Embora o discurso inicial tenha sido marcado por promessas de união e reformas estruturais, a realidade expõe um governo hesitante e envolvido em disputas internas, que atrasam decisões fundamentais e comprometem a resposta a problemas urgentes.
Uma das maiores críticas ao governo de Chapo foi a lentidão na nomeação de ministros e outros altos cargos governamentais. Segundo fontes internas, o atraso deveu-se a discussões intensas no próprio partido, com diferentes facções disputando posições estratégicas no novo executivo. Esse impasse deu a perceber que Chapo foi ao estádio sem fazer a convocatória do 11 inicial.
O episódio envolvendo a expulsão do pastor Marcos Chambule durante o culto inter-religioso revelou o lado mais autoritário do governo. O silêncio de Chapo após o incidente gerou críticas sobre sua postura perante a liberdade de expressão. Para muitos, o episódio simbolizava uma governação mais preocupada em controlar discursos críticos do que em promover uma verdadeira reconciliação nacional.
A continuação da insegurança, com uma onda de raptos em Maputo, põe à prova a capacidade de Chapo em garantir a segurança dos cidadãos. A tentativa de rapto de um empresário asiático, logo após a posse do novo Ministro do Interior, Paulo Chachine, destacou a fragilidade das estratégias de combate ao crime organizado. Apesar das promessas de desmantelar as redes criminosas, não houve ainda mudanças significativas, e a sensação de insegurança persiste com 2 raptos desde que tomou posse.
A decisão de pagar apenas metade do décimo terceiro salário gerou uma onda de indignação entre os funcionários públicos, já sobrecarregados pelo aumento do custo de vida nos últimos dias.
O silêncio face à questão das portagens, parece enviar uma mensagem de “pouco importar” para Chapo que lidera um governo que manda Forças de segurança junto das portagens para intimidar a população a pagar pelas passagens.
A falta de uma estratégia clara para lidar com o terrorismo em Cabo Delgado é uma das maiores lacunas nos discursos e acções do novo governo. Os ataques continuam a fazer vítimas mesmo após tomar posse, e a ausência de respostas concretas levanta dúvidas sobre a prioridade que o governo de Chapo dá a essa crise.
A exclusão de Venâncio Mondlane das discussões sobre a reforma do Estado e a resolução da tensão política que o país atravessa, evidencia uma falta de vontade de incluir Mondlane no processo de diálogo nacional. A ausência de uma abordagem verdadeiramente inclusiva mina a credibilidade do processo e aprofunda as divisões políticas, colocando em risco as reformas necessárias para a estabilidade do país.
Os primeiros 22 dias de Daniel Chapo no poder revelam um governo em disputa consigo mesmo, mais focado em resolver tensões internas do que em oferecer respostas concretas à população. A combinação de atrasos administrativos, repressão política, crise de segurança e insatisfação económica cria um clima de cepticismo. Contudo, o sucesso da governação dependerá da capacidade de Chapo em superar as divisões dentro do seu partido e agir decisivamente para cumprir as promessas feitas ao povo moçambicano no dia 15 de Janeiro. (INTEGRITY)
PS: Texto do Editorial publicado no dia 07 de Fevereiro no formato PDF da Integrity e actualizado nesta Sexta-feira