O economista Egas Daniel, em análise para o Integrity Magazine, sublinhou que o sucesso do banco depende de uma estrutura sólida, compromissos claros e recursos adequados desde o início, alertando contra os erros que marcaram a trajectória do Banco Nacional de Investimento (BNI).
O BDM surge como uma resposta à necessidade de um instrumento financeiro robusto para financiar projectos estratégicos e promover investimentos produtivos. No entanto, para Egas Daniel, essa não deve ser apenas mais uma estrutura formal. O banco precisa nascer com objectivos claros e uma base financeira forte para cumprir seu papel de motor do desenvolvimento. “A sua criação não pode ser uma mera criação, uma mera estrutura, um mero edifício e um mero grupo de pessoas reunidas”, alertou.
O histórico do Banco Nacional de Investimento oferece lições importantes para Daniel. Criado com o objectivo de impulsionar investimentos, o BNI enfrentou obstáculos significativos devido à falta de apoio do governo. A ausência de capitalização adequada e a exclusão do banco como veículo de financiamento para fundos estratégicos limitaram sua actuação. Como resultado, o BNI teve que se ajustar a condições adversas e competir com bancos comerciais em desvantagem, uma situação que deve ser evitada com o BDM.
“O banco teve que se virar. Não captar depósitos, como os outros bancos comerciais fazem, mas, ao mesmo tempo, ter que concorrer com os bancos comerciais na perspectiva de financiar diferentes tipos de investimentos”, lembrou.
Além disso, os fundos destinados ao sector privado, agricultura e indústria não foram canalizados para o BNI. Essa falta de integração entre os instrumentos financeiros e os objectivos de desenvolvimento foi uma das principais falhas apontadas. Para o economista, o novo banco deve corrigir esse tipo de desarticulação e garantir que os recursos disponíveis sejam direccionados de forma estratégica. “O que tem que se evitar é construir o mal pela raiz, é logo no surgimento do Banco do Desenvolvimento.”
Outro aspecto destacado é a necessidade de um compromisso governamental sólido com o BDM. O Estado deve assumir sua responsabilidade na capitalização do banco e garantir que ele esteja alinhado às prioridades de desenvolvimento nacional. Sem esse compromisso, o risco de o BDM enfrentar os mesmos desafios do BNI é elevado, colocando em xeque sua viabilidade como agente de transformação económica.
Um dos maiores desafios será manter o foco do BDM no seu propósito principal. Historicamente, para o economista, instituições criadas com intenções específicas muitas vezes se desviam de seus objectivos iniciais no país, tornando-se estruturas voltadas para interesses que nem sempre estão alinhados às necessidades do país.
“O Estado tem que estar comprometido em colocar os seus recursos de desenvolvimento neste banco, acreditando que a sua estrutura de governação vai ser fiel às necessidades e prioridades de investimento para o desenvolvimento de Moçambique.”
Apesar das dificuldades enfrentadas, o BNI acumulou experiências que podem ser valiosas para o novo banco. Algumas práticas desenvolvidas ao longo de sua trajectória demonstraram a capacidade de adaptação da instituição em um ambiente hostil. Para Egas Daniel, aproveitar essas lições será fundamental para o sucesso do BDM, tanto para evitar erros quanto para replicar estratégias eficazes.
“Para não se perder a linha logo no início e ser difícil recuperar no meio do caminho. Além de ser banco de desenvolvimento, começa a virar outro banco, banco de qualquer outra coisa, mas não de desenvolvimento”, brincou Daniel.
Em última análise, o economista alerta que, o BDM não pode ser vulnerável a interferências políticas. Garantir sua independência e transparência será fundamental para que ele cumpra sua missão de maneira eficaz. Um banco de desenvolvimento que se torne um instrumento de interesses partidários corre o risco de perder credibilidade e relevância. (INTEGRITY)