Por outro lado, quando os ataques começaram, as dificuldades foram de penetrar num terreno hostil, em que a presença das instituições era vista como algo parecido com uma ocupação externa, pelo que as populações recebiam em fornecer informações junto ao SISE e, no geral, as forças armadas oficiais. É preciso, portanto, enquadrar a actividade do SISE no contexto político mais geral, de medo, por parte da Frelimo, em perder o poder, assim como de má-disposição das populações locais junto às instituições do Estado.
O sociólogo e professor universitário Lucca Bussotti, falou sobre terrorismo em Cabo Delgado no que concerne a segurança da província nortenha, os últimos ataques perpetuados pelo grupo extremista que desde Outubro seiva vidas em Cabo Delgado e deu seu parecer sobre o mandato de Daniel Chapo em relação ao combate ao terrorismo. Entretanto, Bussotti disse que, parece que a estratégia seja entregar a questão da segurança da província de Cabo Delgado ao Ruanda. Isso significaria privilegiar a protecção dos grandes investimentos, em detrimento da população, provocando assim mais problemas, mortes e destruições.
“Não se percebe, até hoje, qual seria a estratégia mais geral do actual governo com relação à Cabo Delgado. Ou seja, fora da questão da segurança, como se vai garantir o desenvolvimento económico inclusivo dos jovens de Cabo Delgado? Esta é a questão provavelmente central, a que o governo anterior não conseguiu responder, e duvido que este actual também consiga (…), mas espero que eu esteja errado! Assim espero”, rematou Bussotti.
Por outra, Bussotti disse que todos os governos, em todo o mundo, dizem que farão o máximo para combater o terrorismo. No caso de Moçambique, parece que a escolha estratégica já foi feita, que se resume em delegar ao Ruanda a parte mais consistente da segurança em Cabo Delgado, graças inclusivamente aos acordos entre a Isco e a Total. “Isso significa abdicar da soberania numa parte decisiva do território nacional, com questões muito sérias relacionadas com o papel do Ruanda na RDC presentemente, o que já provocou choques entre Moçambique e SADC”, acrescentou Bussotti.
Deste modo, o sociólogo e professor Lucca Bussotti, disse ao Integrity Magazine que, o risco é de ver Moçambique cada vez mais isolado em termos de política regional, assim como será muito provável, dentro de pouco tempo, que o exército ruandês possa ser substituído de forma parcial ou totalmente, pelo pessoal da Isco, uma sociedade privada de segurança controlada indirectamente do partido do Kagame. Bussotti acrescentou ainda que, se for assim, o Ruanda não teria nenhum interesse em fazer com que os ataques terminassem, mantendo a situação sob controle, mas não estancando definitivamente os ataques. Para Bussotti esta poderá ser uma perspectiva de que o actual governo deveria olhar com muita atenção e, se for o caso, mudar de estratégia.
Outrossim, no que concerne aos ataques constantes em menos de três dias, em três distritos, o sociólogo Lucca Bussotti disse à nossa equipe que, no fim da época chuvosa, há sempre uma intensificação de ataques terroristas. Entretanto, para o sociólogo Luca Bussotti neste ano, 2025, existem pelo menos mais dois factores políticos que provavelmente têm influenciado neste sentido.
Primeiro factor, a Total acaba de anunciar a retomada do seu investimento, e isso deve ter despertado novas atenções por parte do grupo extremista.
O segundo factor tem a ver com a situação política interna, de grande fragmentação, pode ter induzido os insurgentes a multiplicar os ataques, pois lidar com um estado fraco é melhor, do ponto de vista deles, do que lidar com um estado forte e coeso.
“O trabalho do Sise, pelas poucas informações que temos, foi difícil. Por um lado, desde antes dos primeiros ataques, o SISE assinalou o risco de ataques terroristas, mas o governo não deu muita importância a esses avisos, pois a prioridade era outra, nomeadamente o controlo dos inimigos políticos internos. Por outro lado, quando os ataques começaram, as dificuldades foram de penetrar num terreno hostil, em que a presença das instituições era vista como algo parecido com uma ocupação externa, pelo que as populações recebiam em fornecer informações junto ao SISE e, no geral, as forças armadas oficiais”, falou.
O professor universitário acrescentou ainda que é preciso, portanto, que servia para enquadrar a actividade do SISE no contexto político mais geral, do medo, por parte da Frelimo, em perder o poder, assim como de má-disposição das populações locais junto às instituições do Estado.
Recordar que desde Outubro de 2017, Cabo Delgado vive momentos de pânico e terror. (Milda Langa)