A decisão foi oficializada pelo Gabinete de Segurança de Israel na madrugada deste sábado (18 de Janeiro), após uma longa reunião que se estendeu por cerca de seis horas. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, confirmou que o acordo foi alcançado com base em critérios políticos, de segurança e humanitários.
Um acordo negociado sob pressão internacional
O entendimento é fruto de meses de negociações mediadas pelo Catar, com apoio dos Estados Unidos e de outros parceiros internacionais. Durante o anúncio, Netanyahu destacou que o presidente norte-americano, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump garantiram apoio à decisão, enquanto prometeram pressionar o Hamas para manter a trégua e liberar todos os reféns capturados durante o conflito.
A proposta foi aprovada por maioria simples no gabinete de segurança israelita, mas não sem controvérsias. Ministros mais alinhados à ala conservadora expressaram reservas sobre o impacto do cessar-fogo na segurança nacional de Israel.
Os termos do acordo
O cessar-fogo será implementado em três fases, com a primeira a vigorar por seis semanas. Durante este período, tanto Israel quanto o Hamas se comprometeram a suspender ataques e facilitar a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, onde a infraestrutura básica foi praticamente destruída pelos bombardeamentos.
Além disso, o Hamas deverá libertar 33 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos capturados durante os ataques de 7 de outubro de 2023. Em troca, Israel comprometeu-se a libertar 95 prisioneiros palestinos, entre eles 70 mulheres, 25 homens e 10 menores de idade, com idades entre 16 e 18 anos.
A libertação será feita de forma gradual, sendo três reféns entregues no primeiro dia e os restantes em fases subsequentes. Da mesma forma, a soltura dos presos palestinos será realizada em lotes ao longo das semanas seguintes.
Crise humanitária atinge níveis alarmantes
A guerra deixou um rastro de destruição e sofrimento na Faixa de Gaza, onde 46 mil pessoas perderam a vida, segundo dados da ONU. A crise humanitária atingiu níveis críticos, com mais de 2,4 milhões de deslocados internos, enquanto 91% da população enfrenta insegurança alimentar severa.
Antes do início do conflito, cerca de 500 camiões de ajuda humanitária entravam diariamente no território. Hoje, esse número caiu drasticamente para apenas 37. A entrada limitada de bens essenciais agravou a já precária situação das comunidades locais, que dependem de doações para sobreviver.
O Catar, um dos mediadores do acordo, anunciou que a trégua permitirá o envio de suprimentos médicos, alimentos e materiais para reconstrução de hospitais e outras infraestruturas essenciais. A reconstrução da rede eléctrica e o fornecimento de água potável também estão entre as prioridades.
Libertação de reféns
Entre os reféns a serem libertados estão crianças como Kefir Bibas, de dois anos, e Ariel Bibas, de cinco anos, cujas histórias mobilizaram a opinião pública em Israel e no exterior. As imagens das crianças, capturadas durante os ataques, tornaram-se símbolos da dor e da luta pela paz na região.
Os prisioneiros palestinos que serão soltos incluem mulheres que estavam detidas há anos sob acusações de apoio a grupos armados, bem como jovens acusados de participação em protestos contra a ocupação israelita.
Embora a troca de reféns e prisioneiros seja vista como um passo significativo, analistas alertam que a desconfiança entre as partes pode dificultar a implementação completa do acordo.
O futuro
Apesar do alívio temporário proporcionado pelo cessar-fogo, o futuro da região permanece incerto. O conflito entre Israel e o Hamas tem raízes profundas e históricas, envolvendo disputas territoriais, religiosas e políticas que há décadas impedem uma solução duradoura.
A segunda fase do acordo prevê a libertação de mais 65 reféns, enquanto a terceira depende do cumprimento de todas as condições iniciais. Especialistas temem que divergências ou novos episódios de violência possam colocar em risco o frágil entendimento.
Nos últimos meses, Israel intensificou os ataques aéreos em Gaza, enquanto o Hamas lançou centenas de foguetes contra cidades israelitas. A escalada de violência deixou milhares de civis mortos e feridos, além de destruir infraestruturas vitais como escolas, hospitais e habitações.
A ONU e organizações de direitos humanos destacaram a necessidade de uma acção coordenada para garantir a manutenção do cessar-fogo e apoiar os esforços de reconstrução. Segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, “esta trégua é uma oportunidade para aliviar o sofrimento humano e abrir espaço para negociações mais amplas de paz”.
Enquanto isso, para as famílias palestinas e israelitas que perderam entes queridos, o cessar-fogo representa mais do que um alívio momentâneo. É uma esperança de que, apesar das dificuldades, seja possível encontrar um caminho para a coexistência pacífica.
Com o cessar-fogo previsto para começar ao meio-dia de domingo, todas as atenções estarão voltadas para a região, numa expectativa cautelosa de que a trégua traga um pouco de estabilidade e permita o início de uma nova fase, ainda que incerta, de reconstrução e diálogo. (Bendito Nascimento)