Reino Unido quer retirar-se da exploração de gás natural em Cabo Delgado

Governo britânico pediu aconselhamento legal para cancelar acordo de financiamento da Mozambique LNG. Presidente da TotalEnergies diz que EUA devem confirmar investimento nas próximas semanas.

O Governo britânico está a tentar procurar vias legais para se retirar do compromisso de financiar o consórcio Mozambique LNG em pouco mais de um milhão de euros, mas o presidente da multinacional francesa TotalEnergies, que lidera a concessão de exploração de gás natural ao largo da província moçambicana de Cabo Delgado, não se mostrou preocupado com a possibilidade de um recuo de Londres porque há um contrato assinado: “Estou à espera de ver como é que nos vão explicar isso.”

Falando aos jornalistas em Paris, depois da apresentação dos resultados do último trimestre de 2024 da multinacional francesa, Patrick Pouyanne, adiantou, de acordo com a Reuters, que a empresa está à espera que nas próximas semanas sejam reconfirmados os empréstimos pelas agências de crédito à exportação dos Estados Unidos, Reino Unido e Países Baixos para levantar o estado de força maior do projecto Mozambique LNG, declarado em 2021 depois do ataque jihadista à vila de Palma.

Segundo o Financial Times, o Governo liderado por Keir Starmer tem uma agenda energética que desfavorece o investimento em combustíveis fósseis e quer aproveitar o facto de o projecto de exploração de gás natural na bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, estar parado desde 2021 por causa de problemas de segurança, para tentar reverter a decisão tomada no tempo em que os conservadores estavam no poder no Reino Unido. Aquilo que o n.º 10 de Downing Street quer saber é se o compromisso assumido em 2020 é vinculativo em termos legais ou não, para tomar uma decisão que não acabe por ser revertida pelos tribunais.

O executivo britânico assumiu, em 2023, na COP26, de Glasgow, na Escócia, uma aliança “net zero” quanto ao financiamento de projectos de petróleo e gás e as organizações ambientais dizem que o financiamento do Mozambique LNG pela UK Export Finance (UKEF) contraria esse compromisso. “O n.º 10 tem estado a tentar encontrar uma forma de evitar que isto aconteça, mas teme ser contra-atacado [na justiça] se não o fizer”, disse ao Financial Times uma fonte próxima do executivo.

Para o Governo de Starmer a situação é um dilema ardiloso que, seja qual for a decisão, pode levá-lo a tribunal. Pelo consórcio liderado pela TotalEnergies se rasgar o acordo assinado, pelas ONG ambientalistas, como a Amigos da Terra, que já antes apresentou queixa na justiça contra a UKEF por o projecto de Cabo Delgado violar os compromissos assumidos por Londres no Acordo de Paris. Dessa vez, o Governo ganhou a causa, mas o impacto ambiental do projecto (que se calcula venha a gerar 4,5 mil milhões de toneladas de gases de efeito de estufa durante o seu período de vida) abre portas a novos processos com base no assinado na COP26.

Além da decisão do Reino Unido e dos Países Baixos, o presidente e Director geral da TotalEnergies também está à espera que o Exim Bank (o Banco de Exportações e Importações dos EUA) confirme nas próximas semanas que mantém o financiamento de 4,7 mil milhões de dólares tal como ficou acordado e assinado com o consórcio liderado pela petrolífera francesa. Pouyanne quer levantar a força maior do projecto, mas depende de os financiadores acreditarem que as condições de segurança actuais são satisfatórias e que o retorno recompensa o risco.

O PDG da multinacional francesa e o novo Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, encontraram-se a 28 de Janeiro, à margem de uma conferência de energia em Dar-es-Salaam, diz a Reuters, para falar sobre o projecto do Mozambique LNG, mas não só. Conversaram também sobre o aproveitamento do gás natural para produzir energia e sobre a barragem de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze (60 km a jusante de Cahora Bassa, um investimento de cinco mil milhões de dólares em que a TotalEnergies está envolvida com a empresa pública francesa Eléctricité de France. (Jornal Público)

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