O M23 surgiu oficialmente em 2012, a partir de uma dissidência do Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), grupo formado maioritariamente por tutsis congoleses. O CNDP foi integrado ao Exército congolês após o acordo de paz firmado em 23 de Março de 2009, que previa a desmobilização dos rebeldes, sua integração nas Forças Armadas e a protecção da comunidade tutsi na região de Kivu do Norte.
No entanto, a implementação do acordo foi contestada. Ex-combatentes alegaram não ter sido devidamente reintegrados e acusaram o governo de não cumprir sua parte no tratado. Em resposta, formaram o M23, cujo nome faz referência à data do acordo.
Em Novembro de 2012, o grupo tomou a cidade de Goma, centro estratégico próximo à fronteira com Ruanda. A ofensiva gerou preocupação internacional, levando a uma intervenção militar conjunta das Forças Armadas da RDC (FARDC) e da Brigada de Intervenção da ONU. Em 2013, o M23 foi derrotado, e seus membros fugiram para Ruanda e Uganda.
Apesar da derrota, o M23 não desapareceu. A partir de 2022, o grupo voltou a atacar posições no leste da RDC, intensificando sua actuação na província de Kivu do Norte. O governo congolês acusa Ruanda de fornecer apoio logístico e militar aos rebeldes, incluindo armas e treinamento. Kigali nega as acusações, mas relatórios da ONU já apontaram evidências de envolvimento do Ruanda.
Em Fevereiro de 2025, o M23 capturou novamente a cidade de Goma, provocando um novo êxodo de civis. Estima-se que milhares de pessoas tenham sido deslocadas devido à intensificação dos combates.
Actualmente, o grupo é liderado por Corneille Nangaa, ex-presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), e pelo comandante militar Sultani Makenga. Ambos foram condenados à revelia, em 2024, por crimes de guerra e traição. A condenação, no entanto, não impediu que continuassem exercendo influência sobre as operações do grupo.
Segundo a ONU, o conflito já provocou cerca de 3.000 mortes apenas nas últimas semanas, com o número de vítimas podendo ser ainda maior devido à continuidade dos combates. Além das perdas humanas, o conflito compromete a segurança na província de Kivu do Norte, rica em minerais estratégicos como coltan, ouro e cassiterita.
O recrudescimento da violência agrava a crise humanitária na região, com milhares de deslocados buscando refúgio em condições precárias. A instabilidade política e as disputas territoriais, combinadas ao interesse por recursos minerais, dificultam os esforços de pacificação.
A comunidade internacional monitora a situação, enquanto negociações mediadas pela União Africana e pela ONU tentam conter o avanço dos rebeldes e restabelecer o diálogo entre RDC e Ruanda. No entanto, o ciclo de violência no leste congolês parece longe de um desfecho, perpetuando o sofrimento de uma população que há décadas vive sob a sombra do conflito. (Nando Mabica)