morte e o deslocamento forçado de milhares de pessoas, impacta directamente a inflação e o custo de vida. Desde o início dos ataques, diversos projectos econômicos estratégicos foram paralisados e muitas empresas internacionais e nacionais e empresários locais ou perderam ou suspenderam suas operações, comprometendo o crescimento econômico do país. A incerteza gerada pelo terrorismo impede investimentos em sectores-chave, como o gás natural na Bacia do Rovuma, que poderia transformar Moçambique em uma potência energética. Ademais, os altos gastos do governo (apesar de pouco) com segurança e operações militares desviam recursos que poderiam ser aplicados em infraestrutura, saúde e educação.
Diante disto, a redistribuição das riquezas surge como um factor determinante para a redução do custo de vida. A proposta de fornecer um subsídio mensal a cada família moçambicana pode parecer utópica, porém torna-se viável ao se analisar os recursos naturais do país. Moçambique possui gás natural, rubis, ouro, grafite, areias pesadas, carvão mineral e madeira de alta qualidade como mencionado acima. Entretanto, a maioria da população não sente os benefícios directos dessas riquezas, pois os lucros são, em grande parte, desviados por elites políticas ou enviados para o exterior por empresas estrangeiras.
Se houvesse uma melhor gestão das receitas dos recursos naturais, incluindo maior transparência nos contratos e uma tributação mais justa das empresas exploradoras, seria possível criar um Fundo Soberano Nacional, garantindo que as receitas fossem usadas para oferecer um rendimento básico às famílias mais vulneráveis. Isso reduziria a pobreza extrema e impulsionaria a economia. Outros países africanos, como Botswana, usaram com sucesso suas riquezas minerais para criar fundos que beneficiam diretamente a população. Em Moçambique, os bilhões de dólares gerados anualmente pela exploração de gás e minerais poderiam financiar um programa de subsídios, desde que houvesse combate à corrupção e uma alocação eficiente dos recursos.
Além dos subsídios, a facilitação do empreendedorismo juvenil eliminaria barreiras burocráticas e fiscais para pequenos negócios, estimulando a inovação e o crescimento econômico. A criação de políticas que incentivem jovens empreendedores a desenvolverem negócios sustentáveis é essencial para que Moçambique se torne um país economicamente independente e inovador.
Igualmente, investir em educação e no desenvolvimento de espaços extracurriculares para crianças e adolescentes formaria cidadãos críticos e capacitados para o futuro. Ambientes que estimulem o aprendizado, o esporte e a cultura contribuirão para o desenvolvimento de jovens preparados para atuar activamente no crescimento do país.
Além dos combustíveis a energia elétrica impacta directamente o custo de vida e a produção industrial até mesmo cultural. Contudo, a dependência da importação de combustíveis e a instabilidade no fornecimento de energia elevam os preços e os tornam imprevisíveis. Portanto, investir em energias renováveis, como solar, eólica e hídrica, diversificar as fontes de abastecimento e melhorar a eficiência da Eletricidade de Moçambique (EDM) reduziria os custos da eletricidade e garantiria maior segurança energética para a população e os sectores produtivos.
Simultaneamente, o alto custo dos transportes afecta o orçamento das famílias e compromete a competitividade das empresas. Assim, aprimorar o sistema de transportes públicos tornaria os deslocamentos mais acessíveis e eficientes, além de reduzir o preço das tarifas e permitir economias no dia a dia. O incentivo ao uso de bicicletas e a criação de infraestrutura adequada para deslocamentos sustentáveis diminuiriam a dependência do transporte motorizado.
Por outro lado, a falta de conhecimento sobre gestão financeira faz com que muitos moçambicanos enfrentem dificuldades econômicas. Dessa forma, programas de educação financeira poderiam ensinar a população a poupar, investir e evitar endividamentos desnecessários. Simultaneamente, o incentivo a cooperativas de crédito e bancos comunitários facilitaria o acesso a empréstimos com juros baixos, impulsionando investimentos e pequenos negócios.
Além disso, a inflação e os preços abusivos comprometem o poder de compra da população. Portanto, mecanismos de fiscalização de preços em bens essenciais evitariam abusos por parte de comerciantes e distribuidores. Aliado a isso, uma melhor regulação dos mercados estratégicos, como alimentos, combustíveis e habitação, garantiria estabilidade e previsibilidade para os consumidores.
Por fim, melhorar a infraestrutura hospitalar, ampliar o acesso a medicamentos gratuitos e garantir serviços médicos acessíveis reduziria os gastos das famílias com saúde e contribuiria para aliviar o custo de vida.
A redução do custo de vida em Moçambique exige medidas estruturais e sustentáveis. Somente com políticas estratégicas e transparentes o país poderá alcançar maior independência econômica e prosperidade. Do resto é só papo para boi dormir.
Por Neque Alcino António IV