O Integrity Magazine conversou com Ruben Daniel Ulaia, Docente Universitário, Faculdade de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Católica de Moçambique e Mestre em Ciência Política, Governação e Relações Internacionais.
Para Ruben Ulaia, o terrorismo como o próprio nome sugere visa semear o medo, mediante actos de estrema violência desestruturando assim comunidades inteiras e deixando um rasto de destruição.
“Em Cabo Delgado, nós como bem sabemos, esta ameaça desde 2017 se instalou, os jovens têm sido os mais afectados não apenas porque representam a maioria ou a maioria da população moçambicana, mas também porque são directamente impactados com esta situação de insegurança, por isso como jovem, mas também como natural de cabo delgado o sentimento predominante entre os jovens é de profunda angústia e incerteza porque muitos dos jovens viram suas famílias desfeitas, perderam suas casas tendo sido forçadas a mudança interna. O acesso à educação, por exemplo, foi interrompido para milhares de jovens, estudantes ou alunos devido à destruição de escolas e a insegurança nas comunidades”, disse Ulaia.
Entretanto, o professor universitário Ruben Ulaia, acrescentou ainda que a questão do desemprego que já era um desafio antes da insurgência só veio agravar a situação limitando assim ainda mais as perspectivas dos jovens.
“Por exemplo, o caso de Mocímboa da Praia, que já esteve sob controlo dos terroristas durante meses, ilustra muito bem esta realidade que os jovens que aspiravam a uma vida digna com a exploração do gás na bacia do Rovuma tiveram de fugir abandonando os seus sonhos. Assim, a juventude de cabo delgado vive uma confusão, revolta, medo e resistência passeando por uma paz e oportunidades para poder reconstruir o seu futuro”, rematou Ulaia.
Deste modo, Ulaia disse ao Integrity Magazine que espera que com o mandato do presidente Daniel Chapo faça e traga resultados diferentes como tanto espelha o seu discurso nos últimos dias de modo a trazer alguma esperança e sobretudo que devolva confiança em que foi perdida no seio dos moçambicanos. “Espero que no seu plano de 100 dias anunciados seja de facto efectivado no seu, 99,9% tocando muito mais nos sectores cruciais, a questão da segurança, saúde, educação, a questão de transporte.!”, disse.
Desse modo, tendo em conta a situação em que Moçambique se encontra de protestos pós-eleitorais no qual o tecido social e a economia foi muito ressentida, o docente Universitário Ruben Ulaia, disse tratar-se de uma discussão muito crucial que está sendo evitada, que é a questão dos preços de combustível. Mesmo Rubem Ulaia não sendo um especialista em economia, acredita que esta fórmula é clara, com a redução dos preços de combustível este poderá trazer um efeito dominó em outros sectores. Quanto ao combate ao terrorismo, Ruben Ulaia disse que deve existir um envolvimento de toda a camada social. Não bastante, deve-se resgatar a moral das tropas das FDS.
“Dizia Sun Tzu na sua escrita sobre a arte de guerra que a moral das tropas é um dos factores determinantes para o sucesso militar e se o governo moçambicano quer de facto combater este mal deve se levar a moral dessas tropas. Não só em termos salariais, mas, também, na questão do apetrechamento de todo o exército. Não tomando em conta de todos esses pequenos pontos a contestação popular poderá se agravar sendo uma continuidade das vicissitudes da governação anterior para não pensarmos que as promessas feitas eram somente para conquistar e manter o poder da Frelimo como refere Maquiavel que a política é a conquista e manutenção do poder e que nos leva a concluir ou a pensar que o mais importante era somente a conquista do poder”, falou Ulaia.
Por isso, para a confiança ser resgatada, segundo o professor da Universidade Católica de Moçambique Ruben Daniel Ulaia, há esta necessidade de se implementar de facto o plano de 100 dias anunciado pelo presidente Daniel Chapo.
Outro ora, Ruben Daniel disse também que confirma e aceita que a falta de emprego seja um dos factores impulsionadores para adesão dos jovens ao terrorismo. Mas este não é o problema central, importante que se tenha conhecimento de que existe aqui um todo tecido social fragilizado que faz com que sejam inseridas ideias nas comunidades sobre o terrorismo. Mas se a sociedade ou a comunidade não tivesse esta fragilidade estrutural, como a pobreza, a fome, exclusão social e a desigualdade de oportunidades, isto leva a frustração de muitos jovens que residem nesta comunidade.
“Como disse antes, a questão da crise política só veio agudizar o problema já existente e se nós não sabermos controlar enquanto comunidade, enquanto governo, está crise política pode influenciar na proliferação do terrorismo em outras regiões de Moçambique, não só em Cabo Delgado, mas Nampula, Niassa, ainda na Zambézia que há focos de terrorismo também a questão de crise, pós-eleitoral não pode ser assimilada por conta desta oportunidade para os terroristas proliferarem os seus centros de acção.
O grupo extremista em Cabo Delgado vem actuando desde 05 de Outubro de 2017. Vale recordar que os jovens naquele canto do país sentem-se marginalizados e excluídos nos recursos que a província dispõe. (Milda Langa)