Durante uma entrevista à Integrity Magazine, Yassine apontou várias fragilidades na política anterior e recomendou caminhos estratégicos que o governo de Daniel Chapo deveria explorar para maximizar os interesses nacionais.
Yassine começa por criticar a incapacidade de Moçambique em tirar proveito das suas participações em fóruns internacionais e em influenciar parceiros estratégicos para fortalecer a economia do país. “Houve situações em que Moçambique não obteve ganhos visíveis da sua presença em alguns fóruns internacionais”, afirmou, alertando que por conta disso, perdeu também a capacidade de influenciar parceiros fundamentais para aquilo que é a sua própria economia.
O especialista destacou a emergência do Médio Oriente como um centro económico global em detrimento do chamado da Europa, o chamado “velho continente”. Segundo este, o governo anterior, de Filipe Nyusi, falhou em não criar uma política clara de aproximação a esta região estratégica, que concentra vastos recursos financeiros e oportunidades de financiamento a longo prazo com taxas de juro acessíveis.
Para Yassine, a nova política externa de Moçambique deve priorizar o Médio Oriente, investindo na presença diplomática em países como Turquia, Irão, Bahrein e Omã. “Esses são corredores fundamentais para o acesso a recursos financeiros que podem transformar a economia moçambicana”, defendeu.
Outro ponto crítico foi a qualidade dos representantes moçambicanos no exterior. Yassine sugeriu que o governo precisa reformular as embaixadas, seleccionando diplomatas mais preparados e atentos às especificidades culturais e económicas dos países-alvo. “Sem uma representação adequada, Moçambique continuará a desperdiçar oportunidades de parcerias estratégicas”, alertou.
Comentando a continuidade da ministra dos Negócios Estrangeiros, Yassine reconheceu a sua experiência interna, mas destacou que a visibilidade internacional da figura é limitada. “Ela precisará de acções robustas, claras e incisivas para aquilo que é o interesse de Moçambique”, afirmou, enfatizando a urgência de uma abordagem mais dinâmica e orientada para resultados.
A análise também trouxe reflexões sobre o desempenho de Moçambique no Conselho de Segurança das Nações Unidas, durante o mandato anterior. Para Yassine, o país não conseguiu alcançar os objectivos traçados inicialmente, o que reforça a necessidade de repensar as estratégias internacionais.
Yassine foi enfático ao sugerir que Moçambique deve abandonar a dependência excessiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que oferecem recursos financeiros a curto prazo e com juros elevados. “É preciso buscar alternativas no Médio Oriente, onde há economias estáveis e dispostas a financiar projectos com taxas mais favoráveis”, reforçou.
O especialista também alertou para a repetição de erros passados, como o alinhamento automático aos interesses de grandes potências sem contrapartidas significativas para o país. Segundo este, a política internacional deve ser guiada pelo interesse nacional e pela busca de economias reais que possam beneficiar Moçambique.
Portanto, durante o discurso de investidura do presidente Daniel Chapo, no dia 15 de Janeiro, foi anunciado pelo mesmo, o compromisso de ajustar a política externa para consolidar conquistas e enfrentar novos desafios. Chapo prometeu reforçar a cooperação internacional, destacando o papel da SADC, União Africana, CPLP e outras organizações multilaterais.
Contudo, Yassine observou que o discurso presidencial precisa ser complementado por acções concretas, especialmente no Médio Oriente, que continua fora do radar estratégico do governo. Países como a Turquia, Irão e Bahrein são cruciais para estabelecer relações comerciais sólidas e duradouras.
O especialista fez questão de sublinhar que a mudança de paradigma não implica ignorar completamente os parceiros tradicionais, mas diversificar as alianças e aproveitar melhor os novos centros económicos globais. “Moçambique precisa de uma política externa que reflicta as suas reais necessidades económicas e sociais”, afirmou.
A expectativa é que o governo de Chapo rompa com práticas obsoletas e aposte em abordagens inovadoras e pragmáticas. Para Yassine, o sucesso da política externa dependerá da capacidade de implementação das recomendações estratégicas apresentadas, especialmente no que toca à inserção de Moçambique no Médio Oriente. E ainda reforça que, a geopolítica global está em constante transformação e que Moçambique não pode se dar ao luxo de permanecer estagnado. (Bendito Nascimento)