Durante a sua intervenção ao Integrity Magazine, Manhiça enfatizou que o foco da Ordem dos Médicos está nas acções concretas que serão realizadas ao longo do mandato e não apenas nas promessas anunciadas.
“Não vou me concentrar muito naquilo que são as propostas colocadas; vou me concentrar sim nas realizações que são feitas ao longo dos tempos”, afirmou.
Manhiça destacou as graves dificuldades enfrentadas pelos pacientes e profissionais de saúde nos hospitais públicos, que têm sido palco de denúncias constantes de precariedade. Este, mencionou a falta de medicamentos, materiais cirúrgicos, lençóis, camas adequadas, materiais de higiene e condições básicas de funcionamento.
“Que sejam normalizadas todas as dificuldades que os nossos pacientes têm enfrentado ao nível dos hospitais públicos. A falta de medicamentos, a falta de material cirúrgico e dos soros, a falta de todas as condições para que o doente se sinta confortável. Os lençóis, as camas, o material de higiene, as casas de banho que fiquem todas resolvidas”, apelou.
O bastonário também destacou a precariedade no apoio aos profissionais de saúde, especialmente no que diz respeito à formação e à falta de condições de trabalho. “É essencial que as condições de assistência e de formação dos médicos especializados sejam optimizadas. Esta é a nossa expectativa”, explicou.
Uma das questões mais sensíveis levantadas por Manhiça foi a divulgação de informações que, segundo ele, não reflectem a realidade nos hospitais públicos. “Frequentemente, ouve-se nos médias que nos hospitais públicos tudo está em condições, mas essa não é a realidade. Quando isso acontece, é como se os próprios doentes fossem estúpidos, o que não são. Não é preciso ir a uma academia para perceber que não há atendimento de qualidade, que os lençóis não são trocados”, afirmou.
Ainda, criticou a responsabilização implícita dos médicos pela falta de condições nos hospitais. “Quando se diz que tudo está em todas as condições tão apropriadas, o que se está dizendo, por outro lado, é que é da responsabilidade do médico a não implementação e a não uso desses meios que acaba dando nos resultados que tem estado a ocorrer. Ora, isso atenta contra o bom-nome do médico, e nós estamos mais do que dispostos a trabalhar para que com as autoridades possam ser criadas as melhorias graduais mais necessárias para nós termos uma normalidade na qualidade de assistência que isso oferece ao povo moçambicano”, frisou.
O discurso de investidura de Daniel Chapo trouxe promessas de melhorias significativas no sector da saúde, incluindo a reestruturação do sistema, o investimento nos profissionais e a devolução da dignidade ao atendimento público. No entanto, Gilberto Manhiça mostrou-se cauteloso.
“Já tive várias conversas com várias pessoas, e o que achamos é que não importa tanto o que se diz no primeiro dia, mas sim o que se faz ao longo do mandato. Queremos ver mês após mês um balanço das realizações e daquilo que foram as propostas colocadas”, reiterou.
No entanto, para Manhiça, essas palavras só terão valor se forem traduzidas em acções concretas e duradouras. O novo governo enfrentará o desafio de responder a um sistema de saúde em crise, enquanto tenta restaurar a confiança dos profissionais e da população, que há anos clamam por mudanças efectivas e sustentáveis.
Contudo, Manhiça e os seus colegas, podem esperar que o governo de Daniel Chapo aborde com seriedade as reivindicações dos profissionais de saúde, que, durante o mandato anterior, protagonizaram greves e manifestações devido às condições precárias de trabalho. Entre as principais queixas estavam a falta de medicamentos, camas, ambulâncias, equipamentos de protecção individual e o não-pagamento de horas-extras. (Bendito Nascimento)