Segundo Rui Silva, o facto de Chapo não abordar o “meio-ambiente” não elimina a possibilidade de este tema estar presente na agenda do governo. Moçambique, como um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas, não pode negligenciar a gestão ambiental. “Para mim, mais importante do que, de facto, o discurso de investidura do Presidente da República, mais importante é ver as intenções”, afirmou, destacando que discursos são muitas vezes limitados pela necessidade de priorizar certos tópicos em detrimento de outros.
A ausência de políticas ambientais claras no discurso de investidura reflecte um padrão já observado durante o período eleitoral, onde a matriz ambiental também não foi enfatizada no manifesto eleitoral de Daniel Chapo e de seu partido. Ainda assim, Rui Silva mantém a confiança de que, pela realidade climática do país, o governo será obrigado a priorizar esta área.
Moçambique enfrenta desafios críticos relacionados à gestão de resíduos, exploração de recursos e educação ambiental. Para Rui Silva, a eliminação das lixeiras a céu-aberto deveria ser uma prioridade nacional. Este considera inadmissível que, em pleno século XXI, estas práticas persistam, comprometendo tanto a saúde pública quanto a imagem do país no cenário internacional.
A questão da educação ambiental foi outro ponto levantado pelo ambientalista, que sugeriu a introdução de uma disciplina obrigatória nas escolas primárias. Este, acredita que as crianças podem ser catalisadoras de mudança, influenciando positivamente as suas famílias e comunidades. “A educação ambiental nas escolas é um passo fundamental para criar uma cultura de sustentabilidade no futuro”, defendeu.
Outro desafio importante é a falta de iniciativas consistentes para a separação selectiva de resíduos. Rui Silva explicou que mudanças simples, como a separação do lixo em húmido e seco, podem trazer impactos significativos na redução da poluição e na valorização do trabalho de catadores, que desempenham um papel essencial na cadeia de reciclagem no país.
Embora reconheça avanços pontuais, especialmente ao nível autárquico, Rui Silva ressalta que ainda há muito por fazer. Maputo, por exemplo, tem registado algumas iniciativas de gestão de resíduos, mas estas ainda são insuficientes para atender às necessidades da capital. Destaca que as autarquias devem complementar os esforços do governo central na implementação de políticas ambientais.
Uma análise comparativa entre o mandato anterior e o actual revela que, no que diz respeito ao meio-ambiente, o principal foco não deve ser apenas em evitar a repetição de erros, mas em fortalecer áreas críticas, como a fiscalização. A exploração de recursos naturais e a gestão de resíduos continuam a ser pontos nevrálgicos que exigem investimentos mais assertivos e estratégicos.
Embora o meio-ambiente não tenha sido mencionado no discurso de investidura do Presidente, isso não implica falta necessariamente de prioridade. Como destacou Rui Silva, a existência de um ministério que integra questões ambientais demonstra que há, pelo menos, uma base institucional para tratar da agenda ambiental.
O impacto das alterações climáticas em Moçambique, sendo um dos países mais afectados e menos poluentes, obriga a administração pública a integrar políticas ambientais em todos os sectores.
Durante a entrevista, Rui Silva destacou a importância de manter uma estrutura governamental dedicada à gestão ambiental. Este relembrou períodos em que o Ministério do Ambiente foi extinto, o que considerou um retrocesso grave. Hoje, embora a pasta do ambiente esteja integrada a um ministério maior, a sua existência é um sinal de compromisso do governo. (Bendito Nascimento)