“Eu também ouvi dizer desses contactos, mas esse amigo comum ainda não me contactou. Tenho certeza que este amigo comum vai contactar e, a partir daí, vamos saber qual é a mensagem e, em função dessa mensagem, vamos trabalhar para pacificar o país”, afirmou Chapo sobre o contacto em comum.
Essa posição, portanto, foi em resposta ao pronunciamento de Venâncio Mondlane no jornal norte-americano The New York Times, de que estava em comunicação com o novo Presidente da República, sem dar muitos detalhes, afirmando que esses contactos foram feitos “por meio de um amigo mútuo” e expressando a esperança de que Chapo negocie uma resolução para o fim da crise política e aceite as suas reformas.
Durante uma entrevista exclusiva à CNN Portugal, Chapo comentou sobre as 25 medidas propostas por Mondlane, rejeitando algumas delas como impraticáveis e controversas, especialmente a ideia de implementar a chamada “lei do talião”.
Entre as propostas de Mondlane, a “lei do talião” gerou reacções contundentes de Chapo, que classificou a ideia como inconcebível para qualquer indivíduo com “inteligência média”. Esta medida sugere que a população retalie actos de violência cometidos pelas forças de segurança.
“Uma das medidas é: morre um moçambicano, então morre também um polícia. A população está orientada a matar polícias. Não sei se isso faz sentido para um homem de inteligência média”, declarou o Presidente, reforçando que tais medidas eram inconcebíveis.
Mondlane havia apresentado as 25 medidas como parte de uma proposta para resolver a crise política e social que afecta o país desde o período eleitoral, que já resultou em mais de 300 mortes em confrontos.
Chapo deixou claro que as decisões do governo não serão tomadas com base em pressões externas ou ultimatos. “A implementação das medidas não vem do senhor Venâncio Mondlane. Isso tem de ficar muito claro”, afirmou. Também destacou que o governo está focado em avaliar os danos causados pelas manifestações e em formular um plano nacional de recuperação.
“Estamos a fazer o levantamento dos prejuízos, que foram causados pelas manifestações. Esses prejuízos, a nível nacional, vão permitir-nos fazer um plano de recuperação económica”, explicou o Presidente.
Mondlane defendeu publicamente medidas que incluem a libertação de presos políticos, redução do custo de vida, combate à corrupção, assistência médica gratuita para vítimas de violência e compensações financeiras para famílias afectadas. Algumas das propostas incluem:
Fim imediato da violência contra a população; libertação de cerca de 4 mil presos políticos; compensação de 200 mil meticais às famílias de vítimas da violência; redução do preço do cimento e isenção de IVA para produtos básicos; suspensão de projectos ambientais prejudiciais e redução de 50% na tarifa de energia eléctrica.
Durante a entrevista, Chapo também abordou as relações diplomáticas com Portugal, refutando a ideia de que a ausência do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa na sua posse representaria um desinteresse do governo português. “Não, não, não. Senti que foi a presença da primeira linha. As nossas relações com Portugal continuam intactas”, afirmou.
O Presidente também elogiou a ligação feita pelo primeiro-ministro português, para felicitar-lhe pela eleição e oferecer apoio ao processo de diálogo e pacificação do país.
Contudo, Mondlane afirmou que, caso suas medidas não sejam implementadas, ele incentivará a população a voltar às ruas e pretende publicar as medidas em decreto nesta semana visando conferir maior legitimidade às suas propostas. (Bendito Nascimento)