Luca Bussotti, Professor da UDM, Professor visitante na Itália e Brasil, Sociólogo e Analista Político, diz que os terroristas têm mais informações do que as Autoridades Moçambicanas devido aos resultados apresentados no terreno no que tange a guerra vivida em Cabo Delgado, Norte de Moçambique desde Outubro de 2017.
“Não tendo eu um relacionamento directo com a inteligência moçambicana, não posso dizer muito a respeito, o que posso mesmo é afirmar que os resultados não são satisfatórios, me parece que a inteligência esteja a falhar”, disse.
Bussotti acrescenta ainda que escreveu sobre isso num manual que lançou no ano passado, 2023, nos Estados Unidos sobre as Inteligências em África. Desse modo, Bussotti disse ainda que o Sistema de Informação e Segurança do Estado SISE, a inteligência moçambicana, mesmo quando se formou desde a época do SINASP para o SISE, o seu único foco sempre foi caçar os inimigos políticos, como a Renamo, assuntos sociais, jornalistas, activistas, músicos, etc.
“Seu foco é esse e sempre foi esse. É evidente que outros riscos, a partir do risco de terrorismo foram negligenciados, é difícil agora reverter esta máquina que durante dezenas de anos foi apontada contra os oponentes políticos para os terroristas, é um exercício meramente complicado”, acrescentou Bussotti.
Outro ora, o Sociólogo e Analista político Luca Bussotti disse também que, por causa desta falha da Inteligência Moçambicana, SISE, é notório a violação dos Direitos Humanos por parte das Autoridades Públicas, o que foi noticiado por vários órgãos de informação e várias ONGs denunciaram e a repudiar estes actos. Portanto, para Bussotti, estas acções, separam de uma relação saudável entre a população local que deve ser de grande ajuda no combate e busca de paz em Cabo Delgado.
Bussotti sublinhou o quão importante é um grande trabalho de inteligência no Teatro Operacional Cabo Delgado, não bastando apenas ter um número elevado de militares no combate. Sendo assim, Bussotti acredita que deve se recuperar e dar esperança aos jovens moçambicanos particularmente naquele canto do país afecto pelo terrorismo, os Quimuânis principalmente e uma parte dos macuas que geralmente têm sido etnias marginalizadas que o terrorismo pode ser uma via usada para reivindicar ou manifestar.
“Pode ser feito concentrando os investimentos para o desenvolvimento no Norte, principalmente em Cabo Delgado. Francamente, não sei o que está fazendo a inteligência moçambicana, mas me parece que não esteja a fazer muito. Dando possibilidades concretas de formação aos jovens. Esses jovens, principalmente os Quimuânis, mas também uma parte da etnia Macua não têm formação, como eles vão entrar no mercado de emprego mais exigente sem ter o mínimo de formação? Mesmo essas grandes empresas como a Total, ENI, etc., geralmente procuram pessoas minimamente formadas… ao menos no nível técnico, não estou dizendo que necessariamente devem entrar numa faculdade, mas saber fazer trabalho práticos, este preparo, o Governo Moçambicano falhou e ainda assim está falhando”, rematou.
Para Luca Bussotti, com os rumores da retomada das actividades na Bacia do Rovuma, os ataques intensificaram-se em Cabo Delgado. Portanto, estes rumores existem há muito tempo, pelo menos por parte do Governo Moçambicano.
“Também devemos dizer que há rumores de negociações. Se calhar esses ataques são uma resposta a essa tentativa de se fazer negociações, portanto seja mais uma sabotagem. Não é fácil estabelecer um relacionamento directo entre algumas formas de comunicação e os ataques. O que está certo é que em 2023 houve uma calma no Norte de Cabo Delgado, mas o grupo já sabia que em 2024 e agravaram nestas últimas semanas, haveria uma retomada dos ataques”, salientou Bussotti.
A nossa equipe de reportagem entrou em contacto com Mariamo Selemane, residente em Mocímboa da Praia, o qual afirmou para a equipe de reportagem do Integrity Magazine que, estão sem saber a quem podem confiar nessa guerra uma vez que o povo de Cabo Delgado sofre a fúria de ambos lados conforme conta na primeira pessoa.
“Militares nos matam, os terroristas também nos matam. Somos até acusados de ser coniventes dos terroristas, nos torturam, nos matam por isso, enquanto é o medo que nos cala e a insegurança que temos para com a nossa força porque sabemos que existem traidores no meio deles. Assim como os terroristas nos acusam de ser coniventes do Governo, nos ameaçam e nos matam por isso. Além disso, os nossos militares violam nossos direitos e nós perdemos a confiança com eles também. Somos praticamente um povo sem protecção e nem defesa. Olha, em 2015, houve denúncias acerca disso antes dos ataques começarem e não fomos ouvidos. Agora estamos aqui a morrer, na nossa terra, devido aos nossos recursos e sem nada termos feito. Esta luta é deles e nós é que morremos”, disse a fonte.
Entretanto, salienta que os ataques terroristas se fazem sentir em Cabo Delgado desde cinco de Outubro de 2017, tendo como início no distrito de Mocímboa da Praia. (Milda Langa)