Reagindo à situação de divergência entre automobilistas e a REVIMO, fontes da administração da empresa alegaram tratar-se de um problema político, pelo que não encontram espaço para negociar com o autor da medida, no Caso Venâncio Mondlane. A mesma sugere que deve haver uma solução política.
“A REVIMO é uma empresa privada. O problema que estamos vivendo em Moçambique é um problema político, tem que ser resolvido por políticos. Não vai a REVIMO sentar com um actor político para resolver este problema”, disse a fonte, preferindo não ser identificada.
O nosso entrevistado explica que a empresa tem um contrato de concessão de alguns troços da Estrada Circular de Maputo com o Governo de Moçambique, razão pela qual não se vê a negociar com Venâncio Mondlane.
Aliás, refere não haver este espaço e dúvida que o autoproclamado presidente do povo negociaria porque usa as portagens como trunfo para o problema político que enfrenta actualmente.
“Há um problema político, legítimo ou não, eu não quero entrar nessa discussão, mas há um actor político que toma o assunto das portagens como a parte mais visível da coisa. O assunto das portagens acabou sendo usado como trunfo”, comentou a fonte.
“Chapeiros” considerados agitadores mesmo com tarifas especiais
A nossa fonte revelou que os automobilistas dos transportes de passageiros, vulgo “chapeiros” são tidos como os principais fomentadores dos tumultos que se têm assistido nas portagens da circular, com destaque para as da zona da Katembe e a da Costa do Sol.
Segundo foi-nos revelado, a direcção da REVIMO não compreende a atitude dos chapeiros, uma vez que os que operam na Estrada Circular de Maputo, devidamente licenciados, têm uma tarifa especial. Pagam, nas portagens, apenas dez meticais por cada viagem contra os 40 pagos pelos automobilistas, “comuns”, de viaturas ligeiras que circulam naquela via. Além disso, houve negociações entre a empresa concessionária e os “chapeiros”, antes da retoma das cobranças.
“O transportador semi-colectivo paga dez meticais na portagem, e quando paga os dez meticais numa portagem, não paga noutra, é este indivíduo que não quer pagar, é este que cria agitação nas portagens. Por qual argumento este agora não quer pagar nada”, questionam.
Diante disso, comenta-se que se o transportador semi-colectivo não fizesse o pagamento das portagens, o justo seria o passageiro reclamar o preço do “chapa”.
“Imagine que os próprios passageiros também apanhem o seu transporte e digam, o país é nosso, nós não queremos pagar chapa. O próprio passageiro devia exigir a redução da tarifa de chapa porque na tarifa de chapa está incorporado o custo de portagem”, comentou a fonte.
Direcção da REVIMO inicia cobranças, mas não aparece publicamente por medo das “visitas”
Desde que iniciaram as manifestações pós-eleitorais, os indivíduos que aparecem publicamente a comentar algo contrário ao que Venâncio Mondlane fala recebe ameaças, existem casos de indivíduos, que foram espancados e tiveram os seus bens destruídos. É por essa razão que a direcção da REVIMO actualmente não aparece publicamente a falar do problema que enfrenta.
“Este não é o melhor momento para estarmos aqui a falar nem a aparecer a explicar estas situações, exactamente porque há um actor político que convocou as manifestações e qualquer indivíduo que for a dar nas caras para poder explicar independentemente do assunto, esta pessoa pode depois sofrer represálias”, explicou a nossa fonte.
“Ter alguém da REVIMO a dar nas caras para contrariar aquilo que um determinado actor político falou é se puder considerar, é matar esta pessoa, é colocar esta pessoa em guerra pública”, acrescentou.
Contudo, avançou que a instituição desde que as manifestações iniciaram já somou danos avaliados em pelo menos 600 milhões de meticais. O valor resulta de cálculos preliminares, com a situação dos últimos dias espera-se que o valor se multiplicou.
“Não vamos olhar só para a perda pela não cobrança das portagens, vamos olhar para a infraestrutura, porque a REVIMO não são portagens, a REVIMO é a infraestrutura concessionada. Portanto, o maior prejuízo que a REVIMO somou com as manifestações é da danificação da infraestrutura”, comentou.
O que é a REVIMO e de quem é?
Fundada em Setembro de 2018, no Cartório Notarial Privativo do Ministério da Economia e Finanças, a REVIMO é uma empresa privada de capital público, ela é actualmente detida pelo Fundo de Estradas com 68 por cento, a KUHANHA, fundo de pensão do Banco de Moçambique, e o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), sendo que cada um tem cerca de 14 por cento.
Conta-se que sua criação foi uma tentativa de mobilizar capitais públicos e privados para a gestão das infraestruturas rodoviárias.
Actualmente a concessionária possui 16 portagens espalhadas nas províncias de Sofala, Manica, Gaza, Maputo-Cidade e Maputo-Província.
Para além da Estrada Circular de Maputo ela gere a Estrada Nacional n. º6, ligando Beira e Machipanda, na fronteira com o Zimbabué, as estradas Macia — Praia de Bilene, Macia — Chókwè, e Chókwè — Macarretane. (Ekibal Seda)