O aumento das temperaturas no canal de Moçambique tem gerado ocorrência de ciclones e tempestades tropicais com a frequência nas províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Sofala e Manica enquanto no sul de país sofre inundações e seca severa no norte da província de Gaza (Mandamule, 2019; GERMANWATCH, 2021). O recente Country Climate and Development Report (CCDR) (2023), reforça o que muitos moçambicanos já sentem na pele: a urgência de integrar a acção climática no planeamento nacional não é apenas uma opção, mas uma necessidade vital para o presente e o futuro do país.
Moçambique, com sua extensa linha costeira e economia dependente de sectores sensíveis ao clima, como a agricultura, recursos faunísticos e florestais e marinhos, está na linha de frente dos impactos das mudanças climáticas. Os ciclones como o Idai e o Kenneth, que assolaram o país em 2019, deixaram um rastro de destruição que ainda hoje é visível. Milhares de vidas foram perdidas, infra-estruturas essenciais foram destruídas e comunidades inteiras foram deslocadas. Esses eventos extremos não são mais excepções, são sinais claros de um padrão climático em transformação, que exigem respostas imediatas e eficazes.
As projecções climáticas para Moçambique são preocupantes conforme CCDR (2025), pois até 2050, no pior cenário de projecção de clima “quente”, o nível de pobreza do país aumentará 5%, empurrando mais 1,6 milhões de pessoas para a pobreza. Se não ocorrer nenhuma transformação estrutural significativa, o índice de desigualdade dificilmente mudará até 2050, em todos os cenários climáticos analisados. Esses dados revelam a magnitude do desafio que enfrentamos: as mudanças climáticas não só agravam os problemas existentes, como também criam novos obstáculos ao desenvolvimento sustentável.
A vulnerabilidade de Moçambique é agravada por desafios socio-económicos preexistentes. A pobreza, a corrupção crónica, a desigualdade e o descuidado no ordenamento territorial amplificam os impactos das mudanças climáticas, criando um ciclo vicioso de insegurança alimentar, desnutrição cronica, deslocamento populacional e recuo económico. As zonas costeiras, onde se concentra uma parte significativa da população e da actividade económica, estão particularmente expostas à elevação do nível do mar, à erosão costeira e à salinização dos solos. Esses fenómenos não só ameaçam o sustento das comunidades locais, mas também colocam em risco ecossistemas essenciais, como os mangais e os recifes de coral, que desempenham um papel crucial na protecção contra eventos climáticos extremos.
Diante desse cenário, a inação não é uma opção. O RCDM (2023), destaca a necessidade de uma abordagem integrada, que combine adaptação e mitigação, para enfrentar os desafios climáticos. Isso significa investir em infraestrutura resiliente (cumprimento de mecanismos de ordenamento territorial), como sistemas de alerta precoce, estradas e pontes que resistam a inundações, habitações seguras. Significa também promover práticas agrícolas sustentáveis, reflorestamento e gestão eficiente dos recursos hídricos, garantindo que as comunidades possam adaptar-se às novas realidades climáticas.
As instituições estatais como Instituto Nacional de Gestão de Risco de Desastres Naturais e outras direcções ministrais tem obrigação de fiscalizar as zonas de ocorrências e criar condições básicas que possam facilitar a mobilidade comunitária para zonas seguras. Todavia, os países desenvolvidos, principais responsáveis pelas emissões históricas de gases de efeito estufa, devem cumprir suas promessas de financiamento climático e apoiar os países mais vulneráveis, como Moçambique, na transição para um desenvolvimento sustentável. A transferência de tecnologia e o acesso a fontes de energia limpa são passos essenciais para garantir que o crescimento económico não ocorra à custa do meio ambiente.
Ao mesmo tempo, é fundamental envolver as comunidades locais no desenho e implementação de políticas climáticas. As mulheres, os jovens e os grupos marginalizados são frequentemente os mais afectados pelas mudanças climáticas, mas também são agentes de mudança poderosos quando capacitados e incluídos no processo decisório. A educação ambiental e a conscientização sobre os riscos climáticos devem ser prioridades, para que cada cidadão possa contribuir para a construção de um futuro mais resiliente.
As mudanças climáticas representam uma ameaça existencial para Moçambique, mas também oferecem uma oportunidade única para repensar o nosso modelo de desenvolvimento. A transição para uma economia verde e sustentável não só reduzirá a vulnerabilidade do país aos impactos climáticos, mas também criará empregos, impulsionará a inovação e promoverá a justiça social.
O tempo está a esgotar-se. O futuro do nosso país depende das escolhas que fazemos hoje. Como cidadãos, temos o dever de pressionar por políticas públicas eficazes e de adoptar práticas sustentáveis no nosso dia-a-dia. A luta contra as mudanças climáticas é de todos nós, e só juntos podemos garantir um futuro seguro e próspero para as gerações presentes e futuras.
Vamos agir antes que seja tarde demais.
Delso Khosa e Martinho Cumbane