Em teoria, essa flexibilização monetária deveria tornar o crédito mais acessível para empresas e consumidores. No entanto, na prática, os bancos comerciais continuam a praticar taxas de juro elevadas, sugerindo uma fraca transmissão da política monetária para o sector bancário e para a economia real.
Sector bancário pode considerar que a redução das taxas de juro e das reservas obrigatórias não reduz suficientemente os riscos associados à concessão de crédito. Moçambique enfrenta desafios macroeconómicos como inflação, instabilidade cambial e alto risco de crédito, factores que incentivam os bancos a manterem margens de segurança elevadas para proteger sua rentabilidade.
A estrutura do mercado financeiro moçambicano é altamente concentrada, com poucas instituições dominando o sector. Isso reduz a pressão competitiva sobre os bancos para baixarem as taxas de juro, permitindo que mantenham spreads elevados sem perder participação de mercado.
A liquidez adicional gerada pela redução das reservas obrigatórias pode não estar sendo canalizada para crédito comercial, mas sim para alternativas mais seguras e lucrativas para os bancos, como títulos da dívida pública. Essa dinâmica reduz o impacto esperado da política monetária na economia produtiva.
A manutenção de taxas de juro elevadas encarece o crédito, tornando-o inacessível para muitas empresas e particulares. Esse cenário dificulta investimentos produtivos e restringe o consumo, limitando a capacidade de crescimento económico do país.
A discrepância entre a política do Banco de Moçambique e a prática dos bancos comerciais sugere desafios estruturais no sector financeiro. Para que as reduções na taxa MIMO se traduzam em crédito mais barato, pode ser necessário:
- Aumento da concorrência bancária, incentivando a entrada de novos players no mercado;
- Melhoria do ambiente de negócios, reduzindo riscos para que os bancos se sintam mais seguros para conceder crédito;
- Estratégias para reduzir o risco de crédito, como mecanismos mais eficazes de avaliação de risco e garantias.
Sem essas reformas, os esforços do Banco Central podem continuar a ter um impacto limitado na economia real, mantendo o crédito caro e dificultando a recuperação económica do país. (Nando Mabica)