Movimento 23 de Março (M23): Origem, conflitos e recrudescimento na RDC

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 17 de Fevereiro de 2025-A República Democrática do Congo (RDC) vive, mais uma vez, o impacto devastador do ressurgimento do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), que, desde Janeiro de 2025, intensificou os confrontos com as forças governamentais, resultando em pelo menos 2.900 mortes, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). A retomada da violência reacende tensões históricas e revela a persistente fragilidade política e militar no leste do país.

O M23 surgiu oficialmente em 2012, a partir de uma dissidência do Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), grupo formado maioritariamente por tutsis congoleses. O CNDP foi integrado ao Exército congolês após o acordo de paz firmado em 23 de Março de 2009, que previa a desmobilização dos rebeldes, sua integração nas Forças Armadas e a protecção da comunidade tutsi na região de Kivu do Norte.

No entanto, a implementação do acordo foi contestada. Ex-combatentes alegaram não ter sido devidamente reintegrados e acusaram o governo de não cumprir sua parte no tratado. Em resposta, formaram o M23, cujo nome faz referência à data do acordo.

Em Novembro de 2012, o grupo tomou a cidade de Goma, centro estratégico próximo à fronteira com Ruanda. A ofensiva gerou preocupação internacional, levando a uma intervenção militar conjunta das Forças Armadas da RDC (FARDC) e da Brigada de Intervenção da ONU. Em 2013, o M23 foi derrotado, e seus membros fugiram para Ruanda e Uganda.

Apesar da derrota, o M23 não desapareceu. A partir de 2022, o grupo voltou a atacar posições no leste da RDC, intensificando sua actuação na província de Kivu do Norte. O governo congolês acusa Ruanda de fornecer apoio logístico e militar aos rebeldes, incluindo armas e treinamento. Kigali nega as acusações, mas relatórios da ONU já apontaram evidências de envolvimento do Ruanda.

Em Fevereiro de 2025, o M23 capturou novamente a cidade de Goma, provocando um novo êxodo de civis. Estima-se que milhares de pessoas tenham sido deslocadas devido à intensificação dos combates.

Actualmente, o grupo é liderado por Corneille Nangaa, ex-presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), e pelo comandante militar Sultani Makenga. Ambos foram condenados à revelia, em 2024, por crimes de guerra e traição. A condenação, no entanto, não impediu que continuassem exercendo influência sobre as operações do grupo.

Segundo a ONU, o conflito já provocou cerca de 3.000 mortes apenas nas últimas semanas, com o número de vítimas podendo ser ainda maior devido à continuidade dos combates. Além das perdas humanas, o conflito compromete a segurança na província de Kivu do Norte, rica em minerais estratégicos como coltan, ouro e cassiterita.

O recrudescimento da violência agrava a crise humanitária na região, com milhares de deslocados buscando refúgio em condições precárias. A instabilidade política e as disputas territoriais, combinadas ao interesse por recursos minerais, dificultam os esforços de pacificação.

A comunidade internacional monitora a situação, enquanto negociações mediadas pela União Africana e pela ONU tentam conter o avanço dos rebeldes e restabelecer o diálogo entre RDC e Ruanda. No entanto, o ciclo de violência no leste congolês parece longe de um desfecho, perpetuando o sofrimento de uma população que há décadas vive sob a sombra do conflito. (Nando Mabica) 

 

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