Ao estudarmos a Bíblia, notaremos que o amor, desde muito cedo, foi apresentado ao ser humano como um desafio, como um Mandamento a ser cumprido. E, embora “gerado” a partir do Amor Divino, feito à imagem e semelhança de Deus (O Puro Ser do Amor), o Homem sempre se vê numa sala de exame, submetendo-se a uma difícil prova, quando o assunto é amar o outro de forma pura, genuína e desinteressada. Por conseguinte, são inúmeras as evidências de que em famílias, relações e lares turbulentos torna-se mais difícil ainda ao ser humano cumprir o seu sacrossanto Mandamento: amar (e, eventualmente, ser amado).
O que dizer, então, do amor num contexto e numa sociedade em crise? Como se ama na descrença, na desunião, na dúvida, no ódio, na insuficiência, na precariedade, na insegurança, na inveja, no ciúme e no puro interesse material ou sexual? E, justamente, hoje, 14 de fevereiro de 2025, celebramos o “Dia dos Namorados”, numa sociedade onde, apesar das diferenças de credos e ideologias, seus membros dizem amar o próximo. Na verdade, farão amor hoje, trocarão presentes e mimos, cruzarão olhares apaixonados, dir-se-ão palavras meigas… E amanhã, será que não exercitarão a violência conjugal ou social? Será que continuarão a amar, mesmo em crise?
Amar em tempos de crise é abrir mão de tudo, excepto da compreensão, da empatia, do altruísmo, da solidariedade, da bondade e do próprio amor, que é a soma de tudo isso. Amar em tempos de crise é praticar o amor, a paixão e a tolerância conjugais. É exercer a protecção e providência familiares; é privilegiar a auscultação (ouvir mais do que falar) em detrimento da interrogação. É tornar a sua relação, o seu lar, num cantinho seguro, num pequeno “País das Maravilhas”, protegido por uma cerca eléctrica, onde a desordem, a leviandade, a mesquinhice, a promiscuidade, a intriga, a deslealdade e a infidelidade se esforçam, lá fora, sem sucesso, para entrar.
Amar numa sociedade em crise é garantir que, do seu pequeno “País das Maravilhas”, nasçam seres humanos amáveis e responsáveis que, quando servirem a sociedade, o farão igualmente com amor e responsabilidade. Amar em tempos de crise (e numa sociedade em crise) é resistir e continuar a acreditar que, tal como disseram Buda e Cristo, o amor é a resposta certa para tudo. É o caminho, a verdade e a vida.
René Moutinho, M.Sc.