Localizado na região Sul ou austral do continente africano e banhado pelo oceano Índico, Moçambique tornou-se independente do Portugal a 25 de Junho de 1975. Logo da sua existência como Estado Moçambique adoptou o sistema monopartidário o que causou uma guerra civil que durou 16 anos (1976 a 1992) entre o regime da FRELIMO e RENAMO, como uma das consequências dessa guerra o país aprovou uma nova Constituição em 1990 que culminou com a mudança de nome oficial do país da “República Popular de Moçambique” para “República de Moçambique” e introdução do sistema multipartidário e pluralismo de expressão.
No entanto, o fim da guerra civil entre o governo da FRELIMO e RENAMO em 1992 com assinatura do acordo de Roma entre Joaquim Alberto Chissano, Presidente da República e da Frelimo na altura e Afonso Dhlakama (da RENAMO) que foi antecedida por negociações políticas e militares entre as partes e introdução do sistema multipartidário em 1990 não ditou o fim das injustiças sociais, silenciamento (por meio de assassinatos ou perseguição política usando órgãos de administração da justiça) de vozes críticas do partido no poder, exclusão social (com base nas crenças ideológicas e políticas de cidadãos), burguesia política e economia, denegação da vontade popular expressa nas urnas, etc. Talvez seja por conta da perpetuação das injustiças sociais que o povo moçambicano perdeu medo e levantou contra a violação de seus direitos e liberdades fundamentais, talvez seja isso que esteja a contribuir ou influenciar para termos Moçambique que temos desde 2023.
O Moçambique que temos desde 2023 não é culpa do Venâncio Mondlane como está se tentando transmitir, o que estamos vivendo hoje é consequência da má governação, da violação de direitos humanos por parte de das autoridades governamentais, da corrupção nas instituições públicas com enfoque para a Assembleia da República, Presidência da República, Conselho Constitucional, Comissão Nacional de Eleições, Tribunais Judiciários, PRM, PGR, FADM, SISE, etc.
A negociação e denegação do direito a manifestação e reunião pela PRM para cidadãos que não são do partido no poder, o envolvimento de agentes da PRM no assassinato de cidadãos indefesos, o envolvimento de magistrados na corrupção e sua indiferença face assassinatos de cidadãos indefesos nas manifestações, o envolvimento de altos dirigentes do SISE no escândalo das dívidas ocultas e a legalização das mesmas dívidas pela Assembleia da República e não só, também envolvimento de deputados da Assembleia da República no tráfico de drogas que investigações ou relatórios internacionais associam a presidência da república de Moçambique com esse crime organizado, etc, não foram orquestrados ou liderados por Venâncio Mondlane.
Mondlane apenas não compactua com a corrupção e/ou negociadas políticas e o povo moçambicano acredita nele, Venâncio é aquele filho que cresceu assistindo pai violentando sua mãe e seus irmãos. É aquele rapaz que aceitou viver injustiças apesar da sua rebeldia para estudar melhor o regime, é um rapaz que motivou os moçambicanos a ganhar coragem de lutar pelos seus direitos e expôs todas as manobras ditatoriais do partido no poder ao nível nacional e internacional.
Como o país Moçambique é assustador, as notícias que circulam pelo mundo desde a morte do rapper Azagaia não são boas. São mortes acima de mortes, são detenções arbitrárias acima de detenções arbitrárias, são desaparecimentos forçados acima de desaparecimentos forçados, são valas comuns acima de valas comuns, etc.
A insegurança aumentou mais para quem quer ser livre nos seus pensamentos, uma armadilha para quem acredita nas leis, um inferno para quem nasceu numa família pobre e ousa superar as barreiras políticas, sociais, culturais, económicas, etc, impostas pelos detentores do poder, um campo de guerra para cidadãos indefesos que ousam exigir seus direitos, um alto mar para quem tenta conhecer e sabê-lo, um matador para os detentores do poder, um cemitério para os ricos que só o pensam no dia de seu enterro.
Talvez seja por isso que o povo moçambicano está se revoltando contra as portagens, talvez seja isso que esteja a levantar o povo para vandalizar e incendiar bens públicos e privados. Talvez o povo moçambicano queira romper de vez o ciclo vicioso de violação de direitos humanos e liberdades fundamentais por parte de quem deve proteger os mesmos.
Mas a verdade seja dita, o Moçambique que estamos construindo desde 2023 orgulhará a geração vindoura, é só questão de tempo. (Alberto Zibóia)