Maldita manhã desta Quinta-feira,
em que o sol nasceu tímido,
e o dia, pesado, trouxe consigo
a notícia que destroçou meu peito.
Arlindo Chissale, companheiro das trincheiras,
hoje jaz, silenciado,
não pelo cansaço da vida,
mas pela mão fria de um regime.
Um regime que transforma pensamento em crime,
que teme a força da palavra,
e faz da diferença
um motivo para matar.
Mataram Chissale porque ousou pensar,
porque não se curvou à maré imposta.
Maldito meu belo país,
onde a liberdade é enterrada
junto aos corpos dos que sonham.
Até quando, meu Deus,
o sangue continuará a manchar esta terra,
uma terra sem mais espaço
para enterrar os mortos
dos que pensaram diferente?
Chissale não ergueu armas,
não espalhou ódio,
não cometeu outro pecado
se não o de ser livre no pensamento.
Quantos Chissales mais serão calados?
Quantas mães chorarão seus filhos?
Quantas gotas de lágrimas ainda cairão
nos olhos já secos pela dor da perda?
Gente cujo único pecado
é simplesmente o pensar oposto…
Até quando?
Até quando?
Pergunto eu, até quando…?
Ah, meu Deus,
por que o pensar diferente é sentença?
Até quando, até quando…
O grito ecoa,
mas o silêncio imposto é surdo.
Chissale vive na luta,
nos versos que escrevo,
no luto que carrego.
Que sua memória seja semente,
e não só mais um nome
apagado pelo medo.
Arlindo Chissale, que sua alma encontre eterno descanso.
Ufff…